segunda-feira, 23 de setembro de 2013

PANEGÍRICO À POETISA

MÔNICA SILVEIRA À JANELA*
Por Vianney Mesquita



“Em estética não há matéria pura nem impura. Por acaso, não envilece ao sublime uma forma vulgar, e vice-versa?”
Hegel


Mônica Silveira, imortal da Academia Cearense de Literatura e jornalismo, o Ceará conhece e admira. Não bastassem seu caráter, personalidade e competência profissional inquestionáveis, ela faz poesia e não apenas versos. Poeta, dizia o autor de Juca Mulato, Menotti del Picchia, é aquele que não faz apenas versos.

“Pois, tu és como Deus, Diva Poesia! Sim, tu és como o sol, por toda parte, cultos te rendem de uma zona a outra; cada mortal te oferece um culto igual a força de sua alma”.

No dizer do Visconde de Araguaya — nosso primeiro romântico — e na minha dicção também, são divas a poesia e esta Janela e a Mônica, poetisa à mancheia que faz poesia e não somente versos. “Trabalha e teima e lima e sofre e sua”, qual decassílabo português, fazendo, constantemente, insistentemente, indefinidamente, maravilhosamente verso e poesia. Este gênero literário, entre nós, só vive porque há quem o entenda e quem o faça, como a nossa, Selma Lagerlof.

Já divisara o fenomenal Júlio Diniz que nem sempre os entendidos da poesia a podem fazer, nem os que a fazem, fazem-na entendendo. Não é, evidentemente, o caso de Mônica, a Mônica deste inusitado momento   do   seu livro   Janela — o poema “Cotidiano”.

“Acorda, corre, corre, toma o coletivo...
corre, corre, toma o coletivo, morre, morre.”

Os torneios da nossa Autora são simples mas singulares, meros, entretanto inéditos em inspiração e simplicidade. Não se parece com ninguém sua poesia infantojuvenil carregada de coisas dos grandes, deleitando os pequenos e, principalmente, os grandes. Mônica Silveira, querida de todos nós aqui, felizmente está à margem do anátema que fez, aos escrevinhadores de versos, o escritor Monteiro Lobato:

— Poeta... que surrada andas tu, pobre palavra, e que longe andas do sentido íntimo, pelo abuso de te vestirem quantos por aí medem versos nos dedos para uma periódica postura nas revistas!


A poesia da Autora desta Janela, aberta à beleza da urbe e do orbe, não quer e não precisa de postura nas revistas. Por isso mesmo não necessita, também, de medir versos nos dedos. Ela é, sim, como queria Lobato, a dor.

“Dor estilizada, dor de amor, dor de saudades, dor de esperanças, dor de ilusões murchas, dor dos anseios vagos, dor da impotência, dor do inexprimível. [...] Poeta não é o malabarismo engenhoso que acepilha sonetos, embora belos. Poeta é a criatura eleita, que ressoa as mais sutis vibrações ambientes, como se toda ela, corpo e alma, fora uma harpa eólia de cordas vivas”.

Poetisa é assim, com sentimento, leveza, graça; é desta maneira, como nossa autora: doce, leda, trova não azeda, anelo utópico mas sentido, ledice doída, “toque certeiro, leve e preciso” — conforme já lhe disse o “poetíssimo” Chico Miranda, há pouco desaparecido.

É dizer o coração sem catar palavras, sem gírias e respeitoso ao vernáculo. Poeta é assim, pureza. “A poesia me quer puro”, sentenciou Antenor Nascimento Filho. Não há receita para uma boa poetisa conforme ela é. O Poeta nasce feito, mas lapida o seu veio. Sabe-se, porém, que é preciso inteligência, é necessária tranquilidade; a poesia requer sentimento.

A poesia — falou o idealista romântico Wordsworth, “é o fluxo espontâneo de poderosos sentimentos, e tem a sua origem na emoção relembrada na tranquilidade”. Isto porque nossa autora conduz poderosos sentimentos, de alma e corpo e plumas e verdade e vida e emoção relembrada na tranquilidade. É um síndeto interminável de nomes e adjetivos, vazado no sentimento de quem, como na Bíblia, vive em abundância.

O Brasil tem este Ceará, de grandes poetas da magnitude estelar da Mônica, que abre esta Janela, de excelentes poemas em verso branco e estâncias rimadas, da inconfundível progênie dos bons e de insuperável beleza, como este “Sono”, na página 10.

“Quero dormir... de quem foge da Guerra”.

Parabéns às letras de metro no Ceará pelo excepcional rebento: Janela, poemas da jornalista e acadêmica Mônica Silveira.

Deleitemo-nos com ele.


*(Modificado do original em Impressões - Estudos de Literatura e Comunicação, Fortaleza: Agora, 1989, p.39).

Vianney Mesquita é professor, filólogo, escritor, crítico literário,  e Titular da Cadeira de Nº 22 da ACLJ

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