A IMOBILIDADE
URBANA
Por Paulo Maria de Aragão (*)
Além da desmedida violência em Fortaleza, os crescimentos demográfico e
vertical desordenados resultaram na maior concentração de habitantes em espaços
diminutos. A situação agravou-se mais ainda devido ao enxame de motos que
invade ruas não planejadas para recebê-las.
É tamanho o estorvo que o espaço público “agoniza”, tendo como um dos
fatores determinantes as grandes obras verticais desvinculadas de planejamento
urbanístico. Nesse particular, parece induvidoso que o interesse público está
sendo desrespeitado pelo próprio município, a teor do que dispõe o art. 30,
VIII, CF: “promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano”.
No eterno antagonismo entre o interesse público e o interesse econômico, em
geral, prepondera este, gerando novos transtornos à vida urbana. Desse modo, erguem-se
espigões, decepam-se árvores
centenárias, são lançados ao chão prédios históricos, mutilando o princípio
da primazia do interesse coletivo, inerente à atuação municipal.
Essas edificações residenciais e não residenciais são lucrativas, mas causadoras
de tormentos às metrópoles, porque permitem o crescimento demográfico em
sentido vertical. Enfatize-se: ocupam áreas reduzidas, sem a previsão de locais
necessários ao livre fluxo de veículos e pedestres ou a estacionamentos. O
quadro se mostra mais crítico nas zonas comerciais em virtude do traçado das
ruas, avenidas e praças.
Em Fortaleza, como se não bastasse,
por dia, entram em circulação 218 novos veículos, que se adicionam aos 800 mil
existentes. Segundo estatísticas, em 2015, o espantoso número superará a casa
de um milhão, abarrotando mais ainda a malha urbana. Impõe-se, em vista disso, aplicar
medidas planejadas, compatíveis com a realidade, essenciais ao bem-estar
social.
Porém, a par de tudo isso, o Governo Federal, atendendo aos reclamos da
queda nas vendas do setor automobilístico, reduziu o IPI - imposto sobre
produtos industrializados. Não obstante, a renúncia fiscal em
nada contribuiu para os serviços necessários ao desenvolvimento da infraestrutura
urbana ou para o arrefecimento dos embaraços no trânsito.
Sem desprezar as antigas exigências do homem que o urbanista continua
precisando satisfazer, reconheça-se que o tráfego sempre exigirá maior atenção.
Assim, por não se tratar de produto imaginário, especialistas devem antever o
projeto futurista do carro voador, o Audi Shark - já
considerado profético.
Cidades crescem, e com elas avolumam-se problemas, inclusive os de
proteção ao pedestre, o mais sacrificado no contexto. Não se precisa de
empreendimentos baseados na megalomania (como o trem-bala), mas de investimentos
em transporte de massa, metrô de superfície ou subterrâneo e veículos leves
sobre trilhos (VLT). “País rico é onde o povo anda de trem, bonde e ônibus; no
país pobre, o povo anda de carro e fica parado no engarrafamento”.
Paulo Maria de Aragão
Titular da Cadeira
de nº 39 da ACL
de nº 39 da ACL
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