Por Pedro Altino Farias*
A festa
prometia. Exigia preparativos. Um jeito no cabelo, roupa inédita, sapatos.
Encontraria pessoas especiais naquela noite, portanto, deveria ser especial
também. Fora convidado por ilustre figura. Tão ilustre que nem o conhecia
pessoalmente, só de nome e ouvir falar.
Mandou lavar
o carro. Lavagem completa. Estava precisando mesmo, e ir num carango limpinho e
cheiroso fazia parte do clima.
Correu para
dar conta dos preparativos pela manhã. Aproveitou a tarde para descansar,
afinal, o embalo seria esticado, até alta madruga, talvez vendo a noite virar
dia.
Quando
chegou, todos lhe sorriram, fizeram gentilezas, mimos até. Não conhecia aquelas
pessoas, mas, aos poucos, foi se familiarizando com cada um. Uns mais bacanas,
outros mais reservados, alguns poucos chatos. Mas estava ali, e não lhe cabia
excluir esse ou aquele da roda de papo já que todos eram convidados do mesmo
anfitrião.
Depois de um
tempo estava plenamente ambientado. Uísque do bom, canapés, boa música. Mas os
sapatos apertavam-lhe os pés, a coluna doía, uma azia começou a incomodar. E
que calor!! Queixou-se a quem estava por perto desses pequenos incômodos, que
pareciam bem maiores do que eram na verdade. Mas a festa estava ótima, nem
pensar em ir embora. Muito ainda estava por vir.
De repente,
uma mensagem do anfitrião no celular lhe convocando a ir a outro lugar.
Sentiu-se impotente para negar. Saiu às pressas, conduzido por alguém que lhe
parecia familiar, sem se despedir de ninguém, e sem entender bem o que
sucedia.
Os que
ficaram sentiram sua falta. “Saiu tão cedo... No melhor da festa!!”. Ele mesmo
achava que perdera muito, mas... Quem sabe...?
Trânsito
confuso, muitas luzes. Uma breve tontura. Estaria embriagado? Sem saber ao
certo para aonde estava indo, sentiu-se leve, permitindo que agora o carro
deslizasse suave e silencioso naquela avenida sem fim.
* Pedro Altino
Farias
Titular da Cadeira Nº 16
da ACLJ
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