domingo, 22 de setembro de 2013

DISCURSO

EDIFICAÇÃO DE UM LIVRO
Por Vianney Mesquita*

Edificar uma obra, por meros que se mostrem seus teores, não constitui operação muito simples.

Trabalhado por dezenas de cabeças, duplicado número de mãos e muitas naturezas em pensamento, o livro, a despeito das facilidades da editoração moderna, sempre ensejará algo a desejar. Isto em virtude daquela heterogeneidade de operações que o tornam fruto de uma coletividade constituída pelas pessoas que carinhosamente o constituíram.

Neste passo, não sei mais asseverar se o autor, melhor expressando, a pessoa que teve a conceição intelectiva da obra, é, em real, o componente mais relevante desta complicada, custosa e dulcíssima empresa.

Há, para o alevantamento de uma obra escrita, vera convergência de forças, para, uma vez juntadas todas as pedras do casse tête, chegar-se à consecução da sua finalidade.

Pois é, meus amigos, -- muitos dos quais estudados neste volume – é neste emaranhado de ideias que, numa teia enredada de intenções que os equívocos podem se mostrar, máxime para o leitor mais apurado, como o são vocês aqui à minha frente, componentes do alto clero do nosso Vaticano acadêmico que, felizmente, é a Universidade Federal do Ceará.

É, às vezes, o viés do autor, pretensa principal figura da empreitada; são suas proposições equívocas, arrimadas em vertentes também falazes, indutoras compulsórias ao engano; é a multiplicidade de procedimentos, uns editoriais, outros plásticos, e, muitos outros, gráficos; são as incursões do autor ao original, modificando, mexendo, entrelinhando o texto, introduzindo adendas, transmudando a versão anterior.

É nesta baralhada toda que a obra enseja o registro de erros, rarissimamente nenhum, nas mais das vezes, muitos e, recorrentemente, alguns.

Muitos editores e operadores gráficos já asseveraram, e com certa razão, o autor como a pessoa que mais atrapalha a obra. Para alguns, melhor seria que as produções gráficas não tivessem autores. E estou ciente desta verdade sem sofismas.

Não fosse assim, contudo, não haveria emprego para os críticos – esses arquitetos a posteriori, que desmancham as obras e, ao remontá-las, sobram esses parafusos da capa, que a diligência e o zelo artístico do professor e acadêmico Geraldo Jesuíno da Costa retrataram na capa deste arremedo editorial que nos traz a todos a esta reunião.

Conquanto seja fato latente na execução de qualquer trabalho editorial, impende-me evidenciar a coautoria de editor, capista, revisores, gráficos, bibliotecários, digitadores, amigos e conselheiros – bons muitos, insuportáveis outros – para se poder perlustrar ínvios quanto livres caminhos, a fim de cumprir um desiderato antropológico – de a pessoa humana deixar marca por onde transita (non omnia moriar, Ovídio).

Assim é, pois, este livro, com o qual me afanei em dias às centenas e, durante milhares de horas, tiradas do descanso corporal para labor do espírito.

Ele foi preparado de sobremão, com estreme e honesto cuidado, embora, me inserindo na condição de mortal, explique, sem querer justificar, alguns lapsos que poderão estar aqui expressos. O comediante latino Terêncio defende-me: Homo sum. Humani nihil a me alienum cogito (Sou homem. E nada reputo a mim alheio do que é humano).

Se, no entanto, não logrei que este volume se compadecesse à expectativa do meu público, restou a intenção, decerto,  nobilitante, de tê-lo desejado fazer.

Jornalista Leda Maria, Professor Liberal de Castro, 
Professor Vianney Mesquita, 
Jornalista Paulo Tadeu e Professor Souto Paulino
*No lançamento de Arquiteto a posteriori, na sede da ADUFC, em Fortaleza, no dia 19 de setembro de 2013. O Professor Vianney Mesquita é Titular da Cadeira de nº 22 da ACLJ.

Nenhum comentário:

Postar um comentário