Um Romancista
Poético
Edmar Santos*
Tantos sonhos
sonhados, e desde menino trazidos guardados em cada passo andado pelas trilhas
do sertão onde nasceu. Sol, parede de taipa, mandacaru; paisagem, que paisagem!
Violão desafinado,
garganta que arranha a voz, traz canção de esperança:
/Já vou embora/
/Mas sei que vou voltar/
/amor não chora/
/Se eu volto, é pra ficar/
O coração se dividia
entre o ir e o ficar. Fala, não tinha mais, o engasgo não deixava falar. Deixou
o violão de lado, calou o lábio espremido; pegou caneta e papel e escreveu
como em gemido, conversando com sua dor:
“A verdade é que
existem dois lados de um só coração. Como uma moeda em suas duas faces. De um lado o
medo estampado, do outro a esfinge de paixão. Com ramos de louros que simbolizam vitória, mas que antes da glória, só existia solidão.
A verdade é que sem
ela não se vive. Antes dela não tinha razão, hoje com ela é perigo, mas depois,
com ela, tem canção.
A verdade é que
pouco me importava com planos ou amanhã, com saudade e solidão. Hoje, tenho
medo do medo que me dá em saber que sem ela não tenho chão.
Nada se desvia das
avalanches que deslizam inesperadamente, e nos quer embalar para o vale. O cume, onde insiste a falta de sentir, impiedoso, menos oscila; vislumbra o
descalabro do embrulho monte abaixo, em tudo misturando: neve e paixão; árvores
e certezas; vegetação e confiança... Agora tudo é um turbilhão morro abaixo.
E lá no Vale o amor;
sossegado e pacato, prestes a sentir toda a fúria desenfreada, inesperada e
traumatizante, que descartará o organizado e previsível mundinho do 'Eu'.
Ah nada... que do
nada, o nada faz, que refaz por refazer do nada, o nada trás; por querer que o
nada não fosse nada, e nada mais”. E assinou de si para si, como se a única
coisa que restasse fosse seu primeiro nome, Nélio.
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