sexta-feira, 20 de março de 2020

CRÔNICA POEMA - Caos (AA)

CAOS
Alana Alencar*

Da ausência de todo movimento externo, meu mundo inquieto, 
na espreita, procura extrair o doce substrato de cada minuto.

 Confesso que diante de tão absurda lacuna do fazer, aprendiz de tudo quanto o mundo me deve, arrisquei o “Je veux parler français”, o finalizar dos contos de Poe, 
o risco aleatório de músicas que ainda não conhecia. 
Esbarrei em Rimbaud, Lacan, Pessoa.


Troquei quadros de lugar, abri o piano, conferi zil vezes mensagens de telefone, e dormi como havia anos não dormia. Entendo que meu movimento interno precisa adaptar-se. Sento para escrever. Percebo a dificuldade de lidar com o tempo.


Coloco-me à contradição do que preciso agora, e deixo que Fito Paez repita incansáveis vezes o seu cantar diferente de tudo. Há, entre a melodia que escuto e o timbre de voz dele, algo que acende minha melancolia tão bem guardada.
  

Minha necessidade de permanecer sentada vasculhando palavras desgarradas aumenta...   minha mente babélica encharca-se de intenções kafkianas  e Schopenhauer, de longe, aponta-me o título desgraçado: As dores do Mundo. 
Paro, reflito e recuso-me a buscar o livro que tanto ameaça ferir...


O momento, pertinente à súplica, parece pesar ainda mais e não tenho escolha. 
Minha arma, subjugada à clausura, resiste como antes descrita 
(De Uma Flor Caída – Lótus
ao tumulto da solidão e arrasta-se por frases e lembranças. 
Sim... as vozes de que há vida em minha casa supera, ao longe, todo esse devaneio.

Respiro numa profunda compreensão de que tê-las tão vivas é consequência lógica 
de amá-las...

e reconheço-me enquanto parte de toda a construção. 
São filhos! ...a ordem que paira a inspirar-me longamente na condução da orquestra: 
o caos.





COMENTÁRIOS

Em tempos difíceis a poesia surge como um farol a iluminar novos rumos. Abrir novos caminhos e separar a beleza das trevas. Parabéns pela propagação do seu texto, Alana.
Júlio César Soares
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Como é bom ler Alana Alencar!!!
Karla Karenina
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O caos veio para nos ensinar a olhar para dentro de nós e para o nosso próximo, com mais atenção, carinho e compreensão! Já não tínhamos mais tempo para nada, agora temos tempo para tudo! Aproveitemos para ressignificar os momentos, refletir sobre a rotina que vivemos e, principalmente sobre o que precisamos mudar para o mundo melhorar!... a sua inquietação demonstrada em poesia, revela que estávamos precisando desse “stop!”... parabéns!
Edna
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Mais uma vez Alana nos seduz com sua escritura, moldada e verbalizada sem medo. A coragem de escrever de forma rasgada é que faz o destino dos eleitos.
Dimas Macedo



4 comentários:

  1. Em tempos difíceis a poesia surge como um farol a iluminar novos rumos. Abrir novos caminhos e separar a beleza das trevas. Parabéns pela propagação do seu texto Alana. Julio Soares

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  2. O caos veio para nos ensinar a olhar para dentro de nós e para o nosso próximo, com mais atenção, carinho e compreensão! Já não tínhamos mais tempo para nada, agora temos tempo para tudo! Aproveitemos para ressignificar os momentos, refletir sobre a rotina que vivemos e, principalmente sobre o que precisamos mudar para o mundo melhorar!... a sua inquietação demonstrada em poesia, revela que estávamos precisando desse "stop"!... parabéns!

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  3. Mais uma vez Alana nos seduz com sua escritura, moldada e verbalizada sem medo. A coragem de escrever de forma rasgada é que faz o destino dos eleitos.

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