segunda-feira, 9 de março de 2020

ARTIGO - O Fermento das Manifestações (LA)


O FERMENTO DAS
MANIFESTAÇÕES
Luciara Aragão*


A Democracia foi adotada como regime político e meio para consecução de objetivos, podendo se revelar um meio perigoso, pois sem a manutenção do espírito público cidadão, degenera numa batalha campal por interesses especiais, individuais ou de grupos. Foi assim com a força da corrupção em larga escala.

O interesse e participação dos cidadãos no processo democrático de retomada da Nação criou um universo de três componentes, a saber, o próprio cidadão, o aparato das técnicas e o domínio da comunicação. Trabalha-se para a valorização e correção dos rumos democráticos com perseverança, intensidade e racionalidade, sem que se hesite nas demonstrações de insatisfação quando dos pontos de inércia de uma democracia viciada. 

Notícias, divulgação e coordenação de manifestações, acontecem, independente das grandes mídias e da omissão dos canais televisivos.  A ausência das coberturas das grandes redes não incomoda, pois a internet é o ponto de irradiação do aval ou do descontentamento popular.

Canais como o YouTube, e um sem número de clips, fotos, gravações, elucidam, motivam e denunciam  ideias  e resultados. Esta atuação no vasto campo das comunicações concede, a cada um do povo, a impressão de partilhar uma parcela de poder, concedendo-lhe a capacidade de interferir, influenciar e modificar a realidade.

Como numa soma, os meios midiáticos podem ser visitados a qualquer momento, mantendo a atualidade da notícia e levando a troca de informações com grande velocidade e interação, cobrindo as manifestações de rua, seus ritmos, críticas e protestos.

Uma pergunta se coloca: O que pode significar este anseio por participação popular direta nos destinos do País? A observação da lógica da competição exacerbada entre os Poderes, a ausência de valores éticos e de agências reguladoras demonstra as consequências negativas e a perda do caminho. O poder constituído com os polos, apoios e ramificações tradicionais de base, superestimava a sua coesão, e isto se revelou infrutífero.

Quanto às coalizões partidárias e interesses de classe, não poucas vezes gestaram um imobilismo enfraquecedor e possíveis reações congeladas. Todas elas sintomas de mudanças que fermentam na sociedade brasileira, alterando o status quo. O povo quer ética, com mudanças.

Nessa pós-modernidade de exaltações ao individualismo, dá-se um maior valor ao êxito de cada um, levando à percepção de que as relações sociais eletivas e voluntárias, em torno de um ideário comum, vêm se identificando com o ressurgir de afinidades com a ideia de nação. Este fenômeno nacionalista, já se esboçou nos Estados Unidos, dando a este sentimento um caráter quase de religião.

A sede por referências éticas, pela manutenção da legalidade legítima, ao mesmo tempo em que personaliza a vitória individual sobre a transformação do conjunto vem eivada de esperanças. Cada manifestante é o artesão na construção de um Brasil com uma nova visão interna e externa. O espaço, em se transformando em desejo de revisão da realidade vigente. Como nos disse Balandier, multiplicamos as formas de relação por meio do universo das redes. Elas reatam e conectam, constituindo-se numa eficácia crescente, gerando, curiosamente, uma socialização lúdica, e até mesmo afetiva.



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