CARTEIRAS ESCOLARES
Totonho
Laprovítera*
Lembro demais das carteiras escolares do Colégio
Christus, onde me alfabetizei e cursei o primário. De madeira escura e
encerada, cada uma delas acomodava um par de estudantes.
Com uma leve
inclinação, o seu tampo possuía uma fenda para o repouso de lápis, e dois
recortes circulares para encaixe dos tinteiros, que no meu tempo não tinham
serventia, pois as canetas já eram esferográficas. Abaixo do tampo, existia uma
espécie de prateleira, para guardarmos livros e cadernos. O assento era
composto de réguas espaçadas e o encosto, a 90 graus, formado por uma única e
larga peça.
Curiosamente, quando nos movíamos com maior intensidade, a carteira deslizava pelo chão da sala de aula, desalinhando todo o seu conjunto.
A despeito das proibições e intimidações de severos
castigos, quase todo mundo registrava seu nome na madeira, talvez para marcar
sua existência, ou mesmo espantar o enfado das monótonas lições. Ora, ninguém gostava
de estar recolhido em uma sala, quando lá fora o sol convidava todos para
atividades mais simpáticas à infância que cópias, tabuadas ou ditados.
Daí, era esperar a Dona Núbia, com a sineta à mão,
bater a hora do recreio ou do final do dia de aula.
Ah, ia me esquecendo, em uma outra oportunidade eu
contarei sobre os ônibus do colégio, que tinham como um dos motoristas o Seu
Domingos, também técnico de futebol da gente.
COMENTÁRIO:
Maravilhosas
as memórias trazidas pelo Totonho, nesse gostoso texto. No Instituto São Pedro,
pequeno colégio na Praia de Iracema em que estudei, as “carteiras” eram semelhantes às fielmente descritas pelo nobre confrade.
Como estudava no turno da tarde, era comum encontrarmos, na prateleira abaixo do tampo principal, objetos esquecidos pelos alunos da manhã, assim como eles certamente encontravam o que havíamos esquecido na tarde anterior. E havia sempre a expectativa diária de achar algo.
Os
mais honestos e probos para entregar o achado à direção da escola, e assim
auferir algum prestígio, enquanto que os menos dados à honestidade intentavam
apoderar-se de alguma “valiosa” res
nullius ou derelicta.
Adriano
Vasconcelos
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