quarta-feira, 1 de abril de 2020

ARTIGO - Ser Conservador - Um Ponto de Vista (LA)


SER CONSERVADOR
UM PONTO DE VISTA
Luciara Aragão*



O pensamento político conservador sempre desperta receios. Em países com democracia de frágeis raízes e mercados oscilantes pensa-se na falsa relação que possa existir entre ele, o autoritarismo e a ausência das liberdades individuais.

Sem dúvida, trata-se de um equívoco. Ser conservador é preservar a liberdade cidadã e a garantia e vigor constitucional, tendo como base as tradições democráticas ausentes de autoritarismo ou de supressão das liberdades do indivíduo. Trata-se da construção pelos homens, destinado ao próprio homem, de um legado pleno de tradição e humanismo.

Temos entre nós algumas décadas de tentativas de exilar o pensamento conservador confundindo-o, às vezes, propositadamente, com anacronismos e reacionarismos. Parecemos esquecer que a gênese do conservadorismo se opõe a injustiças e teima em preservar as instituições que abrigam as boas regras de convivência que passam pela negociação e que estejam ausentes da violência.

Neste momento, necessitamos de um pensamento conservador genuinamente brasileiro. Ressuscitá-lo não é uma tarefa impossível. Basta visitar, no tempo da memória, a História do Brasil no Século XIX, pleno de vigor intelectual e da robustez política. Esta revisitação histórica de um passado de brilho deve conduzir a um caminho das mesmas responsabilidades, em seus significados e símbolos.

Isto nos leva a sensação de pertencer a uma tradição e nos promove a herdeiros de um legado. Tivemos um Partido Conservador Brasileiro no período imperial, seguindo-se ao Partido Restaurador. Ele nos guardou, como movimento, as tradições brasileiras como a herança luso-ibérica em suas raízes, com receptividade a herança greco-romana e cristã.

Concorde sociólogas como Ângela Alonso, o Brasil é um país muito conservador que não muda fácil e nem rápido. Sem dúvida, temos um país com uma opinião conservadora majoritária, mas esquecida do hábito de que a democracia pede uma opinião popular. A elite recente mandante no Brasil, sempre teve o cuidado de escolher candidatos distantes da visão conservadora, boicotando o debate público.

Parece-me que os opositores do conservadorismo nunca tiveram representação popular. Uma elite se fazia representante dos menos favorecidos, escolhendo todos os candidatos de esquerda com slogans e propagandas a partir de uma educação artificial e direcionada, onde nas Universidades, o ponto de vista discordante  foi muito raramente contemplado em monografias e teses e ostracismo do orientadores ousados.

Neste momento de indizível interesse pelas ideias conservadoras o conservadorismo precisa ser estudado em suas ideias técnicas e práticas como nos diz Roger Scruton no prefácio do seu livro Como ser um conservador da editora Record, 2017: “o conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa mediana compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas”.  Esta é uma das lições de século findo.



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