Outro Bicho
Edmar Santos*
Lá pelas bandas da década
de 40, Manuel Bandeira (1886-1968) escreveu um
poema, cujo título era “O Bicho”. Pois bem, trazia ele uma visão espantada de
um ser que causou perplexidade pela forma com que interagia com o ambiente lúgubre
do lixo; só após bem olhar, conseguiu por Deus ser admirado, distinguindo-o de um
gato e de um rato, concluir ser aquele bicho um pobre homem moribundo.
Outro dia,
transitando pela rua vi um bicho mais espantoso. Tinha aparência física
saudável; por certo bem alimentado.
A cabeça
sempre elevada, em rompante esbarrou em um homem que cruzara seu caminho,
aquele que Manuel viu no lixo. Urrou destemido, com cara feia, uma carranca. Enrijeceu
todo corpo, como de comum ao feroz, sendo bicho. Desdenhoso, seguiu bufando e grunhindo.
O homem do
lixo, humilde, pés descalços e com fome, olhando o bicho sumir ao longe, e, sem
dúvida, quanto àquela espécie, afirmou, também por Deus, sem admirar: “Aquele
também não é bicho. Ali vai outro homem”.
Eu sim,
admirado, não sei se concordei com essa inferência!
COMENTÁRIO
O bicho homem tem dessas
coisas. Como disse Publio Terencio Afro, dramaturgo e poeta romano, “Sou homem:
nada do que é humano me é estranho”.
Netto
O pior é que existe esta
distinção do bicho homem circulando pela cidade. Excelente texto.
Rosângela Santos
Infelizmente isso acontece,
parabéns pelo texto.
Gildásio
Também não sei se posso concordar com tal comparação, triste realidade, ótimo texto.
ResponderExcluirO bicho homem tem dessas coisas. Como disse Publio Terêncio Afro,tramaturgo e poeta romano,"Sou homem: nada do que é humano me é estranho.'
ResponderExcluirO pior é que existe esta distinção do bicho homem circulando pela cidade. Excelente texto.
ResponderExcluirInfelizmente isso acontece, parabéns pelo texto. 👏👏👏👏
ResponderExcluir