segunda-feira, 20 de abril de 2020

CRÔNICA - Outro Bicho (ES)


Outro Bicho
Edmar Santos*



Lá pelas bandas da década de 40, Manuel Bandeira (1886-1968) escreveu um poema, cujo título era “O Bicho”. Pois bem, trazia ele uma visão espantada de um ser que causou perplexidade pela forma com que interagia com o ambiente lúgubre do lixo; só após bem olhar, conseguiu por Deus ser  admirado, distinguindo-o de um gato e de um rato, concluir ser aquele bicho um pobre homem moribundo.

Outro dia, transitando pela rua vi um bicho mais espantoso. Tinha aparência física saudável; por certo bem alimentado.

A cabeça sempre elevada, em rompante esbarrou em um homem que cruzara seu caminho, aquele que Manuel viu no lixo. Urrou destemido, com cara feia, uma carranca. Enrijeceu todo corpo, como de comum ao feroz, sendo bicho. Desdenhoso, seguiu bufando e grunhindo.

O homem do lixo, humilde, pés descalços e com fome, olhando o bicho sumir ao longe, e, sem dúvida, quanto àquela espécie, afirmou, também por Deus, sem admirar: Aquele também não é bicho. Ali vai outro homem.

Eu sim, admirado, não sei se concordei com essa inferência!


COMENTÁRIO

O bicho homem tem dessas coisas. Como disse Publio Terencio Afro, dramaturgo e poeta romano, “Sou homem: nada do que é humano me é estranho”.
Netto

O pior é que existe esta distinção do bicho homem circulando pela cidade. Excelente texto.
Rosângela Santos

Infelizmente isso acontece, parabéns pelo texto.
Gildásio

4 comentários:

  1. Também não sei se posso concordar com tal comparação, triste realidade, ótimo texto.

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  2. O bicho homem tem dessas coisas. Como disse Publio Terêncio Afro,tramaturgo e poeta romano,"Sou homem: nada do que é humano me é estranho.'

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  3. O pior é que existe esta distinção do bicho homem circulando pela cidade. Excelente texto.

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  4. Infelizmente isso acontece, parabéns pelo texto. 👏👏👏👏

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