A dança das folhas
Paul0 Ximenes*
Não sei por que
cargas d’água
incomoda-me tanto
uma casa largada!
Acuro a visão e me
deparo com vãos inúteis,
tijolos cansados,
revirados, sobrepostos,
mortinhos da silva.
Não escuto um choro
de menino, o “trofaco”
dos capotes, o
chocalho de uma novilha magra;
sequer ouço o ranger
de uma rede
e o chiado de uma
vassoura.
Dói-me muito esta
estagnação sertaneja!
Pela janela de
correr
e ao cheiro acre do
mofo,
as teias de aranha
balangam sossegadas
enquanto os trastes
velhos empoeirados
pranteiam pelos
cantos; um relógio avoengo
já não tiquetaqueia
mais.
Decerto, noutros
raiares,
grassavam rezas
exorando chuvas,
gritos retinindo
alegrias,
e boi gordo, e milho
verde
espargidos no
horizonte.
Nem boi, nem milho,
nem alegria...
Douram-lhe apenas o
entardecer,
o silêncio
e o revoar nojoso
dos morcegos.
O vento silva e
abana uma janela.
Impiedosamente.
Repetidamente.
Dobradiças gemem
enferrujadas
e o eflúvio do diabo
espanta
o calango magro da
parede.
No terreiro, ao pé
da porta,
folhas secas
rodopiam e param.
Rodopiam e param
Morto movimento...
O remoinho as
convidou pra dançar.
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