A SOCIEDADE CIVIL DESORGANIZADA
Rui
Martinho Rodrigues*
Temer é campeão de impopularidade. Dominou a
inflação e os juros, sem controle de preços ou de câmbio. O PIB parou de cair e
cresceu um pouco. A política reflete a economia? O crescimento é pequeno, o
desemprego não apresenta recuperação significativa. Mas a inadimplência caiu e
o consumo cresceu. O saldo é positivo, sem ser espetacular.
A maioria dos eleitores não analisa a economia
com clareza, pode-se obtemperar, pelas viseiras da paixão política e pela
desinformação deliberada. Ainda é pouco para tão baixa popularidade. Então vem
a corrupção: vários assessores, aliados e amigos do presidente estão sendo
investigados, presos e denunciados. Ao invés da tão repetida expressão “é a
economia, idiota!”, passaríamos dizer “é a corrupção, idiota!”.
Mas personagens envolvidas na corrupção,
inclusive com condenação em duas instâncias, como Lula, continuam desfrutando
de mais popularidade do que o Temer. Macunaíma não se importa tanto com a ética.
Então, são as reformas trabalhista, a
tentativa de reformar a previdência e o esforço para restabelecer um mínimo de equilíbrio
nas contas públicas. Outra vez temos a complexidade dificultando a compreensão
por parte do público. Interesses corporativos e eleitoreiros, além das viseiras
dos paradigmas, que Thomas Kuhn (1922 – 1996) considerava inacessíveis, a razão,
ou das tradições teóricas e metodológicas. Tais obstáculos são maiores na
imprensa e nas universidades, juntamente com a reverberação nas escolas, daquilo
que é semeado nos campi. A sociedade,
porém, está dividida. A hegemonia absoluta de um viés está abalada. A maioria
silenciosa, que era silenciosa demais, resolveu intervir.
Não é a economia nem a corrupção. É a
informação, cujo monopólio dos aparelhos foi cuidadosamente conquistado após
anos de trabalho envolvendo a triagem na publicação de artigos em revistas
científicas e nos concursos para a pós-graduação e o magistério.
A popularização das teses baseadas nas
correntes heterodoxas da economia, algum tempo denominadas “nova matriz
econômica”, contou ainda com a conquista pelo ativismo político da chamada
“sociedade civil organizada”, ou aparelhada, como diz Nêumanne Pinto. Mas tudo
isso foi abalado.
A sociedade civil desorganizada, livre por não
ser organizada, acordou, ao cair no abismo da recessão. A tribuna das redes
sociais ensejou o furo do aparelhamento dos meios de comunicação e das
instituições. O direito premial ajudou a desmascarar corruptos, somado aos
rastros indeléveis dos computadores e celulares e aos acordos internacionais
para quebrar o segredo dos paraísos fiscais. Tudo isso criou uma situação nova,
uma janela de oportunidade para os brasileiros. Saberemos aproveitá-la?
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