O DESAFIO
Rui Martinho Rodrigues*
O Brasil vive um momento decisivo. Os graves
problemas não se resolviam, agravavam-se, nas palavras de Tancredo Neves, mas
tornaram-se visíveis, sensibilizaram os cidadãos. Afastar corruptos e adeptos
de soluções inviáveis e liberticidas está no cerne do debate. Longa vida ao
Ministério Público (MP), Polícia Federal (PF) e magistratura, pelo trabalho que
estão realizando, voltado para os aspectos citados.
Os cidadãos indignaram-se e empolgaram-se com
o trabalho dos órgãos encarregados de fiscalizar o cumprimento da lei e do
julgamento das condutas dos denunciados pelo MP. Agora é repensar o destino a
ser dado ao voto.
A renovação política tornou-se uma promessa
verossimilhante. O curto prazo da campanha eleitoral, a visibilidade dos que
ocupam posição na vida pública, amparados no Diário Oficial e na caneta, dois
diligentes e prestimosos auxiliares, lança dúvida sobre o alcance da esperada
renovação.
Afastar agentes públicos de conduta
indesejável é necessário. Mas não basta. A renovação de pessoas e partidos não
significa mudança dos mecanismos eleitorais, das práticas políticas e
administrativas, das ideias que inspiram as iniciativas governamentais.
Houve ocasiões em que substituímos personagens
e agremiações, mas não os hábitos ou a orientação teórica e metodológica.
Giorge Lukács (1885 – 1971) disse que o objetivo da sua luta política era a
conquista da cultura; Antonio Gramsci (1891 – 1937) afirmou que não levaria a
nada, no ocidente, tomar o palácio de inverno, aludindo aos acontecimentos de
1917, na Rússia, era preciso conquistar a cultura.
Os dois pensadores citados merecem o crédito
da competência demonstrada pelos comunistas, quando se trata de luta política.
Sendo minoria, eles conseguiram dominar grande parte dos sindicatos, da imprensa,
da literatura, do cinema e das escolas em todo o mundo, com exceção do leste
europeu, onde deixaram de ser estilingue para se tornar vidraça. A renovação
vinda das urnas é necessária.
Mas é preciso renovar a mentalidade dominante.
Enfrentar a tarefa de explicar ao povo que bolhas de consumo e assistencialismo
baseados no desequilíbrio das contas públicas, aumento de renda sem aumento da
produtividade e consumo sem renda são ilusões. É preciso mostrar aos
intelectuais que quando todo poder é dado à militância partidária a elite
intelectual é perseguida, para desfazer a ilusão de que ela possa um dia gerar os "reis filósofos". É preciso mostrar a necessidade das reformas e da
renovação das ideias.
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