quinta-feira, 17 de maio de 2018

ARTIGO - Sai de Baixo! (HE)



SAI DE BAIXO!
Humberto Ellery*



Desde Aristóteles se sabe que “...o Homem é um animal naturalmente político”, e a atividade política foi magnificamente definida por Platão quando escreveu, 380 anos aC, sua magnum opus politeía, (traduzida para A República) como a arte e a ciência de organizar, administrar e relacionar de forma ética o Homem com a Polis (cidade).

Por definição, portanto, e até etimologicamente falando, a Política é a mais nobre e destacada atividade do Homem em seus relacionamentos entre si e com a cidade. Quem nos dá as Leis que regem o relacionamento civilizado entre nós são os políticos do Poder Legislativo; quem administra os recursos, que recolhem de nós através dos impostos, e proveem o capital social básico de transportes, escolas e saúde públicas, segurança, e todo o funcionamento harmônico do Estado, são os políticos do Poder Executivo. O Judiciário nem é Poder, pois “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos”, e os juízes não são eleitos (o que seria uma boa ideia).

Não estou inventando nada, uma vez que Montesquieu, no Espírito da Leis, também não considerava o Judiciário um Poder. Imagine se ele visse o furor legiferante do nosso STF. Certamente ficaria estarrecido, como estarrecido está nosso preclaro amigo Cândido Albuquerque (recomendo a leitura de “Se adotarmos essa saída...” no blog da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo).

Portanto não consigo aceitar, sem reclamar, que pessoas, instituições, autoridades constituídas, a imprensa, enfim toda a sociedade esteja contaminada por uma campanha ininterrupta de desqualificar e condenar toda a classe política, em nome de uma depuração, de um combate à corrupção, que pretende matar o rebanho para combater uma praga de carrapatos. Quer jogar fora a criança junto com a água suja da bacia.

Quando me deparo com alguém que, apenas iniciada uma conversa sobre política, já repete o bordão estúpido “todo político é ladrão”, geralmente arranjo uma desculpa qualquer para me escafeder, pois não convivo bem com a imbecilidade.

Às vezes, no entanto, me dou ao trabalho de perguntar: “Amigo, você conhece seis políticos?” E completo, “conhecer significa ter convivência próxima e continuada por um longo tempo, ‘comer um quilo de sal com ele’, de modo a ter conhecimento de seus princípios éticos e morais; se já participou com eles de situações limites, quando o caráter do homem aflora, e então poder afirmar com o conhecimento nascido da convivência, que o cidadão é honesto, digno, ou trata-se de um pilantra? A resposta geralmente é: “Com esse grau de intimidade, não conheço nenhum”.

Pois é: o indivíduo não conhece sequer seis políticos (1 % dos políticos do Congresso Nacional: 513 deputados e 81 senadores, 594 parlamentares), e se dá o direito de qualificar como ladrões todo o universo referido. Os 100 %!

Eu tive a oportunidade de conviver com os seguintes políticos que são meus parentes bem próximos, portanto os conheço e sei que são honrados. Meu pai Humberto Ellery, mesmo não sendo um político tradicional, foi Vice-Governador do Ceará (1966/71), meu irmão Humberto Henrique foi prefeito de Camaçari (BA).

Sua esposa, Simara, foi Deputada Federal pelo PMDB da Bahia, o Paulo Lustosa, casado com minha irmã Angélica, foi Deputado Federal pelo PMDB/CE, e o filho deles Paulo Henrique Ellery Lustosa da Costa, meu sobrinho, também Deputado Federal pelo PMDB/CE. Só aí são cinco políticos que conheço bem, e afirmo que são absolutamente dignos e não fizeram fortuna com a política.

Por conta desse parentesco com tantos políticos, conheço e convivo desde a adolescência com dezenas de deputados, senadores, prefeitos, governadores, e conheci dentre eles pessoas da maior qualidade, dignidade e espírito público, que entraram na política por um ideal (e muita vaidade também, é óbvio).

Quando morei em Brasília, nos anos oitenta, como Técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA, frequentei o Clube do Congresso, onde fiz churrasco, bebi cerveja, joguei futebol e conversei muito com dezenas de políticos de todos os Estados da Federação. Conheci gente boa e gente não tanto, mas sempre soube distinguir uns dos outros, o que não é difícil.

Entre 2005 e 2011 fui Assessor Técnico da Liderança do PMDB, único partido ao qual fui filiado, e lá mesmo, na Câmara dos Deputados, conheci praticamente todos os Deputados do meu partido, para quem elaborei discursos, preparei entrevistas, orientei elaboração de leis e toda uma variedade de trabalhos que competem a um Assessor Parlamentar. Foram mais de seis anos de convivência diária com políticos dos diversos partidos, assessores, jornalistas, e demais profissionais que orbitam o Congresso Nacional. Conheço a Política por dentro, como poucos.

Não aceito que “comentaristas”, “cientistas políticos”, “especialistas em generalidades” continuem na TV a dizer bobagens em tom solene. Muitos desses tais, se fossem meus alunos, seriam reprovados por falta. Falta de caráter. Mentem, distorcem notícias, omitem informações, “chutam” dados estatísticos (que ninguém confere, mas eu confiro), tudo em prol do Grande Projeto de Extinção da Classe Política. Não esqueçamos que são, em sua grande maioria esquerdistas, petistas, viúvas do Lula, e pretendem, já que não dá para “lustrar” a imagem do seu demiurgo, emporcalhar a imagem dos outros. Simples assim! 

Fazer uma enorme lista de políticos que merecem o meu respeito seria enfadonho, despropositado e perigoso (vai que esqueço um amigo!), mas apenas para demonstrar que não tenho má vontade com esquerdistas em geral, e petistas em particular, posso citar Aldo Rebelo, Eduardo Suplicy, Rubens Bueno, Roberto Freire, Paulo Paim, os irmãos Viana do Acre, e, em nível local, Arthur Bruno, Nelson Martins, Acrísio Sena, Mário Mamede.

Concluo com uma frase do Jurista Nilo Batista, que foi governador do Rio de Janeiro, e foi vítima de uma campanha suja, como a que matou o Reitor Cancellier da UFSC, como a que destruiu a carreira política do Ibsen Pinheiro, ou a que destroçou a vida do casal Shimada, da Escola Base de São Paulo, e a que está em pleno andamento contra o Presidente Temer:

“A Imprensa tem o formidável poder de apagar da Constituição o Princípio da Inocência, ou, o que é pior, de invertê-lo”. Quando então a imprensa fica mancomunada com o Ministério Público Federal e o STF (majoritariamente petista), aí... Sai de baixo!


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