BOCHECHA
Totonho Laprovitera*
De primeiro, “pegar
bochecha” era uma perigosa brincadeira praticada pelos meninos da jovem
Fortaleza, recém-tomada pelos seus primeiros veículos motorizados.
A brincadeira ocorria do seguinte jeito. A meninada metia o pé na carreira
atrás de um caminhão. Aí, quando o alcançavam, os meninos penduravam-se na
traseira da carroceria e eram levados até onde ele parasse. Lá, eles caçavam um
outro cargueiro para arrumar a sua volta. Foi não foi, infelizmente, acontecia
uma tragédia com um deles.
Já em Sobral, no começo dos
anos 60, levando uma meninice muito afoita, era comum avistar o danisco Kiko se
arriscar ao “pegar bochecha” no vagão do trem que, ao atravessar a ponte, dele
saltava por cima de um cabo de alta tensão e mergulhava de “tainha” nas águas
do Rio Acaraú.
Nunca mais tive notícia de
alguém “pegando bochecha”. O que assisto, às vezes, são alguns “surfistas” em
ousadas evoluções nas composições da linha férrea do Mucuripe, desafiando a
própria sorte. Como se a vida, por si mesma, já não fosse tão arriscada.
COMENTÁRIO
O cronista, assim como eu, pertence aos baby boomers, e talvez desconheça que na geração de nossos avós, como
na de nossos pais, a bochecha era mais comum nos bondes que circulavam por
Fortaleza – no tempo daqueles, puxados por burros, e, na meninice destes últimos,
já movidos por corrente elétrica, até o final dos anos 40.
“Pegar Buchecha” (sic) é verbete do Glossário de Expressões Cearenses, adendo do Manual de Redação Profissional da ACLJ, com e-book acessível em nosso Blog.
Reginaldo Vasconcelos
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