segunda-feira, 7 de maio de 2018

ARTIGO - Quem Vem Lá? (2) (RMR)


QUEM VEM LÁ?
(2)
Rui Martinho Rodrigues*


Marina Silva é candidata. Pretende participar do certame para a escolha de quem chefiará o Poder Executivo. Olhando para ela, o eleitor pergunta: quem vem lá? Decompondo a pergunta compósita em indagações simples, temos, em primeiro lugar, uma mulher não-branca. Isso rende votos? No prélio eleitoral de 2014 não lhe trouxe eleitores. 

Depois temos uma ex-petista, que passou 30 anos na agremiação do Lula, tendo convivido no partido ao tempo de mensalão e do petrolão. Permaneceu fiel ao lulopetismo a despeito dos escândalos. Alega desconhecer a fonte de financiamento das campanhas milionárias do próprio partido, isto é, desconhece o mecanismo do sistema eleitoral. O eleitor pode não confiar em pessoa tão ingênua, tão sem curiosidade relativamente aos negócios concernentes ao mundo político.

A candidata tem partido? A pergunta parece despropositada, mas, diante de tantas siglas virtuais, a indagação faz sentido. O partido dela é a Rede, agremiação pequena. Já nos deparamos com o problema da governabilidade sem base congressual. Tem mais: a Rede não exibe o nome de partido, embora seja, pelo menos formalmente, exatamente isso. Será por orientação de “marqueteiros”? Como reagirá o eleitorado sedento de renovação, em face de uma candidata que enfatiza mais as técnicas de publicidade e propaganda do que a realidade?

Qual a trajetória política de Marina? Tanto tempo na política, qual é o seu histórico? Quais os seus pronunciamentos? O que disse sobre os escândalos durante todos esses anos? Sobre o desequilíbrio das contas públicas? Sobre as tão esperadas reformas tributária, previdenciária e administrativa? O que diz da matriz energética? Qual a sua tolerância para com hidrelétricas? Marina Silva é renomada como ambientalista. Precisaria explicar os limites que pretenderá impor não só a energia hidráulica, mas também atividades de mineração, principalmente em certas regiões, assim como a pecuária e o agronegócio em geral.

A sociedade está dividida politicamente. Os ânimos estão exacerbados. A dicotomia direita e esquerda, por mais que seja claramente maniqueísta, pretende equivocadamente reunir a ampla diversidade ideológica e programática em apenas dois sacos. É uma concepção numericamente muito forte, melhor dizendo, reconhecida por grande parcela da população. Onde fica Marina Silva entre estes os dois polos? A facilidade com que ela e muitos outros políticos surfaram no prestígio da “esquerda”, vista por muitos como aquela que “sente pena dos pobres”, capaz de agradar aos que se sentem superiores do ponto de vista moral e intelectual, seguindo o efeito manada do “ópio dos intelectuais”, de que falava Raymond Aron (1905 – 1983).

Agora a situação mudou. A presunção de superioridade moral naufragou na tempestade dos escândalos. A suposta superioridades das teorias de intelectuais prestigiosos ruiu, diante do desastre econômico, que deu lugar ao estouro da bolha de consumo, com o consequente agravamento da situação dos pobres. 

Não basta a Marina ter sido “esquerda” muitos anos. Isso pode até afastar uma parte do eleitorado. Ademais, a candidata rompeu com o lulopetismo. Religião política não perdoa os apóstatas. Ela poderá perder os votos de quem até então sufragava o seu nome.

Quem vem lá? Ex-petista, silenciosa ou omissa quanto a reformas e escândalos, sem uma bagagem de contribuições, após tantos anos de vida pública. Eis a resposta.



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