QUEM VEM LÁ?
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Rui Martinho Rodrigues*
Marina Silva é candidata. Pretende participar
do certame para a escolha de quem chefiará o Poder Executivo. Olhando para ela, o eleitor pergunta: quem vem lá? Decompondo a pergunta compósita em indagações
simples, temos, em primeiro lugar, uma mulher não-branca. Isso rende votos? No
prélio eleitoral de 2014 não lhe trouxe eleitores.
Depois temos uma ex-petista,
que passou 30 anos na agremiação do Lula, tendo convivido no partido ao tempo
de mensalão e do petrolão. Permaneceu fiel ao lulopetismo a despeito dos
escândalos. Alega desconhecer a fonte de financiamento das campanhas
milionárias do próprio partido, isto é, desconhece o mecanismo do sistema
eleitoral. O eleitor pode não confiar em pessoa tão ingênua, tão sem
curiosidade relativamente aos negócios concernentes ao mundo político.
A candidata tem partido? A pergunta parece
despropositada, mas, diante de tantas siglas virtuais, a indagação faz sentido. O
partido dela é a Rede, agremiação pequena. Já nos deparamos com o problema da
governabilidade sem base congressual. Tem mais: a Rede não exibe o nome de
partido, embora seja, pelo menos formalmente, exatamente isso. Será por
orientação de “marqueteiros”? Como reagirá o eleitorado sedento de renovação,
em face de uma candidata que enfatiza mais as técnicas de publicidade e
propaganda do que a realidade?
Qual a trajetória política de Marina? Tanto
tempo na política, qual é o seu histórico? Quais os seus pronunciamentos? O que
disse sobre os escândalos durante todos esses anos? Sobre o desequilíbrio das
contas públicas? Sobre as tão esperadas reformas tributária, previdenciária e
administrativa? O que diz da matriz energética? Qual a sua tolerância para com
hidrelétricas? Marina Silva é renomada como ambientalista. Precisaria explicar
os limites que pretenderá impor não só a energia hidráulica, mas também
atividades de mineração, principalmente em certas regiões, assim como a pecuária e o
agronegócio em geral.
A sociedade está dividida politicamente. Os
ânimos estão exacerbados. A dicotomia direita e esquerda, por mais que seja
claramente maniqueísta, pretende equivocadamente reunir a ampla diversidade
ideológica e programática em apenas dois sacos. É uma concepção numericamente
muito forte, melhor dizendo, reconhecida por grande parcela da população. Onde
fica Marina Silva entre estes os dois polos? A facilidade com que ela e muitos
outros políticos surfaram no prestígio da “esquerda”, vista por muitos como
aquela que “sente pena dos pobres”, capaz de agradar aos que se sentem
superiores do ponto de vista moral e intelectual, seguindo o efeito manada do
“ópio dos intelectuais”, de que falava Raymond Aron (1905 – 1983).
Agora a situação mudou. A presunção de
superioridade moral naufragou na tempestade dos escândalos. A suposta
superioridades das teorias de intelectuais prestigiosos ruiu, diante do desastre
econômico, que deu lugar ao estouro da bolha de consumo, com o consequente
agravamento da situação dos pobres.
Não basta a Marina ter sido “esquerda” muitos anos. Isso pode até afastar uma parte do eleitorado. Ademais, a candidata rompeu com o lulopetismo. Religião política não perdoa os apóstatas. Ela poderá perder os votos de quem até então sufragava o seu nome.
Não basta a Marina ter sido “esquerda” muitos anos. Isso pode até afastar uma parte do eleitorado. Ademais, a candidata rompeu com o lulopetismo. Religião política não perdoa os apóstatas. Ela poderá perder os votos de quem até então sufragava o seu nome.
Quem vem lá? Ex-petista, silenciosa ou omissa
quanto a reformas e escândalos, sem uma bagagem de contribuições, após tantos
anos de vida pública. Eis a resposta.
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