domingo, 27 de maio de 2018

ARTIGO - O Mar se Revolta (RMR)



O MAR SE REVOLTA
Rui Martinho Rodrigues*



Deixamos de ser o “país do futuro”, para sermos o país sem-futuro. Temos péssimos governos, mas queremos mais Estado. Pagamos muitos tributos e não recebemos serviços públicos de qualidade – mas confiamos na estatização e desconfiamos da iniciativa privada, a quem culpamos pelo péssimo uso que o Estado faz da montanha de dinheiro da pesada carga tributária.

O resultado disso é que quanto mais pagamos tributos mais o Estado se afoga em dívidas, sem que tal endividamento seja fruto da prestação de serviços ou de investimentos. Temos um milagre reverso: não investimos, não desfrutamos de bons serviços e temos uma enorme dívida.

O drama do momento é o impasse dos serviços de transportes rodoviários. Temos péssimas estradas. A Petrobras, destruída por anos de irresponsabilidade, precisa fazer caixa apressadamente e a todo custo. Os Estados Federados e a União não podem abrir mão de tributos, porque estão falidos. Os caminhoneiros foram atraídos para a armadilha da renovação da frota, mediante o oferecimento de crédito, fácil de obter e difícil de pagar. Veio a recessão e diminuiu a demanda por carga, desequilibrando o negócio de transporte rodoviário, e desestabilizando tantos outros negócios.

Era pouco para termos a tempestade perfeita: veio a alta do petróleo e do dólar. No meio de tudo isso temos uma enorme crise política, um deserto de líderes, completa ausência de partidos que mereçam este nome, e a fragmentação crescente de siglas partidárias, dificultando a governabilidade, já comprometida pela desmoralização dos Poderes da República, em razão dos escândalos injuriosos, bastantes para causar rubor na face do Macunaíma. Não seria preciso mais nada. Mas tem mais: estamos em um ano eleitoral.

A democracia não tem instrumentos de defesa contra a maioria. O comprometimento de todos os Poderes nos deixa desesperançados. Salvadores da pátria não passam de promessa de mais crise. Escolas e imprensa, aparelhadas, só atiçam a fogueira da irracionalidade, estimulando a luta por mais governo ineficiente e por menos iniciativas eficientes dos cidadãos. 

O provérbio segundo o qual a visão do patíbulo clarifica a mente não se confirma entre nós. A matança no trânsito não torna os nossos motoristas mais prudentes. A revolta da sociedade não comove a classe política. Nas estradas, temos tempestade comparável a um mar revolto. A classe política, porém, permanece cega. As ondas se erguem e a reação da sociedade parece dizer: “Senhor, salva-nos que perecemos”, à semelhança da narrativa de Mateus 8; 23-27.


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