O
MAR SE REVOLTA
Rui
Martinho Rodrigues*
Deixamos de ser o “país do futuro”, para sermos o país sem-futuro. Temos péssimos governos, mas queremos mais Estado. Pagamos muitos
tributos e não recebemos serviços públicos de qualidade – mas confiamos na
estatização e desconfiamos da iniciativa privada, a quem culpamos pelo péssimo
uso que o Estado faz da montanha de dinheiro da pesada carga
tributária.
O resultado disso é que quanto mais pagamos tributos mais o
Estado se afoga em dívidas, sem que tal endividamento seja fruto da prestação
de serviços ou de investimentos. Temos um milagre reverso: não investimos, não
desfrutamos de bons serviços e temos uma enorme dívida.
O drama do momento é o impasse dos serviços de transportes
rodoviários. Temos péssimas estradas. A Petrobras, destruída por anos de
irresponsabilidade, precisa fazer caixa apressadamente e a todo custo. Os Estados
Federados e a União não podem abrir mão de tributos, porque estão falidos. Os
caminhoneiros foram atraídos para a armadilha da renovação da frota, mediante o
oferecimento de crédito, fácil de obter e difícil de pagar. Veio a recessão e
diminuiu a demanda por carga, desequilibrando o negócio de transporte
rodoviário, e desestabilizando tantos outros negócios.
Era pouco para termos a tempestade perfeita: veio a alta do
petróleo e do dólar. No meio de tudo isso temos uma enorme crise política, um
deserto de líderes, completa ausência de partidos que mereçam este nome, e a fragmentação crescente de siglas partidárias, dificultando a governabilidade, já
comprometida pela desmoralização dos Poderes da República, em razão dos
escândalos injuriosos, bastantes para causar rubor na face do Macunaíma. Não
seria preciso mais nada. Mas tem mais: estamos em um ano eleitoral.
A democracia não tem instrumentos de defesa contra a maioria.
O comprometimento de todos os Poderes nos deixa desesperançados. Salvadores da
pátria não passam de promessa de mais crise. Escolas e imprensa, aparelhadas, só
atiçam a fogueira da irracionalidade, estimulando a luta por mais governo
ineficiente e por menos iniciativas eficientes dos cidadãos.
O provérbio segundo
o qual a visão do patíbulo clarifica a mente não se confirma entre nós. A
matança no trânsito não torna os nossos motoristas mais prudentes. A revolta da
sociedade não comove a classe política. Nas estradas, temos tempestade
comparável a um mar revolto. A classe política, porém, permanece cega. As ondas
se erguem e a reação da sociedade parece dizer: “Senhor, salva-nos que perecemos”, à semelhança da narrativa de
Mateus 8; 23-27.
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