AMOR Q FICA
Os
cientistas ocupados com a origem do Universo anunciaram no átomo a menor parte
da matéria, e depois conseguiram dividi-lo. Vislumbraram os quasares e pulsares
nas lonjuras do Cosmo, e dizem ouvir as reverberações do “Big Bang”, a explosão
que iniciou tudo. Lançaram suas caravelas telescópicas nos mares siderais, e
deram com os tais “buracos negros”, e enfim atinaram existir a antimatéria.
Agora,
fartos de tantas descobertas astronômicas e físico-nucleares, voltam-se para
dentro e se perguntam, fazendo coro com Caetano: “Existirmos, a que será que se destina?”. Voltam à ontologia e à
metafísica. E o amor? Ah! O amor. Nesta palavrinha concentra-se toda a questão da existência. “Penso, logo existo?”.
Não. Quem pensa não casa. Amo, logo existes.
Ficar
ou não ficar, eis a questão. “De tudo sempre fica um pouco”, sentenciou o
poeta. Mas um pouco é muito pouco. De tudo é sempre o amor que fica, e o amor é
muito. O amor é tudo. De tudo que definha, de tudo que desgasta, de tudo que
morre, é sempre e somente o amor que fica.
Ao
ver passar pela avenida o bloco pré-carnavalesco Amor Q Fica, com esse dístico
tão feliz, vejo o sorriso do meu povo, presencio o culto da alegria, a festa
cristã em que canta e dança a sua música o povo de um lugar. Assisto enfim à
ressurreição do carnaval de Fortaleza, sob a égide do forró. Deus te conserve
gigante, Alexandre Maia.
–
Mas que papo sério é esse? O assunto aqui é carnaval!
–
Pois carnaval é coisa séria, como é coisa séria fazer filho, e também não se
faz filho circunspeto e em traje a rigor.
Alexandre
Maia, Elenilton Jorge e Alcimor Júnior são o que há de mais sério na produção
de alegria pura, sem os aditivos da artificialidade. Viva o samba! Viva o
frevo! Mas o nosso brinde é com mastruz com leite, o vigoroso tônico cearense.
Lucas Demétrius (Pseudônimo de Reginaldo Vasconcelos)
JORNAL SCANDALUS - 1997
Lucas Demétrius (Pseudônimo de Reginaldo Vasconcelos)
JORNAL SCANDALUS - 1997
NOTA DO EDITOR:
Esta crônica, escrita por Reginaldo
Vasconcelos, que a assinou sob o pseudônimo Lucas Demétrius, publicada no Jornal Scanadalus, trata de um dos
primeiros blocos pré-carnavalescos do Fortal, no início de 1997, quando o
radialista e promotor de eventos Alexandre Maia idealizou a micareta, a
princípio de caráter eminentemente popular.
A matéria trata de maneira filosófica
o nome dado ao bloco, “Amor Q Fica”, sublimando o sentido burlesco que o termo
transportava – trocadilho malicioso comum no carnaval – que neste caso remete ao
ditado popular de rima picante, segundo o qual o amor mais duradouro vem da
cama.
O cronista, no entanto, elegantemente,
focou suas reflexões sobre o mais nobre sentimento, sobre a alegria de amar
como o grande ou o único sentido da existência. Cita Caetano Veloso na letra da
música “Cajuína”, parafraseia Carlos Drummond de Andrade no poema “Resíduo”, terminando
por referir ao pensamento de Descartes.
Registra a retomada de um bom carnaval
popular em Fortaleza que a micareta então representava, louvando a iniciativa e a atuação de
Alexandre Maia e de seus principais colabores na época, Elenilton Jorge e
Alcimor Rocha Júnior. E finda fazendo uma referência velada à banda de forró “Mastruz
com Leite”, do empresário Emanuel Gurgel, que na época se tornara o grande ícone do nosso cenário musical.
Na foto que ilustrava a matéria no Jornal Scandalus, acima reproduzida, Alexandre Maia lança o bloco Amor Q Fica no programa de Will Nogueira, na TV Verdes Mares.
Alexandre é comendatário da ACLJ, que lhe outorgou a Medalha Jornalista Durval Aires de Menezes, em solenidade do dia 08 de maio de 2014, exatamente pelo mérito de haver concebido o Fortal, hoje transformado em evento eminentemente turístico, sem participação popular, e sem compromisso com a boa música local.
Na foto que ilustrava a matéria no Jornal Scandalus, acima reproduzida, Alexandre Maia lança o bloco Amor Q Fica no programa de Will Nogueira, na TV Verdes Mares.
Alexandre é comendatário da ACLJ, que lhe outorgou a Medalha Jornalista Durval Aires de Menezes, em solenidade do dia 08 de maio de 2014, exatamente pelo mérito de haver concebido o Fortal, hoje transformado em evento eminentemente turístico, sem participação popular, e sem compromisso com a boa música local.
Nenhum comentário:
Postar um comentário