NEGUIM
Totonho Laprovitera*
Totonho Laprovitera*
Eu não sei o nome do Neguim, mas sei da sua peleja diária para escapar neste mundo tão apinhado de diferenças e descaso ao próximo.
Sempre com o bom humor em dia, enquanto pastora e lava os carros
estacionados, Neguim passa suas horas cantando e saudando os passantes. Com o
sorriso escancarado, é uma figura partícipe da paisagem urbana da rua onde
moro.
Toda vez que vou à padaria, eu o convido para merendar e digo pra ele
escolher o que quiser. Aí, cheio de moral, com ar de desforra, ele entra no
recinto e pede ao balconista: “Fuleragem, bota aí o maior folheado e me dê uma
Coca de 600, que a conta é do meu patrão!”.
Quando chega o final de ano, lembrando do ensinamento de “o que nos sobra
não nos pertence”, costumo separar umas roupas para o Neguim.
– Ei, Neguim, quer uma camisa?!
– Ôpa, é nóis! Quero!
– Mas, só se você disser quem é “o cara”! Instigo.
– Esse cara é você! Responde, cantarolando a música do Rei.
– Neguim, será que vai dar no seu
tamanho?
– Se não der, a gente dá um jeito!
– Neguim, e qual é o número do seu pé?
– De 37 a 43!
– Pois, pegue!
– Ei, meu patrãozinho, e um dinheirim?
– Neguim, vá se lascar, vá...
Aí, ele dá aquela gargalhada, sai todo satisfeito, feliz da vida, e eu penso
como custa pouco pra gente alegrar o coração das pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário