sexta-feira, 21 de outubro de 2016

GLOSSÁRIO - Curiosidades Latinas - Abertura (VM)


GLOSSÁRIO DE PARÊMIAS, ANEXINS E CURIOSIDADES LATINAS
 Série Longa Semanal

ESCORÇO HISTÓRICO DA LÍNGUA LATINA
(Abertura)

Vianney Mesquita*


Facilmente se cura a ferida feita por uma espada, porém jamais é sarada aquela que a língua faz. (Anônimo)


Inicia-se, neste passo, uma coluna semanal, que se pretende prolongada, trazendo a reprodução de célebres brocardos e ditos latinos, com os necessários desdobramentos e a respectiva tradução. A maioria está inscrita, nomeadamente, em obras de escritores da fase clássica da literatura em todos os gêneros, e a intenção é dar como presente aos leitores que os não conhecem a oportunidade de guardarem deles suas ideias, geralmente vazadas em muita sabedoria e transferidas ao consulente, via de regra, em frases sentenciosas, com o emprego de figuras linguísticas de enorme valor elocutório.
        
Algumas são sabidas, pelo articulista, de cor e salteado (ou decorado e de salto, como queiram), enquanto a maioria é extraída de glossários, dicionários e outras obras de referência, como, em dois exemplos entre muitos, do Professor Antônio Carlos Campolina, em S.P.Q.R. – Latim Jurídico (2013, livro prefaciado pelo signatário destas notas) e de Arthur Rezende, em Frases e Curiosidades Latinas (1936), os quais participam os nomes dos autores e aduzem complementos úteis aos consultantes, não sendo mandatório – impende exprimir – sob o prisma do Direito Autoral, declinar a fonte que citou, pelo fato de aí não haver autoria, na expressão exata desta palavra.

Diversas vertentes do conhecimento se louvam nessas preciosidades a fim de externarem seus conceitos, em particular, as Ciências Jurídicas, a Filosofia e a Teologia, com seus diversos esgalhos disciplinares, consabida a noção de que esse expediente é de agrado e bem recepcionado pelo universo ledor.

Nota lamentável, fator impeditivo do estudo etimológico do Português – uma das mais destacadas codificações neolatinas e precursora da língua de Hélio Melo e Myrson Lima – foi a disciplina Latim retirada dos curricula do Ensino Médio brasileiro, carreando prejuízo formidando para o exame mais acurado da Língua Portuguesa, no que concerne à formação vocabular, ao conhecimento da Gramática Histórica, alcance do desenvolvimento humano, não só atinente às diligências linguísticas, mas também compreendendo, pela expressão da História, todo o trajeto da espécie humana pela Mãe Terra.

A LÍNGUA LATINA

Na sua aurora, o código latino, procedente de vários patois praticados no Lácio e que se ajuntaram para constituir uma codificação maior, perfazia somente um dialeto itálico, praticado na Roma e em toda a mencionada região (latina, de Lácio), bem como no vale do rio Tibre.
        
Num magnífico crescendo, já feito língua, granjeou enorme expansão, apropriando e modificando falares parecidos e assimilando codificações estranhas da Península Itálica, vindo a instituir um dos brotos da família indo-europeia, sendo, porém, ao juízo dos estudiosos, menos flexível do que a língua grega, com sufixos pesados e sem riqueza vocabular. Para compensar, entretanto, esse código é forte, claro e concreto, adaptando-se à enunciação das leis, sentenças morais e inscrições.

O latim puro foi falado apenas na Roma Antiga, assim mesmo pela população do Lazio, particularmente de Roma, tendo se tornado, entretanto, a língua oficial de todas as nações submetidas e a única literária, salvante o grego.

No derradeiro estádio, de código morto, o latim foi sempre o idioma oficial da Igreja Católica, Apostólica Romana, não apenas no âmbito do Estado da Cidade do Vaticano, mas em todo o orbe terrenal, acrescendo-se o fato de que as produções científicas, filosóficas e teológicas foram quase exclusivamente redigidas nessa craveira idiomática, até os Oitocentos e muitas até os Novecentos.




Como curiosidade histórico-linguística, tem-se que o texto latino mais antigo descansa numa legenda, datada em 500 anos a.C. (há controvérsias), insculpida na célebre Fíbula de Ouro de Preneste, a Palestrina atual, cidade do Lazio, Província de Roma, hoje com 16.469 habitantes.

Peça depositada no Museu Etnográfico Pré-Histórico Luigi Pigorini, de Roma, a Fíbula foi mostrada em 1887, pelo arqueólogo Wolfgang Helbig. Advieram dúvidas através dos tempos acerca da veracidade da informação da Fibule Praenestina, porém o assunto restou pacificado em 2011, mediante estudo de Edilberto Formigli e Danielle Ferro (e equipe), dando conta, em definitivo, da verdade expressa pelo citado arqueólogo alemão (1839-1915).
        
As fíbulas são broches que unem duas partes de um vestuário, tendo sido numa delas que o artesão escreveu, em palavras grafadas da direita para a esquerda, Manius me Fecit Numerio = Manos (o artesão) me fez para Numerio (o cliente). 

A língua latina possui subdivisões, como, por exemplo:

 – Latim clássico, ao compreender a produção de escritores no tempo dessa erudição, de mais ou menos 75 a.C a 200 d.C, hoje ainda usado nas gramáticas e dicionários.

Latim popular ou vulgar, base dos códigos neolatinos modernos, de sintaxe mais simples, falado pelas classes populares.

Baixo latim ou latim bárbaro – experimentado em fala e escrita depois da queda do Império Romano e no curso da Idade Média, com termos latinos e vocábulos estranhos, gramaticalmente indisciplinado.

         Tem começo, pois, aqui, a aposição das parêmias, assemelhados e curiosices latinos.

         Ab absurdo. Por absurdo. Quando, a fim de mostrar uma verdade, supomos, de começo, um resultado contrário ao que nos propomos alcançar e, pensando com tal suposição, chegamos a uma consequência que a razão não pode admitir, fazemos uma demonstração ab absurdo. Via de regra, essa expressão é usada quando dos conceitos de Geometria.

         Ab acia et acu  mi omnia exposuit. (Petr. 76).

         Ele me contou tudo, até as menores particularidades.

         Ab abusu ad usum non valet consequentia (aforismo jurídico)

         O abuso de uma coisa não é argumento contra seu uso. É semelhante a Abusus non tollit usum.

         Ab actu ad posse valet illatio (usado esse adágio pelos escolásticos).

         Ab aeterno
         Desde a eternidade.

         Ab aliospectes, alteri quod feceris. (Publio Siro – Sentenças1).

         Assim como fizeres, de outro o esperes.



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