GLOSSÁRIO DE
PARÊMIAS, ANEXINS E CURIOSIDADES LATINAS
Série Longa Semanal
ESCORÇO
HISTÓRICO DA LÍNGUA LATINA
(Abertura)
Vianney
Mesquita*
Facilmente se cura a ferida feita por uma espada,
porém jamais é sarada aquela que a língua faz. (Anônimo)
Inicia-se, neste passo, uma coluna semanal, que se pretende prolongada,
trazendo a reprodução de célebres brocardos e ditos latinos, com os necessários
desdobramentos e a respectiva tradução. A maioria está inscrita, nomeadamente,
em obras de escritores da fase clássica da literatura em todos os gêneros, e a
intenção é dar como presente aos leitores que os não conhecem a oportunidade de
guardarem deles suas ideias, geralmente vazadas em muita sabedoria e
transferidas ao consulente, via de regra, em frases sentenciosas, com o emprego
de figuras linguísticas de enorme valor elocutório.
Algumas são sabidas, pelo articulista, de cor e salteado (ou decorado e de
salto, como queiram), enquanto a maioria é extraída de glossários, dicionários
e outras obras de referência, como, em dois exemplos entre muitos, do Professor
Antônio Carlos Campolina, em S.P.Q.R. –
Latim Jurídico (2013, livro
prefaciado pelo signatário destas notas) e de Arthur Rezende, em Frases e Curiosidades Latinas (1936), os quais participam os nomes dos
autores e aduzem complementos úteis aos consultantes, não sendo mandatório –
impende exprimir – sob o prisma do Direito Autoral, declinar a fonte que citou,
pelo fato de aí não haver autoria,
na expressão exata desta palavra.
Diversas vertentes do conhecimento se louvam nessas preciosidades a fim de
externarem seus conceitos, em particular, as Ciências Jurídicas, a Filosofia e
a Teologia, com seus diversos esgalhos disciplinares, consabida a noção de que
esse expediente é de agrado e bem recepcionado pelo universo ledor.
Nota lamentável, fator impeditivo do estudo etimológico do Português – uma
das mais destacadas codificações neolatinas e precursora da língua de Hélio
Melo e Myrson Lima – foi a disciplina Latim retirada dos curricula do Ensino Médio brasileiro, carreando prejuízo formidando
para o exame mais acurado da Língua Portuguesa, no que concerne à formação
vocabular, ao conhecimento da Gramática Histórica, alcance do desenvolvimento
humano, não só atinente às diligências linguísticas, mas também compreendendo,
pela expressão da História, todo o trajeto da espécie humana pela Mãe Terra.
A LÍNGUA LATINA
Na sua aurora, o código latino, procedente de vários patois praticados no Lácio e que se ajuntaram para constituir uma
codificação maior, perfazia somente um dialeto itálico, praticado na Roma e em
toda a mencionada região (latina, de Lácio), bem como no vale do rio Tibre.
Num magnífico crescendo, já feito língua, granjeou enorme expansão,
apropriando e modificando falares parecidos e assimilando codificações
estranhas da Península Itálica, vindo a instituir um dos brotos da família
indo-europeia, sendo, porém, ao juízo dos estudiosos, menos flexível do que a
língua grega, com sufixos pesados e sem riqueza vocabular. Para compensar,
entretanto, esse código é forte, claro e concreto, adaptando-se à enunciação
das leis, sentenças morais e inscrições.
O latim puro foi falado apenas na Roma Antiga, assim mesmo pela população
do Lazio, particularmente de Roma, tendo se tornado, entretanto, a língua
oficial de todas as nações submetidas e a única literária, salvante o grego.
No derradeiro estádio, de código morto,
o latim foi sempre o idioma oficial da Igreja Católica, Apostólica Romana, não
apenas no âmbito do Estado da Cidade do Vaticano, mas em todo o orbe terrenal, acrescendo-se
o fato de que as produções científicas, filosóficas e teológicas foram quase
exclusivamente redigidas nessa craveira idiomática, até os Oitocentos e muitas
até os Novecentos.
Como curiosidade histórico-linguística, tem-se que o texto latino mais
antigo descansa numa legenda, datada em 500 anos a.C. (há controvérsias),
insculpida na célebre Fíbula de Ouro de
Preneste, a Palestrina atual, cidade do Lazio, Província de Roma, hoje com
16.469 habitantes.
Peça depositada no Museu Etnográfico Pré-Histórico Luigi Pigorini, de
Roma, a Fíbula foi mostrada em 1887,
pelo arqueólogo Wolfgang Helbig. Advieram
dúvidas através dos tempos acerca da veracidade da informação da Fibule Praenestina, porém o assunto
restou pacificado em 2011, mediante estudo de Edilberto Formigli e Danielle
Ferro (e equipe), dando conta, em definitivo, da verdade expressa pelo citado
arqueólogo alemão (1839-1915).
As fíbulas são broches que unem duas partes de um vestuário, tendo sido
numa delas que o artesão escreveu, em palavras grafadas da direita para a
esquerda, Manius me Fecit Numerio = Manos (o artesão) me fez para Numerio (o cliente).
A língua latina possui subdivisões, como, por exemplo:
– Latim clássico, ao compreender a produção de escritores no tempo dessa
erudição, de mais ou menos 75 a.C a 200 d.C, hoje ainda usado nas gramáticas e
dicionários.
– Latim popular ou vulgar, base dos códigos neolatinos
modernos, de sintaxe mais simples, falado pelas classes populares.
– Baixo latim ou latim bárbaro – experimentado em fala e
escrita depois da queda do Império Romano e no curso da Idade Média, com termos
latinos e vocábulos estranhos, gramaticalmente indisciplinado.
Tem começo, pois, aqui, a
aposição das parêmias, assemelhados e curiosices latinos.
Ab absurdo. Por absurdo. Quando, a fim de mostrar uma verdade,
supomos, de começo, um resultado contrário ao que nos propomos alcançar e,
pensando com tal suposição, chegamos a uma consequência que a razão não pode
admitir, fazemos uma demonstração ab
absurdo. Via de regra, essa expressão é usada quando dos conceitos de
Geometria.
Ab acia et acu mi omnia exposuit. (Petr. 76).
Ele me contou tudo, até as
menores particularidades.
Ab abusu ad usum non valet consequentia (aforismo jurídico)
O abuso de uma coisa não é
argumento contra seu uso. É semelhante a Abusus
non tollit usum.
Ab actu
ad posse valet illatio (usado esse adágio pelos escolásticos).
Ab aeterno
Desde a eternidade.
Ab aliospectes, alteri quod feceris. (Publio Siro – Sentenças1).
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