SALA MANUELITO EDUARDO
Homenagem Merecida
Reginaldo Vasconcelos*
O
Presidente José Augusto Bezerra acaba dar o nome de Emanuel Eduardo Pinheiro
Campos à sala de reuniões da Academia Cearense de Letras, no Palácio da Luz.
Conhecido nas artes como Manuelito Eduardo, ele era jornalista, poeta e dramaturgo,
imortal da vetusta Academia Cearense de Letras, de que foi presidente, e é o Patrono Perpétuo da Cadeira de nº
20 da ACLJ, da qual sou titular e fundador.
Fiquei
exultante com a notícia da homenagem porque esse grande homem, que capitaneou por muitos
anos os Diários Associados no Ceará, e que participou do advento da televisão em
Fortaleza, e que é dos poucos artífices do teatro cearense, está relegado ao esquecimento.
Está
entre os quatro grandes nomes da imprensa cearense que a ACLJ e a ACI temos
tentado homenagear com uma herma, a ser incluída na galeria estatuária da Praça
Edson Queiroz, popularmente conhecida como Praça da Imprensa, no bairro fortalezense
da Aldeota.
A
Profa. Adísia Sá, enquanto presidente da ACI, encabeçou a campanha, enviando
ofício ao Prefeito Roberto Cláudio, sugerindo o estabelecimento de uma parceria
público-privada para a confecção das hermas – além da do Manuelito a do
Guilherme Neto, a do Edilmar Norões e a da Jornalista Ivonete Maia. Mas Adísia foi
brindada com silêncio prefeitural absoluto.
Então,
ao saber da merecida homenagem que presta a Manuelito Eduardo a Academia Cearense de
Letras, resolvi republicar a crônica
abaixo, que escrevi e publiquei quando do seu falecimento, tratando exatamente
da omissão dos doutos que estiveram presentes mas fizeram silêncio em seu enterro,
quando cabia que, naquela hora extrema, falassem de seus méritos.
†
MORRE
EDUARDO CAMPOS: UM TOQUE DE SILÊNCIO
Foi
sepultado na tarde desta quinta-feira, 20 de setembro (2007), o maior orador do
Ceará, Manuel Eduardo Pinheiro Campos. Ou, “o último grande orador cearense”,
como mais enfaticamente dizia Haroldo Serra, em programa transmitido pela Rádio
Universitária, exatamente no momento em que o cortejo de parentes e amigos
seguia o féretro em carreata.
Tenho a
honra de poder me imiscuir em sua família, na veleidade de fintar um
contraparentesco com ele, quando um certo lote de seus sobrinhos afins são meus
sobrinhos legítimos, nessa trança em que ainda se enroscam todas as famílias
mais antigas da cidade, ao deslindarmos a genealogia cearense como um todo.
Mas o que
me fez intumescer os olhos e constranger a garganta ao receber a notícia, e de
novo depois, diante do caixão, não foi esse pseudoparentesco que tenho o topete
de querer ostentar.
Foi a
amizade, foi a gratidão, foi a ternura que aquele homenzarrão me pôs na alma, a
afabilidade com que me recebia, a magnanimidade com que acatava os meus apelos,
a gentileza com que compareceu a todas as minhas noites de autógrafos para
apresentar os trabalhos que fiz publicar.
“Esse
Reginaldo é um louco!”, bradava ele do púlpito, com
seu vozeirão afetuoso. “Mas um louco adorável!”, rebatia então,
depois de provocar acessos de risos na plateia. “Teima em fazer
crônicas, que é um gênero menor, quando na verdade é um contista de mão cheia”.
E falava mais, e falava muito, e fazia imagens, e lembrava gentes, sempre
encantando a audiência como se fora um canoro pintagol.
No final,
em refinada ironia, desculpava-se pela má oratória, “que hoje eu não
estou com os meus duendes” – delicada modéstia de querer negar o estro
e a verve que na verdade lhe sobravam.
Eduardo
Campos teve a ventura de envelhecer, com o bônus da sabedoria e da vivência,
sem contudo arrostar o maior ônus da velhice. Era um homem belo, e não
deixou de sê-lo com o avanço dos anos. A senectude não pode com ele. E jamais
lhe faltaram o ânimo de tudo dizer com voz potente, que ainda no dia de sua
morte os amigos que o visitavam constataram.
Mas lhe
faltou no seu enterro a voz alheia, quando nenhum dos presentes àquele ato
fúnebre fez uso da palavra, como merecia o ex-presidente e membro destacado de
nossa Academia de Letras, fundador da Academia de Retórica. Eu, que fizera o
corso até o campo santo e sacrificara o tempo de outro compromisso inadiável
para ouvir discursos majestosos encontrei a frustração.
Reginaldo Vasconcelos
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