sábado, 8 de outubro de 2016

CRÔNICA - Sala Manuelito Eduardo (RV)



SALA MANUELITO EDUARDO
Homenagem Merecida
Reginaldo Vasconcelos*



O Presidente José Augusto Bezerra acaba dar o nome de Emanuel Eduardo Pinheiro Campos à sala de reuniões da Academia Cearense de Letras, no Palácio da Luz.

Conhecido nas artes como Manuelito Eduardo, ele era jornalista, poeta e dramaturgo, imortal da vetusta Academia Cearense de Letras, de que foi presidente, e é o Patrono Perpétuo da Cadeira de nº 20 da ACLJ, da qual sou titular e fundador.

Fiquei exultante com a notícia da homenagem porque esse grande homem, que capitaneou por muitos anos os Diários Associados no Ceará, e que participou do advento da televisão em Fortaleza, e que é dos poucos artífices do teatro cearense, está relegado ao esquecimento.

Está entre os quatro grandes nomes da imprensa cearense que a ACLJ e a ACI temos tentado homenagear com uma herma, a ser incluída na galeria estatuária da Praça Edson Queiroz, popularmente conhecida como Praça da Imprensa, no bairro fortalezense da Aldeota.

A Profa. Adísia Sá, enquanto presidente da ACI, encabeçou a campanha, enviando ofício ao Prefeito Roberto Cláudio, sugerindo o estabelecimento de uma parceria público-privada para a confecção das hermas – além da do Manuelito a do Guilherme Neto, a do Edilmar Norões e a da Jornalista Ivonete Maia. Mas Adísia foi brindada com silêncio prefeitural absoluto.

Então, ao saber da merecida homenagem que presta a Manuelito Eduardo a Academia Cearense de Letras,  resolvi republicar a crônica abaixo, que escrevi e publiquei quando do seu falecimento, tratando exatamente da omissão dos doutos que estiveram presentes mas fizeram silêncio em seu enterro, quando cabia que, naquela hora extrema, falassem de seus méritos.





MORRE EDUARDO CAMPOS: UM TOQUE DE SILÊNCIO

Foi sepultado na tarde desta quinta-feira, 20 de setembro (2007), o maior orador do Ceará, Manuel Eduardo Pinheiro Campos. Ou, “o último grande orador cearense”, como mais enfaticamente dizia Haroldo Serra, em programa transmitido pela Rádio Universitária, exatamente no momento em que o cortejo de parentes e amigos seguia o féretro em carreata.

Tenho a honra de poder me imiscuir em sua família, na veleidade de fintar um contraparentesco com ele, quando um certo lote de seus sobrinhos afins são meus sobrinhos legítimos, nessa trança em que ainda se enroscam todas as famílias mais antigas da cidade, ao deslindarmos a genealogia cearense como um todo.


Mas o que me fez intumescer os olhos e constranger a garganta ao receber a notícia, e de novo depois, diante do caixão, não foi esse pseudoparentesco que tenho o topete de querer ostentar.

Foi a amizade, foi a gratidão, foi a ternura que aquele homenzarrão me pôs na alma, a afabilidade com que me recebia, a magnanimidade com que acatava os meus apelos, a gentileza com que compareceu a todas as minhas noites de autógrafos para apresentar os trabalhos que fiz publicar.

“Esse Reginaldo é um louco!”, bradava ele do púlpito, com seu vozeirão afetuoso. “Mas um louco adorável!”, rebatia então, depois de provocar acessos de risos na plateia.  “Teima em fazer crônicas, que é um gênero menor, quando na verdade é um contista de mão cheia”. E falava mais, e falava muito, e fazia imagens, e lembrava gentes, sempre encantando a audiência como se fora um canoro pintagol.

No final, em refinada ironia, desculpava-se pela má oratória, “que hoje eu não estou com os meus duendes” – delicada modéstia de querer negar o estro e a verve que na verdade lhe sobravam.

Eduardo Campos teve a ventura de envelhecer, com o bônus da sabedoria e da vivência, sem contudo arrostar o maior ônus da velhice.  Era um homem belo, e não deixou de sê-lo com o avanço dos anos. A senectude não pode com ele. E jamais lhe faltaram o ânimo de tudo dizer com voz potente, que ainda no dia de sua morte os amigos que o visitavam constataram.

Mas lhe faltou no seu enterro a voz alheia, quando nenhum dos presentes àquele ato fúnebre fez uso da palavra, como merecia o ex-presidente e membro destacado de nossa Academia de Letras, fundador da Academia de Retórica. Eu, que fizera o corso até o campo santo e sacrificara o tempo de outro compromisso inadiável para ouvir discursos majestosos encontrei a frustração.

Além das exéquias nas palavras bíblicas do Pastor Elnir Cortez, só o silêncio. Políticos, jornalistas, intelectuais ali presentes quedaram-se mudos. Ainda bem que um bem-te-vi sobrevoou a campa e trinou numa árvore próxima, quebrando o silêncio triste, preenchido de prantos e soluços.

Reginaldo Vasconcelos





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