POR QUE VOTAR?
Arnaldo
Santos*
É consabido que o sistema político partidário e eleitoral brasileiro
apresenta os mais variados desvios, tanto de forma como de conteúdo, e de
comportamento dos participantes.
Por imperativo da verdade é preciso dizer que esses desvios não são
exclusivos dos políticos em suas ações antirrepublicanas, mas também do
eleitor, que em parte ainda vota por interesses particulares, e vende ou troca
seu voto, (e não estou falando só dos eleitores mais simples, mas dos ditos
letrados, politizados e urbanos). Esse comportamento retroalimenta um modelo
político que, a um só tempo, é corrupto e corruptor.
Como jornalista e cientista político participei dessa última campanha.
No primeiro turno percorri a cidade, fiz reuniões com "lideranças"
políticas e comunitárias, e me surpreendi ao constatar que pouco mudou no
comportamento de exploração de parte dos eleitores, e o grau de extorsão
praticada por algumas “lideranças”. Ainda está presente a pergunta: “O que você
me dá para eu votar?”. Até quando?
Essa realidade tem gerado um sentimento coletivo de desprezo pela
política que só agrava o que já é muito ruim, fragilizando a democracia.
Outra grave distorção é o sistema partidário, que mais parece uma feira
de cacarecos com essa infinidade de partidos, voto e coligações para as
eleições proporcionais, dentre outras.
Embora o aumento da abstenção nas eleições do último dia 02 de outubro
tenha sido de apenas 1,5 pontos percentuais, em relação à média histórica, esse
fato foi recepcionado com grande repercussão na imprensa e impacto na classe
política.
A média de abstenção no período (2000 a 2012) foi de dezesseis por
cento, enquanto o percentual de votos nulos e brancos foi de sete, no mesmo período.
No primeiro turno esse percentual subiu para 17,5, o que equivale a
cerca de 25 milhões de eleitores que deixaram de votar. Apesar desse índice ser
relativamente alto, foi considerado normal pelo presidente do TSE, Ministro
Gilmar Mendes.
Essa abstenção, quando somada aos votos nulos e brancos, corresponde a
uma votação que venceria as eleições em 21 capitais, sendo em 10 já no primeiro
turno, e levando para o segundo turno em outras 11. Na prática, é como se o
eleitor tivesse transformado o voto, que é obrigatório, em facultativo.
A pergunta que os políticos tentam responder é: “Por que o eleitor não
foi votar?”. Proponho uma outra angulação para essa reflexão e pergunto: “O que
ainda motiva o cidadão a sair de casa para votar, se o que ele recebe como
retorno é tão pouco, em termos dos serviços essenciais continuados, como saúde,
educação, transporte e segurança, enquanto sobra corrupção?”.
Para entendermos o significado dessa abstenção e do número de votos
nulos e brancos devemos observar igualmente o desinteresse dos jovens entre 16
e 18 anos, (período em que o voto é facultativo). Até junho deste ano apenas
quarenta por cento haviam requerido o título de eleitor, o que significa uma
diminuição de nove por cento, se comparado ao mesmo período de 2012.
Essa realidade nos impõe a todos uma ampla e urgente mobilização em
favor de uma reforma política, que contemple a adoção do voto distrital, fim
das coligações para as eleições proporcionais, e a instituição da cláusula de
desempenho para os partidos, para por fim a essa farra partidária que existe
hoje – 35 partidos registrados e mais de 28 esperando registro pelo TSE.
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