FRANCISCO DE SÁ RORIZ E SUA CONTRIBUIÇÃO AO ENSINO DE ODONTOLOGIA NO
CEARÁ
Ac. José Dilson Vasconcelos de Menezes*
O elemento histórico é indispensável para a verdadeira caracterização de
uma obra e mesmo para sua compreensão estética. (ALCEU AMOROSO LIMA. Rio de Janeiro, 11.12.1893 – Petrópolis,
14.08.1983).
A Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará comemora seu centenário neste
ano (2016).
Essa Instituição de Ensino Superior há prestado, no decorrer de um
século de profícua atuação, excelente concurso, graduando profissionais
farmacêuticos e cirurgiões-dentistas para servirem à sociedade.
Constituiu-se a segunda faculdade instalada no Ceará, porquanto, 13 anos
antes, em 1903, havia sido constituída a Faculdade de Direito do Ceará.
A criação desse centenário estabelecimento deveu-se, principalmente, à
obstinada atuação de Francisco de Sá Roriz, nascido em Jardim, no dia 18 de
abril de 1867, filho de Belarmino Gomes de Sá Roriz e de Jacinta Auta de
Alencar Roriz.
Considerando a escassez de recursos educacionais em Jardim, seus pais,
desejosos de que Sá Roriz recebesse boa instrução, o confiaram, ainda jovem, ao
seu padrinho, Comendador Vasconcelos, residente em Valença, na Bahia.
O Comendador, propenso a assegurar-lhe boa formação cultural e
religiosa, matriculou-o no Seminário. Não se sentindo, porém, vocacionado para a
vida sacerdotal, Sá Roriz fugiu do internato e viajou para Fortaleza, onde se
matriculou na Escola Militar.
Tendo participado, em 1892, do levante dos cadetes contra o Governo do
Coronel Clarindo de Queiroz, foi desligado da Escola Militar e incorporado às Forças Armadas, sendo designado para servir na guarnição de Manaus.
Em 1897, foi transferido para Alegrete-RS, onde, no posto de “Sargento
de Brigada” (do Exército – não confundir com “Brigada”, como é chamada a Polícia Militar do Rio Grande do Sil), passou a servir no 3º
Regimento de Artilharia Montada.
Nessa cidade conheceu o Major Fernando Setembrino de Carvalho, do qual se
tornou amigo e, nos momentos em que conversavam, em diversas ocasiões, declarou
que cultivava o sonho de concluir um curso universitário, a fim de, retornando
ao Ceará, fundar uma faculdade em Fortaleza, porque não se conformava com a
limitação que enfrentavam os jovens conterrâneos para prosseguirem seus estudos,
pois na Capital cearense só existia uma instituição de Ensino Superior - a
Faculdade de Direito.
Tendo sido Setembrino de Carvalho, em 1911, promovido a Coronel, foi
transferido para Porto Alegre e, lembrando do forte desejo expresso por Sá
Roriz, obteve a transferência dele para a Metrópole gaúcha. Com esse gesto,
Setembrino colaborou no sentido de que Sá Roriz iniciasse a longa caminhada em
busca da realização do sonho acalentado.
Chegando a Porto Alegre, de imediato, se matriculou no Curso de
Odontologia, à época, com a duração de dois anos, de sorte que, em 1912, Sá Roriz
graduou-se cirurgião-dentista.
Dois anos após, em 1914, em decorrência da deposição do Coronel Franco
Rabelo, o então General Fernando Setembrino de Carvalho foi designado
Interventor do Estado do Ceará.
Lembrando-se do amigo Sá Roriz, o convidou para comandar o 1º Batalhão
de Polícia do Ceará. Dessa vez, um acontecimento político facilitou a
realização do projeto cultivado pelo já ilustre jardinense, ensejando-lhe
avançar na sua nobre caminhada em prol da ampliação do Ensino Superior no
Ceará. Tendo aceito o convite, Sá Roriz desligou-se do Exército e, no dia 24 de
maio de 1914, desembarcou em Fortaleza.
Estabelecendo-se na Capital do Ceará, iniciou as conversações com
lideranças médicas, odontológicas e farmacêuticas, expondo o seu projeto de
criação de uma faculdade.
Em 20 de novembro de 1914, reuniu, no edifício do Liceu, médicos,
cirurgiões-dentistas e farmacêuticos para um encontro, objetivando a criação de
uma Faculdade de Medicina, Farmácia e Odontologia.
Naquela oportunidade, foi instituída a Faculdade de Medicina Tropical,
Farmácia e Odontologia, tendo sido aclamado diretor da novel Entidade o médico
Dr. Eduardo Salgado.
No ano seguinte, entretanto, o Dr. Eduardo Salgado, interpretando o
sentimento da categoria médica, declarou que haviam chegado à conclusão de que,
em Fortaleza, ainda não havia as condições necessárias para o funcionamento de
um estabelecimento de ensino médico. Sá Roriz, porém, não arrefeceu do seu
intento e declarou que concentraria seus esforços na instituição de uma
Faculdade de Farmácia e Odontologia.
As reuniões prosseguiram no consultório do Dr. Raimundo Gomes,
localizado na rua Major Facundo nº 39 (altos) e, no dia 12 de março de 1916,
foi fundada a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, pelos cirurgiões-dentistas
Francisco de Sá Roriz, Raymundo Gomes, Pedro Veríssimo de Araújo, Mozart
Catunda Gondim e Mamede Cirino de Lima, e pelo farmacêutico Affonso de Pontes
Medeiros.
Naquela data, foi ministrada pelo Dr. Francisco de Sá Roriz. a aula
inaugural, na sede do Centro Espírita Cearense, localizado no 2º quarteirão da
rua Major Facundo.
O professor e médico José Leite Maranhão – catedrático de Higiene e Legislação
Farmacêutica, em 1962, presidindo a Comissão Diretora dos Anais da Faculdade de
Farmácia e Odontologia, referindo-se à valiosa contribuição de Francisco de Sá
Roriz ao Ensino Superior do Ceará, registrou na mencionada publicação, o
seguinte depoimento:
“A Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, simples ideia, a
princípio, gerada numa obsessão psicodinâmica e evoluída numa gestação
acidentada e heroica, sonho acalentado numa perspectiva de rara concepção
altruística, tornou-se uma realidade magnífica, fecundada num prodígio de
audácia e decisão, e aí está, para edificação da posteridade”.
Francisco de Sá Roriz, sem dúvida, foi o pioneiro laureado dessa obra
benemérita: gerou a Faculdade, numa vigorosa decisão do seu apostolado
humanístico, contribuindo, assim, decisivamente, para a ampliação do ensino no
Ceará e para a melhoria da saúde dos
cearenses, em virtude da formação de farmacêuticos e cirurgiões-dentistas.
A Academia Cearense de Odontologia, fundada em 1984, num reconhecimento
à magnanimidade da obra realizada por Francisco de Sá Roriz, o elegeu seu
Patrono.
Lamentavelmente, não há outros registros de homenagem a esse militar e
cirurgião-dentista que tanto benefício ensejou ao nosso rincão. Nem a
Universidade Federal do Ceará, nem os Poderes Legislativos e Executivos do
nosso Estado prestaram o merecido preito de gratidão a esse valioso cearense.
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