segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

ARTIGO - Que País é Esse? (AS)


QUE PAÍS É ESSE?
Arnaldo Santos*


Nas favelas, no Senado, sujeira para todo lado, ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da Nação”. Percebeu já o leitor o fato de eu haver iniciado essa despretensiosa reflexão com o título e a primeira estrofe da música de interpretação da banda Legião Urbana, a qual, ao tempo em que nos encanta, consubstancia a crise ética e moral (imoral mesmo) que se vivencia no Brasil, com reflexos diretos na Política e na Economia, cujas consequências em maior ou menor grau nos atinge a todos.

– Que país é esse, onde a Chefe do Governo, mesmo tendo sido eleita por ampla, porém heterogênea coalizão partidária (talvez esse seja o problema), não governa? Sim, pois é refém de um Congresso dissociado dos interesses do País, bem como dos numerosos partidos que a elegeram. Vítima da sua inapetência para a Política, assim também de um agudo apetite para mandar e decidir sozinha sobre o que não entende.

– Que país é esse, no qual o terceiro homem da República, na linha de sucessão, (deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara), é denunciado como corrupto e achacador, segundo palavras do ex-governador e ministro Cid Gomes, ratificadas no pedido de cassação do seu mandato, encaminhado ao STF, pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot?

– Que país é esse, que, pela primeira vez em sua história, registra a prisão de um senador (Delcídio do Amaral, que ainda está preso na penitenciária em Brasília), em pleno exercício do mandato, na condição de Líder do Governo, vivendo em concomitância na condição de membro da Câmara Alta do País e de recluso penal, respondendo por crimes de corrupção e obstrução da Justiça, ao lado de outros não menos famosos da política e da economia brasileiras, alcançados pelos autos da “Operação Lava Jato”?

– Que país é esse, em que a Petrobrás, sua principal organização estatal, fundada em 1953, uma das cinco maiores instituições de petróleo do Mundo nas últimas duas décadas, vinha sendo dilapidada por uma centena de políticos, donos das maiores organizações empresariais brasileiras, e de uma dezena de diretores, indicados pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e LULA da Silva, e da presidente Dilma Rousseff, sem que o Tribunal de Contas da União nem a Controladoria-Geral da União, órgãos federais de controle, e a própria Polícia Federal, tenham sido capazes de detectar?

Afinal, foram pelo menos 20 anos de fraudes em licitações, compras superfaturadas e pagamentos de propinas equivalentes a mais de cem bilhões de dólares. O que faziam, então, esses organismos de reparação ao tempo em que se criou a maior “escola de corrupção” de que se tem notícia? Não é fora de propósito mencionar diretamente uma parte do Hino Nacional, assinalando que estavam “deitado(as) eternamente em berço esplêndido”! Em certo sentido, pois, essa crise tem vínculos com a degradação do poder político, “o fim do poder”, de que nos fala Moisés Naím, quando acentua: “No Século XXI, o poder é mais fácil de se obter, mais difícil de se utilizar e mais fácil de se perder”.

– Que país é esse, cujo regime democrático, que nos permite liberdade de expressão, direitos e garantias individuais, reconhece alguns direitos às minorias (reconhecer e permitir não significa assegurar), não afiança o acesso aos serviços de saúde, não abona segurança à integridade física do cidadão, não cuida como devia das suas crianças e, ainda por cima, abandona seus idosos? O que pensar, por conseguinte, de uma Nação que, mesmo sendo democrática, nela o poder ainda é exercido pelos poucos grupos de influência, sobretudo econômica, pois a participação cidadã ainda é limitada ao processo eleitoral delegativo aos representantes, sem qualquer controle sobre os eleitos?

Tudo isso nos remete a refletir e buscar entender as causas que estão levando o poder político a perder o seu valor. A primeira grande mudança identificada é que os líderes, antes restritos aos partidos e aos governos, já não são mais somente eles. Muitos desses “líderes”, em tempos hodiernos, encontramos no mundo digital – padres artistas, fanqueiros, blogueiras de moda e MCs são exemplos.

– Que país é mesmo esse?



OBS.: Artigo Publicado na edição de 14 de fevereiro no Jornal Diário do Nordeste.



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