segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ARTIGO - A Ilegitimidade Institucional (RMR)

A ILEGITIMIDADE INSTITUCIONAL
Rui Martinho Rodrigues*


O Congresso é autodestrutivo. É a casa da pluralidade. As partes se entredevoram, e a autocrítica compromete a imagem da instituição. Escândalos trouxeram desmoralização às suas duas casas. Foi chantageado por um dilúvio de mandados de busca e apreensão dirigidos contra parlamentares integrantes de um só partido, quando aproximadamente uma dezena de agremiações estava sendo investigada; foi coagido explicitamente, quando o seu Presidente, após ser alvo de pedido de busca e apreensão, foi poupado pelo STF, no momento em que aderiu ao governismo. O Legislativo faliu.

O Executivo nomeia interventor para a liderança de um grande partido. A pulverização de agremiações e a desagregação de bancadas tornam inoperante o Congresso. Falta uma maioria para legitimar decisões. Submetido aos decretos disfarçados de medidas provisórias, o Legislativo vive um dos seus piores momentos.

A principal atividade dos nossos congressistas é a sobrevivência política própria, da titular do Poder Executivo, ou do partido.

O governo está paralisado. Quando decide agir o faz de forma vacilante, exceto nos erros. Praticou preços artificialmente baixos de combustíveis, destruindo o programa de etanol e a Petrobrás. Desestruturou o sistema de eletricidade com esta mesma política de preços praticada no altar das eleições. O projeto de poder é o seu único propósito. Jogou fora o bônus demográfico e o tempo das vacas gordas dos preços favoráveis de grãos e minérios exportados. Tentou baixar os juros por decreto, sem equilibrar as contas públicas, fracassando grosseiramente, como não poderia deixar de ser.
Fez o desastre.
 
Falta liderança, credibilidade, competência e habilidade política. A Presidente tentou destruir o PMDB, estimulando a criação do PSD e do PROS; fingiu partilhar o governo ao entregar ministérios, mas não prestigiou ministros. Isolou-se e provocou a guerra parlamentar. Marqueteiros habilidosos conseguiram satanizar a reivindicação de aliados. O bônus do poder foi negado a quem arrostou o ônus das decisões desastrosas do governo.

A “sociedade civil organizada”, apresentada como democracia aprofundada, é a sociedade civil aparelhada, formada por pelegos e messiânicos vitimados pela cegueira ideológica.

Os partidos políticos não têm representatividade. Até o lamentável personalismo esvaneceu-se. Não temos projetos nem propostas aglutinadoras de uma maioria capaz de legitimar um governo. Sem partidos, sem líderes, sem propostas, afirmam os brasileiros: “Mas as instituições estão funcionando!”. Funcionam legitimamente? Não. Legislativo e Executivo não satisfazem tal requisito.

Restaria o judiciário? Bem, o STF transformou-se em SLF, o “Supremo Legislador Federal”. Alegam os defensores do ativismo judicial que o Legislativo se omite. Sim, e isto significa que a legislação feita no SLF foi tacitamente rejeitada no Congresso e tal rejeição é legítima. Temos uma constituinte permanente, o SLF, sem um só voto popular. É mais uma instituição cuja legitimidade está ferida de morte.

Será a ingovernabilidade? A História encontrará uma saída, e é nisso que reside o perigo.



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