sábado, 6 de fevereiro de 2016

ARTIGO - Livre Pensar (HE)

LIVRE PENSAR
Humberto Ellery*

Com certeza, operários tão logo se tornem governantes, ou representantes do povo, cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-los. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.

Com é notória a minha ojeriza ao Sr. Lula da Silva, estão talvez pensando que escrevi esse prólogo para criticá-lo. Ocorre que as palavras deste primeiro parágrafo não são minhas, mas do anarquista Mikhail Bakunin. E ele nem conheceu a tal pessoa!

Eu não comungo das ideias anarquistas de Bakunin, e quem me conhece sabe que eu não atrelo meu pensar a nenhuma ideologia (Millôr Fernandes dizia que ideologia não é uma maneira de pensar, mas um trilho para “não pensar”).

Isso, justamente para me permitir pesquisar e conhecer,
de modo absolutamente imparcial e isento, o pensamento de filósofos, ideólogos, sociólogos e demais pensadores (que valham a pena ser conhecidos), e daí beber o que me é palatável, e cuspir o inaceitável.

Eu acredito que as ideologias, sejam de esquerda, direita, ou que lado tenham, produzem uma patologia intelectual chamada “cegueira ideológica” que inabilita o estudioso para a descoberta de valores em outros pensares, além do que mata no nascedouro qualquer discussão filosófica que se pretenda em decorrência da intolerância inerente ao escravo da ideologia. 

A posição do Bakunin sobre religião, por exemplo, é totalmente absurda, não porque eu discorde, mas porque a História discorda dele (vou preparar um post discutindo suas ideias sobre esse assunto em breve). Bakunin criticava fortemente o que ele chamava de “socialismo autoritário” e a “ditadura do proletariado”, associados a Karl Marx, a quem considerava arrogante, embora aceitasse suas teorias econômicas sobre o capitalismo (se podem assim ser chamadas).

A propósito do autoritarismo, Bakunin dizia que “se você pegar o mais ardoroso revolucionário e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele será pior do que o Czar”.  Aliás o Lord Acton disse mais ou menos a mesma coisa, com outras palavras.

Gosto sobremaneira de seu posicionamento contrário ao que disse Marx,  em seu livro “A Ideologia Alemã”, quando explicitou como funcionaria o dogma fundamental do Comunismo: “De cada qual segundo sua capacidade; a cada qual segundo sua necessidade.

(...) Assim que a distribuição do trabalho passa a existir, cada homem tem um círculo de atividade determinado e exclusivo que lhe é IMPOSTO, E DO QUAL NÃO PODE SAIR; será caçador, pescador, pastor ou um crítico e terá de continuar a sê-lo SE NÃO QUISER PERDER SEUS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA”.

Bakunin retrucou: “Aquele que puser as mãos sobre mim pra me governar é um usurpador, um tirano, e eu o declaro meu inimigo”. Entre o Comunismo liberticida de Marx e o Anarquismo libertário de Bakunin não restam dúvidas de que fico com este.

E assim, o que começou quase como uma brincadeira entre uma afirmação de Bakunin e o comportamento político do metalúrgico que inaugurou o Brasil, terminei escrevendo um longo artigo sobre Anarquismo, Comunismo e outros “ismos” que tais.

Voltando ao Millôr: “Livre pensar é só pensar”.



NOTA DO EDITOR:

1. O autor cita Millôr Fernandes de forma reiterada. Como se sabe, este foi um grande pensador satírico, de talento sem par no jornalismo brasileiro.

Suas tiradas de espírito trazem reflexões leves e bem humoradas, porém de grande verdade lógica e de profundidade filosófica.

Sobre a polarização ideológica mundial contemporânea, Millôr Fernandes resumiu: “O capitalismo é a exploração do homem pelo homem; o comunismo é exatamente o contrário”.

2. Sobre o mesmo tema, profetizou o então Presidente da República, João Batista Figueiredo, o General que iniciou o processo de abertura política no Brasil:

Vocês querem, então eu vou reconhecer esse sindicato como partido. Mas não esqueçam que um dia esse partido (PT) chegará ao poder. Lá estando, tudo fará para instituir o comunismo. Nesse dia vocês vão querer tirá-lo de lá. E para tirá-lo de lá será a custa de muito sangue. Sangue brasileiro, porra!”.

O General Figueiredo só não podia prever que nesse ínterim o comunismo se revelaria inviável, por apostar na virtude – cada um aceitando e promovendo a igualdade social – quando a natureza humana pende inexoravelmente para a tirania de uns contra todos, para que o instinto de livre competição seja amputado, a sorte de cada um controlada, e o mérito de cada qual desconsiderado. 
     

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