LIVRE PENSAR
Humberto Ellery*
Com
certeza, operários tão logo se tornem governantes, ou representantes do povo,
cessarão de ser operários e por-se-ão a observar o mundo proletário de cima do
Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de
governá-los. Quem duvida disso não conhece a natureza humana.
Com
é notória a minha ojeriza ao Sr. Lula da Silva, estão talvez pensando que
escrevi esse prólogo para criticá-lo. Ocorre que as palavras deste primeiro
parágrafo não são minhas, mas do anarquista Mikhail Bakunin. E ele nem conheceu
a tal pessoa!
Eu
não comungo das ideias anarquistas de Bakunin, e quem me conhece sabe que eu
não atrelo meu pensar a nenhuma ideologia (Millôr Fernandes dizia que ideologia não é
uma maneira de pensar, mas um trilho para “não pensar”).
Isso,
justamente para me permitir pesquisar e conhecer,
de modo absolutamente imparcial e isento, o pensamento de filósofos, ideólogos, sociólogos e demais pensadores (que valham a pena ser conhecidos), e daí beber o que me é palatável, e cuspir o inaceitável.
de modo absolutamente imparcial e isento, o pensamento de filósofos, ideólogos, sociólogos e demais pensadores (que valham a pena ser conhecidos), e daí beber o que me é palatável, e cuspir o inaceitável.
Eu acredito que as ideologias, sejam de esquerda, direita, ou que lado tenham, produzem uma patologia intelectual chamada “cegueira ideológica” que inabilita o estudioso para a descoberta de valores em outros pensares, além do que mata no nascedouro qualquer discussão filosófica que se pretenda em decorrência da intolerância inerente ao escravo da ideologia.
A
posição do Bakunin sobre religião, por exemplo, é totalmente absurda, não
porque eu discorde, mas porque a História discorda dele (vou preparar um post
discutindo suas ideias sobre esse assunto em breve). Bakunin criticava fortemente
o que ele chamava de “socialismo autoritário” e a “ditadura do proletariado”,
associados a Karl Marx, a quem considerava arrogante, embora aceitasse suas teorias
econômicas sobre o capitalismo (se podem assim ser chamadas).
A propósito do autoritarismo, Bakunin dizia que “se você pegar o mais ardoroso revolucionário e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele será pior do que o Czar”. Aliás o Lord Acton disse mais ou menos a mesma coisa, com outras palavras.
Gosto sobremaneira de seu posicionamento contrário ao que disse Marx, em seu livro “A Ideologia Alemã”, quando explicitou como funcionaria o dogma fundamental do Comunismo: “De cada qual segundo sua capacidade; a cada qual segundo sua necessidade.
(...)
Assim que a distribuição do trabalho
passa a existir, cada homem tem um círculo de atividade determinado e exclusivo
que lhe é IMPOSTO, E DO QUAL NÃO PODE SAIR; será caçador, pescador, pastor ou
um crítico e terá de continuar a sê-lo SE NÃO QUISER PERDER SEUS MEIOS DE SUBSISTÊNCIA”.
Bakunin
retrucou: “Aquele que puser as mãos sobre
mim pra me governar é um usurpador, um tirano, e eu o declaro meu inimigo”.
Entre o Comunismo liberticida de Marx e o Anarquismo libertário de Bakunin não
restam dúvidas de que fico com este.
E
assim, o que começou quase como uma brincadeira entre uma afirmação de Bakunin
e o comportamento político do metalúrgico que inaugurou o Brasil, terminei
escrevendo um longo artigo sobre Anarquismo, Comunismo e outros “ismos” que
tais.
Voltando ao Millôr: “Livre pensar é só pensar”.
NOTA
DO EDITOR:
1.
O autor cita Millôr Fernandes de forma reiterada. Como se sabe, este foi um
grande pensador satírico, de talento sem par no jornalismo brasileiro.
Suas
tiradas de espírito trazem reflexões leves e bem humoradas, porém de grande
verdade lógica e de profundidade filosófica.
Sobre
a polarização ideológica mundial contemporânea, Millôr Fernandes resumiu: “O capitalismo é a exploração do homem pelo
homem; o comunismo é exatamente o contrário”.
2.
Sobre o mesmo tema, profetizou o então Presidente da República, João Batista Figueiredo, o General que iniciou o processo de abertura política no Brasil:
“Vocês querem, então eu vou reconhecer esse
sindicato como partido. Mas não esqueçam que um dia esse partido (PT) chegará ao
poder. Lá estando, tudo fará para instituir o comunismo. Nesse dia vocês vão
querer tirá-lo de lá. E para tirá-lo de lá será a custa de muito sangue. Sangue
brasileiro, porra!”.
O
General Figueiredo só não podia prever que nesse ínterim o comunismo se
revelaria inviável, por apostar na virtude – cada um aceitando e promovendo a
igualdade social – quando a natureza humana pende inexoravelmente para a tirania
de uns contra todos, para que o instinto de livre competição seja amputado, a sorte de cada um controlada, e o mérito de cada qual desconsiderado.
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