IDOSO E QUALIDADE DE VIDA
Estudos em Profundidade
Vianney Mesquita*
Tinha Moisés
cento e vinte anos quando morreu; jamais, porém, a vista se lhe diminuiu
tampouco os dentes se abalaram.
(BÍBLIA, Deuteronômio, 34-7).
Assistimos, com incomum sentimento de
felicidade, à evolução, em quantidade e profundez científica, de estudos tendo
por escopo a demanda pela saúde em todas as compreensões.
Seus temas envolvem pesquisa básica, gêneros
e os próprios momentos etários, sexualidade, menarca, menstruação, gravidez,
puerpério e parto, modalidades de atenção e acessibilidade, tecnologias de
assistência, cirurgias, emprego holístico no acolhimento e no cuidado, bem como
toda a vasta conjunção de fatores que maximizam as condições de higidez humana.
Por tais pretextos e como resultado da
diligência de organismos internacionais, esforço comum dos Estados bem
constituídos, e, em particular, réplica ao empenho das pessoas responsáveis
pelo bem-estar geral, em ultrapasse à simples inexistência de doenças - como
intenta a Organização Mundial e Saúde – eis que os números de óbitos definham nas
estatísticas, ao mesmo passo em que se proporciona a probabilidade de vida ao
nascer.
Esta proeminente ocorrência, então,
desanuvia os olhos leitores, de estudiosos do assunto ou estremes curiosos, porquanto
impõe o decréscimo de seus percentuais, de cujo quadro ressai o alento da
sociedade com o novo status quo, representativo de perspectivas de
viver mais salutarmente, em especial, no referente à possibilidade de uma existência
bem alargada – e de vida com maior qualidade.
Reduzidos os indicativos de
mortalidade, frutos dos procedimentos antes expressos, em proporção direta à
dilatação da esperança vital e imediatamente originária dos progressos
experimentados, sob o ponto de vista das Ciências da Saúde e o prisma de suas
tecnologias, impende, todavia, conceder inferencial resposta a uma indagação de
relevo – logo a seguir expressa – máxime em relação às investigações nas áreas
de Geriatria e Gerontologia, como resultam as que são relatadas nesta obra de
incontestado valor, da lavra de quatro pesquisadoras expoentes do âmbito de
estudos em Saúde no Ceará.
Tal pergunta se configura no fato de
estar ou não o acrescimento do tempo de existir da humana espécie emparelhado a
uma circunstância sadia, de verdadeira fortaleza mental e física, até o termo
corporal, aos noventa, cem ou mais anos.
Então, se, como em dezenas de exemplos
que possamos suscitar, a longevidade é acompanhada por indisposições físicas e/ou
intelectivas oriundas de quaisquer órgãos, transitórias ou constantes; caso
haja achaques corporais e psíquicos em todo o decurso, também temporários ou
ininterruptos; existindo sempre, como exprime a opinião comum, um ai e um ui!; e na eventualidade de os seres mais vetustos não se postarem
nos limites escalares previstos para atender às atividades da vida diária (AVD)
- terá pagado a pena desenvolver tanta
lida para os cuidadores e excessiva despesa para o Estado e a família, se o
período foi de sobejo padecimento, tanto para o idoso como os demais seres
dessa relação?
Consoante a Organização Mundial de
Saúde – OMS (WHOQOL, 1995, 1403), em leitura livre, a QV está conformada no
entendimento, por parte da pessoa, de seu estado na vida, na contextura
cultural e na sua concepção acerca dos valores, junto aos quais ela desenvolve
a existência, no que respeita aos seus objetivos, esperanças, modelos e
cuidados.
Expressa a literatura (GARRIDO e
MENEZES, 2002) o que já é cediço, mesmo por parte das pessoas comuns, bem
escolarizadas e somente afeiçoadas a essa temática, até pela audiência dos
meios de propagação coletiva: a noção de que, em consequência dos anos de vida
a mais, registrados nas estatísticas e suas inferências, havendo-se também
transmudado a feição epidemiológica dos idosos, é preciso, ainda mais –
aditando-se nossa satisfação expressa no começo destas notas – haver bem mais
ensaios dirigidos aos estados físicos, mentais e sociais dos grupos gerônticos,
na demanda de informes convincentes, como contributo para propiciar-lhes mais
QV, porquanto o novo perfil epidemiológico registra enfermidades
infectocontagiosas, concedendo vez às injúrias crônicas e degenerativas, de
modo a ser possível advir um agravamento na tábua de qualidade de vida a ser
expressa pelos censos específicos.
De tal maneira, procedidas a estas
notações propedêuticas, aliás do lado de uma pessoa leiga sob o espectro legal,
nesta feição de ciência examinada pelas autoras, vemos, assim mesmo, pois facílimo
de deduzir, como indiscutivelmente idôneos os ensaios com as assinaturas das
professoras doutoras Irismar de Almeida, Fátima Maciel Araújo, Maria Vieira L.
Saintrain e Marlene Cidrack, militantes na docência de alteados estudos
acadêmicos, componentes do chamado “Alto Clero” nas pesquisas acerca de Saúde
no Ceará.
São
relevantes, porquanto o mero crescimento da idade longeva, embora fático,
requer mais saberes, para exercer seus influxos no domínio das condições de QV
desses componentes mais experimentados da sociedade, agora bem mais extensa do
que dantes, mercê da dianteira imprimida nos estudos e recompensa dos seus
resultados práticos.
Sob a óptica das investigadoras, nas
considerações de início, este livro pode propiciar dados, a fim de se ter
condição de aferir, em segunda instância, as políticas oficiais no âmbito do
SUS, com vistas à atenção integralizada ao ajuntamento populacional sob exame,
concedendo vez ao Princípio da Equidade.
Informam as pesquisadoras, com suporte
em Buss (2000), ser necessário, “mais do que o acesso aos serviços
médico-assistenciais, enfrentar os determinantes de saúde em toda sua
amplitude” e, mais ainda, louvando-se em Camarano (2005), impõe-se formular
“políticas como elemento-chave para a diferenciação entre as capacidades e
incapacidades do segmento populacional idoso”.
A investigação procedida leva em
conta, ainda, fenômenos intervenientes na QV daqueles mais na idade, passíveis
de servir como norte, a fim de que os trabalhadores do Setor sob exame tenham
condições de propiciar ações de Saúde contextualizadas de acolhimento,
prestando-se, ainda, a demarcar aquelas operações esboçadas em favor do público
de sessenta anos ou mais.
Com efeito, sem a pretensão de
antecipar uma leitura que possa até não coincidir com a decodificação a ser
procedida pelos leitores, cumpre-nos dizer, ainda, que, sob o aspecto dos
procedimentos metodológicos, este conjunto de ensaios de teor quantitativo,
analítico, descritivo, interinstitucional e interdisciplinar, aplicado em três
macrorregiões de saúde do Estado do Ceará, vai resultar de considerável
serventia. Tal ocorrerá porque aduz a continuidade de estudos cujo intento é
cultivar, à perfeição, a saúde do contingente idoso habitante dos lugares-campos
de prova onde se efetivou a pesquisa, enlarguecendo, na sequência e em
agrupamento a outras análises semelhantes, este desideratum a todo o universo gerôntico do nosso Estado e do País.
Assim, esses escritos visaram a
conformar a ideia de Qualidade de Vida à realidade de redução da idade
obituária do contingente examinado, com suas consequentes extensões a outros
lugares, isto é, permanência longa na dimensão terrena, sem sofrimento para
qualquer das partes sob relação, deseixadas dos percalços de enfermidades
físico-corporais e intelectivas após a senescência, o que constitui uma vitória
da Ciência, por intermédio de seus investigadores, em dádiva merecida aos
nossos gerontos, que, assim, podem caminhar, relativamente saudáveis, até o
natural exício após o máximo de tempo que, na ideia de Arnold Toynbee, a “Mãe
Natureza” puder conceder.
E eis que as Edições UECE aditam aos seus recheios editoriais outro compêndio de
qualidade, com este Saúde do Idoso e
Qualidade de Vida – Investigação dos Fatores Determinantes – fato que
faz acrescer o seu conceito, em meio à atividade produtiva de textos
universitários, no âmbito das casas publicadoras universitárias do País, cujo
acervo já é considerável, haja vista o pouco tempo em que milita na nobílima
ação de fazer escoar a extensa obra acadêmica de seus docentes e pesquisadores,
bem como de outras instituições convenentes.
BIBLIOGRAFIA
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Saúde e Qualidade de Vida. Ciência e
Saúde Coletiva. V. 5 n. 1, 2000, pp. 163-77.
CAMARANO, Ana Amélia. Idosos Brasileiros: Indicadores de
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GARRIDO, Regiane; MENEZES, Paulo
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(Sup 1), 2002, pp.3-6.
VECCHIA, RDA.; RUIZ, T.; BOCCHI, SCM et alii.
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Organization Qualit of Life Assessment: Position Paper from the World Health
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