sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

ARTIGO - Idoso e Qualidade de Vida (VM)

IDOSO E QUALIDADE DE VIDA
Estudos em Profundidade
Vianney Mesquita*


Tinha Moisés cento e vinte anos quando morreu; jamais, porém, a vista se lhe diminuiu tampouco os dentes se abalaram. (BÍBLIA, Deuteronômio, 34-7).


Assistimos, com incomum sentimento de felicidade, à evolução, em quantidade e profundez científica, de estudos tendo por escopo a demanda pela saúde em todas as compreensões.

Seus temas envolvem pesquisa básica, gêneros e os próprios momentos etários, sexualidade, menarca, menstruação, gravidez, puerpério e parto, modalidades de atenção e acessibilidade, tecnologias de assistência, cirurgias, emprego holístico no acolhimento e no cuidado, bem como toda a vasta conjunção de fatores que maximizam as condições de higidez humana.

Por tais pretextos e como resultado da diligência de organismos internacionais, esforço comum dos Estados bem constituídos, e, em particular, réplica ao empenho das pessoas responsáveis pelo bem-estar geral, em ultrapasse à simples inexistência de doenças - como intenta a Organização Mundial e Saúde – eis que os números de óbitos definham nas estatísticas, ao mesmo passo em que se proporciona a probabilidade de vida ao nascer.

Esta proeminente ocorrência, então, desanuvia os olhos leitores, de estudiosos do assunto ou estremes curiosos, porquanto impõe o decréscimo de seus percentuais, de cujo quadro ressai o alento da sociedade com o novo status quo, representativo de perspectivas de viver mais salutarmente, em especial, no referente à possibilidade de uma existência bem alargada – e de vida com maior qualidade.

Reduzidos os indicativos de mortalidade, frutos dos procedimentos antes expressos, em proporção direta à dilatação da esperança vital e imediatamente originária dos progressos experimentados, sob o ponto de vista das Ciências da Saúde e o prisma de suas tecnologias, impende, todavia, conceder inferencial resposta a uma indagação de relevo – logo a seguir expressa  máxime em relação às investigações nas áreas de Geriatria e Gerontologia, como resultam as que são relatadas nesta obra de incontestado valor, da lavra de quatro pesquisadoras expoentes do âmbito de estudos em Saúde no Ceará.

Tal pergunta se configura no fato de estar ou não o acrescimento do tempo de existir da humana espécie emparelhado a uma circunstância sadia, de verdadeira fortaleza mental e física, até o termo corporal, aos noventa, cem ou mais anos.

Então, se, como em dezenas de exemplos que possamos suscitar, a longevidade é acompanhada por indisposições físicas e/ou intelectivas oriundas de quaisquer órgãos, transitórias ou constantes; caso haja achaques corporais e psíquicos em todo o decurso, também temporários ou ininterruptos; existindo sempre, como exprime a opinião comum, um ai e um ui!; e na eventualidade de os seres mais vetustos não se postarem nos limites escalares previstos para atender às atividades da vida diária (AVD) -  terá pagado a pena desenvolver tanta lida para os cuidadores e excessiva despesa para o Estado e a família, se o período foi de sobejo padecimento, tanto para o idoso como os demais seres dessa relação?

Consoante a Organização Mundial de Saúde – OMS (WHOQOL, 1995, 1403), em leitura livre, a QV está conformada no entendimento, por parte da pessoa, de seu estado na vida, na contextura cultural e na sua concepção acerca dos valores, junto aos quais ela desenvolve a existência, no que respeita aos seus objetivos, esperanças, modelos e cuidados.

Expressa a literatura (GARRIDO e MENEZES, 2002) o que já é cediço, mesmo por parte das pessoas comuns, bem escolarizadas e somente afeiçoadas a essa temática, até pela audiência dos meios de propagação coletiva: a noção de que, em consequência dos anos de vida a mais, registrados nas estatísticas e suas inferências, havendo-se também transmudado a feição epidemiológica dos idosos, é preciso, ainda mais – aditando-se nossa satisfação expressa no começo destas notas – haver bem mais ensaios dirigidos aos estados físicos, mentais e sociais dos grupos gerônticos, na demanda de informes convincentes, como contributo para propiciar-lhes mais QV, porquanto o novo perfil epidemiológico registra enfermidades infectocontagiosas, concedendo vez às injúrias crônicas e degenerativas, de modo a ser possível advir um agravamento na tábua de qualidade de vida a ser expressa pelos censos específicos.
  
De tal maneira, procedidas a estas notações propedêuticas, aliás do lado de uma pessoa leiga sob o espectro legal, nesta feição de ciência examinada pelas autoras, vemos, assim mesmo, pois facílimo de deduzir, como indiscutivelmente idôneos os ensaios com as assinaturas das professoras doutoras Irismar de Almeida, Fátima Maciel Araújo, Maria Vieira L. Saintrain e Marlene Cidrack, militantes na docência de alteados estudos acadêmicos, componentes do chamado “Alto Clero” nas pesquisas acerca de Saúde no Ceará.

São relevantes, porquanto o mero crescimento da idade longeva, embora fático, requer mais saberes, para exercer seus influxos no domínio das condições de QV desses componentes mais experimentados da sociedade, agora bem mais extensa do que dantes, mercê da dianteira imprimida nos estudos e recompensa dos seus resultados práticos.

Sob a óptica das investigadoras, nas considerações de início, este livro pode propiciar dados, a fim de se ter condição de aferir, em segunda instância, as políticas oficiais no âmbito do SUS, com vistas à atenção integralizada ao ajuntamento populacional sob exame, concedendo vez ao Princípio da Equidade.

Informam as pesquisadoras, com suporte em Buss (2000), ser necessário, “mais do que o acesso aos serviços médico-assistenciais, enfrentar os determinantes de saúde em toda sua amplitude” e, mais ainda, louvando-se em Camarano (2005), impõe-se formular “políticas como elemento-chave para a diferenciação entre as capacidades e incapacidades do segmento populacional idoso”.

A investigação procedida leva em conta, ainda, fenômenos intervenientes na QV daqueles mais na idade, passíveis de servir como norte, a fim de que os trabalhadores do Setor sob exame tenham condições de propiciar ações de Saúde contextualizadas de acolhimento, prestando-se, ainda, a demarcar aquelas operações esboçadas em favor do público de sessenta anos ou mais.

Com efeito, sem a pretensão de antecipar uma leitura que possa até não coincidir com a decodificação a ser procedida pelos leitores, cumpre-nos dizer, ainda, que, sob o aspecto dos procedimentos metodológicos, este conjunto de ensaios de teor quantitativo, analítico, descritivo, interinstitucional e interdisciplinar, aplicado em três macrorregiões de saúde do Estado do Ceará, vai resultar de considerável serventia. Tal ocorrerá porque aduz a continuidade de estudos cujo intento é cultivar, à perfeição, a saúde do contingente idoso habitante dos lugares-campos de prova onde se efetivou a pesquisa, enlarguecendo, na sequência e em agrupamento a outras análises semelhantes, este desideratum a todo o universo gerôntico do nosso Estado e do País.

Assim, esses escritos visaram a conformar a ideia de Qualidade de Vida à realidade de redução da idade obituária do contingente examinado, com suas consequentes extensões a outros lugares, isto é, permanência longa na dimensão terrena, sem sofrimento para qualquer das partes sob relação, deseixadas dos percalços de enfermidades físico-corporais e intelectivas após a senescência, o que constitui uma vitória da Ciência, por intermédio de seus investigadores, em dádiva merecida aos nossos gerontos, que, assim, podem caminhar, relativamente saudáveis, até o natural exício após o máximo de tempo que, na ideia de Arnold Toynbee, a “Mãe Natureza” puder conceder.

E eis que as Edições UECE aditam aos seus recheios editoriais outro compêndio de qualidade, com este Saúde do Idoso e Qualidade de Vida – Investigação dos Fatores Determinantesfato que faz acrescer o seu conceito, em meio à atividade produtiva de textos universitários, no âmbito das casas publicadoras universitárias do País, cujo acervo já é considerável, haja vista o pouco tempo em que milita na nobílima ação de fazer escoar a extensa obra acadêmica de seus docentes e pesquisadores, bem como de outras instituições convenentes.

BIBLIOGRAFIA

BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da Saúde e Qualidade de Vida. Ciência e Saúde Coletiva. V. 5 n. 1, 2000, pp. 163-77.

CAMARANO, Ana Amélia. Idosos Brasileiros: Indicadores de Condições de Vida e de Acompanhamento de Políticas. Brasília-DF. Presidência da República. Subsecretaria de Direitos Humanos. 2005.

FLECK, Marcelo P.; CHACHAMOVICH, Eduardo; TRENTRINI, Clarissa. Projeto WHOQOL-OLD: Métodos e Resultados de Grupos Focais no Brasil. Rev. Saúde Pública. V. 37, n. 6, 2003, pp. 793-799.

GARRIDO, Regiane; MENEZES, Paulo Rossi. O Brasil está envelhecendo: boas e más notícias por uma perspectiva epidemiológica. Rev. Bras. Psiquiatr., 24 (Sup 1), 2002, pp.3-6.

VECCHIA, RDA.; RUIZ, T.; BOCCHI, SCM et alii. Qualidade de Vida na Terceira Idade: um Conceito Subjetivo. Rev. Bras. Epidemiol. V.8, n. 3, 2005, pp. 246-252.

WHOQOL. The Whoqol Group. The World Health Organization Qualit of Life Assessment: Position Paper from the World Health Organization.  Soc. Sci. Med, n. 41, 1995, pp. 1403-10.



                                   

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