terça-feira, 1 de julho de 2014

CRÔNICA (WI)

O BRASIL E OS TURISTAS
Wilson Ibiapina*


A copa da Fifa serviu para mostrar ao mundo o nosso poder de improvisação, visto pelos visitantes como a grande arte do brasileiro. Muita gente deste mundo de meu Deus achava que ia encontrar apenas índios, cobras, macacos e mulheres viciadas em sexo. Quebraram a cara quando se depararam com a beleza natural do Rio, com a arquitetura de Niemeyer, os espaços de Brasília, as praias do Nordeste, nossa música, a diversidade de ritmos, o sabor da rica culinária, a cordialidade do povo.

O tratamento que os estrangeiros receberam encantou a todos. Prestaram atenção em tudo, até na nossa mania de tomar banho diariamente, coisa que a maioria deles não faz. Além de limpos somos higiênicos. Não tocamos a comida com a mão, usamos guardanapo. Escovar os dentes após as refeições é outro costume que deslumbrou a francesa Nathalie Touratier. Almoço como principal refeição do dia virou exemplo para holandeses ingleses e neozelandeses.O jeitinho brasileiro foi visto com admiração pelos turistas . A importância que damos à família chamou, também, a atenção dos visitantes. Acompanhavam avós passeando nas ruas e praças com filhos e netos. 

O abraço entre amigos ou até desconhecidos foi lembrado por muitos visitantes que não estavam acostumados a tamanha confraternização. Lá fora o abraço só é dado entre a família. Na Ásia, chineses, coreanos e japoneses nem se tocam. O cumprimento é feito à distancia. O atendimento no comércio, com os vendedores acompanhando, oferecendo produtos, é outro ponto forte do Brasil que eles destacam como profissionalismo e cordialidade. E as festas? As pessoas movidas à caipirinha, que virou paixão dos gringos, só vão pra casa pela manhã, quando o Sol já ilumina tudo.

Mas nós, também, nos encantamos com os turistas que deixam por aqui alguns ensinamentos. Os brasileiros, por exemplo, ficaram impressionados com os japoneses catando lixo nos estádios após os jogos. Nas redes sociais, dizem que gostaram tanto que vão tomar uma atitude. Nos próximos jogos cada brasileiro vai levar um japonês. 

Agora, sem brincadeira, a vinda dos turistas, além da grana que deixam por aqui, serviu para mostrar como se comportam pessoas com costumes tão diferentes. A maior prova da impressão que os estrangeiros causaram está na matéria que O Globo publicou. O repórter Rubem Berta, conta que depois de um jogo da Copa, no Castelão, em Fortaleza, encontrou um garoto de uns dez anos vendendo balas na porta do hotel onde estava hospedada a seleção da Costa do Marfim. O garoto ajuda a mãe desempregada:

– E aí garoto, o que você quer ser quando crescer? 

Pensando que ele ia dizer que queria ser jogador de futebol, ficou surpreso com a resposta: 

– Quando eu crescer quero ser turista. Eles falam inglês, não falam?


*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ


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