quinta-feira, 17 de julho de 2014

ARTIGO (VM)

MARCONDES ROSA DE SOUSA
Homo faber da Modernidade
Vianney Mesquita*

A terra, quando não lavrada, produz abrolhos e espinhos, embora seja muito fértil. A igual acontece com a inteligência dos homens. (Santa Teresa de Jesus, Santa Teresa d’Ávila, nascida Teresa Sanchez de Cepeda y Ahumada. *Gotarrendura, 28.03.1515; +Alba de Tormes, 04.10.1582)         .

O intelectual, filósofo, diplomata e psicólogo francês Henri Bergson (*Paris, 18.10.1859; +04.01.1941) cunhou a dicção Homo faber, posteriormente massificada pela filósofa tedesca, de origem judaica, Hannah Arendt. Mencionada expressão, em língua do Lacio, correspondente a Homem artífice.

Com isso, tencionou o “Descartes da Psicologia” designar, primeiramente, o homem posto em meio à Natureza, perante a qual havia de alevantar, ele próprio, os utensílios absolutamente necessários para sua manutenção.

Para o Autor de Ensaios sobre os dados imediatos da Consciência e detentor do Prêmio Nobel de Literatura, versão 1927, esta ação edificadora, correlata à unidade de ideia Vita activa, em Arendt, constitui a própria causa da evolução intelectiva, differentia specifica do ser humano em relação aos animais inferiores (anima nobili – anima vili, nas experiências científicas), nomeadamente por via da linguagem.

Consoante o nosso autor de Matéria e Memória, a reflexão, na sua origem, adida à vontade e à inteligência, constitui faculdade utilitária, da qual o homem conservava um distintivo de rigidez e aspereza, evidentemente abstraindo as fulgurações do pensamento e a agressão de valores que as pessoas artífices foram transferindo, via gerações, como desdobre sofisticado dos seus já não mais “grosseiros utensílios” com os quais sustinham a própria vida.

O Homo faber bergsoniano, ao contornar dificuldades e conformar problemas em soluções para uma vida melhor – no começo e paulatinamente se moldando à Natureza e a esta controlando – aportou à Modernidade no curso da história.

Descansa, agora, o homem artífice, não somente na manufatura de instrumentos para sua manutenção, como também assoberbado com a convivência, o mais harmoniosamente possível, dos seus semelhantes, ante a extraordinária evolução assunta pela Humanidade como rebento da sua indústria intelectual, não mais rude e deseixada da aspereza mencionada pelo Filósofo de A Evolução Criadora – Henri Bergson.

Sabe a descendência inteira do Homo faber, diferentemente do Homo sapiens, o fato de ser imperioso não apenas estar em dia com o estado d’arte de todas as coisas, mas também há de ter a visão prospectiva para amanhar bem a terra do futuro que a receberá brevemente. Deve estar, por conseguinte, atualizada e na vanguarda do seu tempo.

Dos bilhões e bilhões de descendentes do Homo faber, há um em particular, a quem me refiro, como 1) diligente na manufatura dos seus utensílios, 2) hábílimo no acompanhamento de sua evolução e 3) cuidadoso no preparo da seara no aguardo do amanhã.

Esse Homem artífice é o autor de Educação – Insistências e Mutações, professor, por excelência, Marcondes Rosa de Sousa.

Sei que é sobejante, beira o trivial, apresentar este advogado, professor e cronista ao Ceará culto, que o conhece e aprecia, em decorrência das suas qualidades de intelectual preparado para ser docente, em especial pela via da extensão humana – divisada nos anos 1960/70 pelo canadiano Marshal McLuhan – dos meios de propagação coletiva.

Não há de ser de todo inócuo, entretanto, referir ao fato de que Marcondes Rosa de Sousa é, no Estado do Ceará, referência terciária de preparo intelectual, bem acima de média, homem de vita activa (evocando Hannah Arendt) e pós-moderna, porquanto costuma ver ao longe o desdobramento das ocorrências, ao raciocinar sobre os ciclos da história para extrair ilações, as quais, nas mais das vezes, se confirmam.

Reconhecidamente um professor destro na seara da Língua Portuguesa, já deixou história e escola nas duas academias por cujas cátedras transitou ao curso de três dezenas de anos ou um pouco mais – as Universidades Federal do Ceará e Estadual do Ceará – no momento jubilado por tempo de serviço em ambas as instituições.

Fora da Cadeira, dedicou vigorosamente o talento à cultura e à educação do Estado, máxime na área da Comunicação, pois dirigiu a Rádio Universitária-FM e a então TV Educativa do Ceará – Canal 5, com descortino e sabedoria, veiculando, no curso de alguns anos, um comentário, todos os dias, pela mencionada emissora de rádio, com invejável audiência, tudo isto sem falar nas funções de elevada assessoria em diversos exercícios na Administração Superior da Universidade Federal do Ceará, incluindo o cargo de pró-reitor de extensão por dois períodos.

Marcondes Rosa de Sousa advogou com sucesso, em banca da qual se desfez para se dedicar com exclusividade ao magistério superior e ao jornalismo de colaboração, na qualidade de educador e causídico.

Durante algum tempo, exerceu, no plano de Secretário de Estado, a Presidência do Conselho de Educação do Ceará, onde desenvolveu um trabalho paradigmático no âmbito das políticas educacionais da nossa Unidade Federada, sendo, ipso facto, constantemente convidado a ministrar aulas e proferir conferências a respeito de temas educacionais – e de outros, porque sua formação eclética o permite – em várias cidades brasileiras.

Sua crônica multivariada e copiosa, veiculada nos jornais de Fortaleza – cuja amostra-tipo configura o teor de Educação: Insistência e Mutações – privilegia assuntos de alevantado interesse social, de sorte que o tenho como estalão de professor, que faz do desenvolvimento da sociedade, pela educação de qualidade, cultura, tecnologia e artes, seu labor de espírito, como verdadeiro Homo faber da Pós-Modernidade, agora Animal laborans.

Guardo a honra e a sorte de haver sido seu escolar, na Universidade Federal do Ceará, de Marcondes Rosa de Sousa, exemplar de pessoa e componente da fina flor da intelectualidade cearense.

*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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