quinta-feira, 24 de julho de 2014

ARTIGO (CB)

ANASTÁCIO MAIA 
E O AÇUDE ORÓS
Cássio Borges*

Faleceu, no último sábado, em Fortaleza, um dos engenheiros mais representativos da vitoriosa história do Departamento Nacional de Obras contra as Secas – DNOCS. Trata-se de Anastácio Honório Maia, o construtor do Açude Orós no início da década de 60.

Esta imensa barragem é, sem dúvida, uma das obras da maior importância estratégica e econômica realizada pelo DNOCS nos seus 105 anos de existência. Na época, quando inicialmente foi projetada, era considerada como sendo uma das maiores barragens do mundo com quatro bilhões de metros cúbicos de água.

Quem conhece o real drama das secas no Nordeste e no Ceará, em particular, compreende de imediato a importância estratégica desta  represa, encravada em pleno coração da região mais seca do Estado do Ceará. Os primeiros estudos para construção do Açude Orós data de 1912 e, em 10 de outubro daquele ano, um grande incêndio nos escritórios do DNOCS, em Fortaleza, destruiu seu primeiro projeto e respectivos estudos.

Em 1958, um ano das mais aterradoras secas na região nordestina, aproveitando a mão de obra dos flagelados, iniciou-se o preparo das fundações para a construção da grande obra, de sorte que as chuvas já as encontrassem prontas no início de 1959. À frente da equipe estava o Eng.º Anastácio Maia. Nascia, assim, mais uma comunidade no Estado do Ceará: o município de Orós.

Após o inverno de 1959, que foi regular no vale do Rio Jaguaribe, o rio foi finalmente fechado. Chegou 1960 e, como sempre, a situação era de expectativa. Será seca? Desde 1950 o Nordeste atravessava um dos períodos mais secos de sua história. As águas do inverno de 1960 começaram a impor receios ainda nos primeiros dias de janeiro, face o imprevisível. Chuvas em todo o interior do Estado. 

Verdadeira massa humana a revezar-se com as máquinas, objetivando elevar mais alguns centímetros a barragem, a fim de aumentar sua capacidade e represar milhões de metros cúbicos de água ameaçadora que chegava. Homens, meninos de todas as idades entre a passagem de duas máquinas, de pá, picareta, enxada ou mesmo com as mãos trabalhavam incessantemente. No Posto Fluviométrico do DNOCS (instalado em 1911, provavelmente o primeiro da América do Sul), localizado em Iguatu, dizia da elevação sempre crescente do nível do rio.

Exatamente aos 17 minutos do dia 26 de janeiro começou a ocorrer o transbordamento. O reservatório continuava enchendo e, cerca de 30 minutos após, ouviu-se um estrondo tal qual gigantesca cachoeira. A água transbordava pelo meio da barragem e, logo em seguida, em toda a extensão dos seus 600 metros.

Não houve o terrível rompimento da barragem. A erosão processou-se relativamente lenta no meio da barragem de terra. Estava praticamente definida a situação. Restavam 2/3 do maciço. Viu-se, então, a solidez da obra. O Orós comportou-se de maneira inédita. Uma vitória da engenharia do DNOCS.



Os Técnicos daquele Departamento tendo à frente o Engº Anastácio Maia e outros do mesmo gabarito técnico/profissional, já estavam com planos de construir, de imediato, os açudes Banabuiú, Castanheiro, no Rio Salgado, em Lavras da Mangabeira, e de Boa Esperança no Estado do Piauí, as maiores obras programadas após a conclusão do Orós.

* Cássio Borges
Ex-Diretor do DNOCS
Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica de Pernambuco, com cursos de especialização em Hidrologia e recursos hídricos, pela Escola Nacional de Engenharia e Pontifícia Universidade Católica-PUC, ambas do Rio de Janeiro. É Membro Honorário da ACLJ.
   

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