A MORTE DE IMORTAIS.
O FATO JORNALÍSTICO
E O MARCO HISTÓRICO
Reginaldo Vasconcelos*
E O MARCO HISTÓRICO
Reginaldo Vasconcelos*
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHAWoyND_1as8UHrKJuD_5OWuHDGsmomphCa8qmiOJ5U5J24CZEtCqpKqZ7h308-WG_ZuhFOzTODNgOw5hugt66WR9iOk94VN3rFu9lfSuhDctu557Mslj89Rs12QJ8Hxtr8nfZ9YH1mOm/s1600/IMORTAIS+I.png)
Mas os dois últimos a falecer eram da ala dos acadêmicos nordestinos
– outra coincidência histórica. Ambos grandes estrelas de popularidade nacional,
gente cujas letras decolaram para o teatro, o cinema, a televisão.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhV7VmF1G5lNk0OsScQpVCojHuigT4MdBhcPSzwOWTBhz1G4rULuoqdNMh7E4dDYLK7sO7jrz17vI4w6EFLuwalfKCbPFKhqckfWTL04CYeaXOXTQTZYlRjt11IQVbhlxa-affXP44vzcSC/s1600/IMORTAIS+II.jpg)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEip23O6jLYCkTghJSXl-Z4_Qp3138yOmvzOobPWq7sxaCyK1cnNqeBpVxHXr6aEh7qbgQ5gKr6mpRCe056Kfi4F2KpUHLFagjgP0XT630hAwsVqw9PNhlPSpY8SOpNvZQdkUYHnK1cXveE1/s1600/IMORTAIS+III.jpg)
Então se repete na mídia o cacoete de se abordar parentes e
amigos de cada um dos defuntos para lhes ouvir opiniões, deflagrando uma
cascata de lugares comuns e obviedades – pessoa inesquecível, perda
irreparável, tristeza profunda.
Autoridades, por seu turno, divulgam notas de pesar compostas
a partir de um manual de meia dúzia de frases que os assessores embaralham e
recombinam, sem poderem disfarçar a banalidade dos termos surrados. Para traduzir a perda de entes queridos ou célebres só o abraço e o silêncio, no máximo toques de sinos. Todas as palavras são supérfluas.
A morte natural na maturidade é tão previsível e inevitável
quanto os consequentes necrológios e epitáfios tautológicos. Tragédias para as famílias
enlutadas, apenas marcos históricos para a sociedade, em se tratando de homens
públicos que falecem.
Avoco-me, toda sorte, a obrigação de dizer algo, em nome da ACLJ,
sobre os fatos jornalísticos da sequência de eventos funestos no âmbito da
nossa congênere nacional, dois deles envolvendo intelectuais nordestinos, e
sobre o marco entrevisto no fim de ciclos literários intensamente produtivos.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9bLIDOqoy5J-J4nzLfdnWky3aD_I6oy8t9v2kIDU3s7Hdarp1aiH28XmLh4o-AFQiCZGW96bBhrmdCiQiLwuuc3X8OeCX1EWuH98BRILHcENEXEHXYDk8a4N7D1t3ZFHejFwQwnB5WOL9/s1600/IMORTAIS+VII.jpg)
Era um dos ícones da ilustre baianidade contemporânea, da
qual fizeram ou fazem parte Carybé e Jorge Amado, Glauber Rocha e Raul Seixas,
Gilberto Gil e Caetano Veloso. João Ubaldo viveu com prazer e morreu com honra.
Ariano Suassuna, também formado em Direito, era mais solar e menos marinho que o seu
comoriente baiano. Casou uma só vez e com a sua musa eterna, Zélia – a “mulher vestida
de sol”.
Criou e presidiu o “Movimento Armorial”, que pretendia
armar uma cruzada pela cultura sertaneja, contra influências estranhas, dotando
de nobreza heráldica própria todas as manifestações artísticas do semiárido
brasileiro.
O repente, a viola, a cantoria, a sanfona, o cordel, a
xilografia, o mamulengo, a cerâmica rústica, a vaqueirice, o cangaço, o xote, o xaxado, a caatinga, o couro cru, a culinária cabocla, a província, a paróquia, tudo isso
compunha o universo telúrico de Ariano Suassuna, e tudo isso perpassa a sua vasta produção literária, tão
bela quanto original, cuja obra-prima é o conto burlesco “Auto da Compadecida”,
que do teatro virou cinema e conquistou o país inteiro. Suassuna viveu com honra e
morreu feliz.
*Reginaldo Vasconcelos
Advogado e Jornalista
Titular da Cadeira de nº 20 da ACLJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário