sexta-feira, 14 de junho de 2013

O REMÉDIO E O VENENO


Diz-se com propriedade que a única distinção entre o remédio e o veneno é a dose ministrada. De fato, muitos venenos, inclusive a peçonha das víboras, podem se converter em valiosos medicamentos, desde que utilizados na medida necessária.

Por outro lado, qualquer substância tida como inofensiva, ainda que o mais doce néctar, mesmo os mais alimentares ou curativos produtos naturais, até os linimentos,  infusões e meizinhas inocentes, farão mal aos organismos, se excessivamente consumidos.

Leite e mel, por exemplo, são substâncias biblicamente abençoadas, tanto que o primeiro, mesmo quando coalha e azeda é benéfico e saudável, enquanto o segundo sequer chega a apodrecer, porque é virtualmente incorruptível.

Pois até esses dois milenares e históricos alimentos humanos farão mal a qualquer um que os resolva sorver em grande quantidade ou com frequência exagerada. Esse exemplo indica que a moderação é um predicado essencial.

Pois é do abuso de justos remédios e do excesso de melífluos conceitos que são feitas as dores da sociedade brasileira no momento. As mais nobres virtudes, exageradas na dose, convertem-se nos vezos mais odientos e nos mais deletérios vícios, sob o pálio genérico do “politicamente correto”.

Assim é que os chamados “direitos humanos”, que deveriam apenas proteger os condenados do tratamento desumano das masmorras do medievo (o que não conseguem), terminam por se transfundir na defesa cega e indiscriminada de criminosos contumazes, que se multiplicam e se avolumam na arte de predar os cidadãos.

Tanto assim que policiais pisam em ovos no combate á criminalidade, pois conhecem o risco de vir a pagar uma pena maior que a do oponente ímprobo, caso se considere que excedeu na energia contra ele. Uma pequena escoriação em um criminoso, que resulte da sua necessária contenção, pode se transformar em acusação de espancamento.

Agora mesmo um homem de bem está ameaçado de responder criminalmente por lesão corporal, porque, tendo sido agredido e espoliado em assalto a mão armada, ao deslocar o seu veículo, após o roubo sofrido, ainda em estado de choque e sob violenta emoção, atropelou o assaltante.

O criminoso, uma vez refeito dos ferimentos, continuará na sua rotina de prisões e livramentos, para permanecer delinquindo, enquanto a sua vítima corre o risco de ter sua reputação social e a sua autoestima arrasadas por uma injusta e cruel condenação.

Os índios brasileiros, por seu turno, de fato merecem uma especial atenção do Estado, para que obtenham progresso intelectual e econômico, a exemplo dos demais cidadãos, conservando a estética e a essência da sua cultura original, como fazem os judeus, os ciganos e os afrodescendentes.




No entanto, os nossos autóctones são relegados a silvícolas ignaros tutelados, pelo nosso ordenamento jurídico e pelas políticas de governo, destituídos de responsabilidade cível, condenados a viver em reservas territoriais imensas, que já não têm como explorar, áreas sumariamente expropriadas de agricultores que as manteriam produtivas.

Como não podem mais ficar imunes às influências da modernidade e aos usos da civilização atual, as novas gerações de aborígenes, quando menos organizadas, caem na prostituição, no alcoolismo, no consumo de drogas e até no suicídio, passando a delinquentes e invasores violentos de terras quando se procuram organizar. Enfim, o remédio social excessivo os envenena.


Assim também com os quilombolas, com os sem-terra, com os menores infratores e como os homossexuais – esses últimos que, ao invés de conquistarem o respeito da sociedade para a legitimação de sua condição de gênero, reduzindo a fobia social que os rejeita, são compelidos ou estimulados ao ridículo acintoso das passeatas gays, tornando-se cada vez mais repelidos pelos que, por razões religiosas, culturais ou ideológicas, os antagonizam. Enfim, está tudo errado mesmo!


Por Reginaldo Vasconcelos

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