sexta-feira, 21 de junho de 2013

CRÔNICA

AMANHÃ EU TAMBÉM VOU

Precisamos compreender que há um mundo que se desfaz em suas arrogâncias e certezas, há uma crise civilizatória de um modelo economicista e predatório que se esgota. Estas manifestações estão acontecendo no mundo todo, não é apenas no Brasil.

É como se maio de 68 fosse apenas um ensaio para o que vivemos hoje, sendo o que vivemos hoje no mundo mais significante e intenso, pois se trata da agonia de uma civilização, de um modelo violento e injusto.

Este é o momento de um PARTO. Não sabemos ainda quem é a criança e com quem se parece. O movimento dos indignados é contra tudo que "aí está" e acontece em todos os lugares: em nova Iorque, em Madrid, em Berlim, no Rio, em Atenas, no Cairo, em Fortaleza, em Ancara, em Teresina... Neste momento, não existem pautas e nem podem existir pautas. Existem esperanças que revigoram
o mundo e a humanidade.

As multidões podem produzir transformações para o bem e para o mal. Em todas estas transformações profundas, teremos o caos. Sempre foi assim em toda a história da humanidade. "Do caos à luz", já dizia Nietzsche. Poderíamos dizer que desta civilização apodrecida pode nascer uma flor de lótus (um novo processo).

Dizem que Buda Shakyamuni, certa vez, em silêncio, girou nos dedos uma flor de lótus, como "sermão", e apenas um dos seus discípulos, Mahakassyapa, percebeu o ensinamento. Sorriu e se iluminou. Ele compreendeu que aquela flor branca e puríssima vinha dos pântanos e do caos. Da mesma forma, no caos aparente é preciso compreender o novo, a luz que da nova ordem civilizatória se anuncia.

Talvez, estejamos vivendo um momento assim, e ainda não tenhamos a capacidade do discípulo de Buda para compreender e nos iluminar. O mundo como está é insustentável e insuportável.

Mesmo que estas manifestações, no Brasil, cessem amanhã, nada será como antes, e o processo continuará, pois o mal-estar é mais profundo e vai além dos discursos políticos tradicionais, de esquerda ou direita, que se uniram achando que "esquerda e direita unidas jamais serão vencidas". Serão sim!

Embora seja um texto antigo, recomendo a leitura do "Mal-estar da Civilização" de Freud. Faz tempo que este modelo de civilização vem apodrecendo... O que foi a primeira guerra mundial com os seus 50 milhões de mortos? Foi um sangradouro armado pelo capitalismo em defesa de seus privilégios.

A esperança é que pipoquem em todo o mundo mil e uma revoltas de indignados, se possível com canções, flores e poesia. Afinal de contas "Há algo de podre no reino da Dinamarca". (Hamlet, pela escrita de 
William Shakespeare). Achei bonito ver meus filhos e meus netos nas ruas. Amanhã eu também vou.

Como cada um pode se expressar livremente, vou levar um cartaz dizendo: PAREM DE MATAR ÍNDIOS - ESTE GENOCÍDIO JÁ DURA 500 ANOS.

 Por Rosemberg Cariry
             Cineasta e Jornalista  
       Cadeira de nº 27 da ACLJ

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