sábado, 21 de dezembro de 2013

CRÔNICA


AMOR ÉTNICO 
Por Thiena Vasconcelos*


“Três povos foram convocados pela História para formar uma nova nação. Esta é a melhor leitura que se pode fazer da etnia brasileira”.       
(Reginaldo Vasconcelos)




Na festa à fantasia, perguntaram qual era a minha... Eu respondi: “cara-metade da minha irmã". Mas, diariamente, eu sou metade dela.

Eu vi a entrada do ano de 1987 com os olhos dela. Eu conheci os "Menudos" na história dela. Ouvia Taiguara, Pablo Milanês, Oswaldo Montenegro e Cindy Lauper porque era o gosto musical dela. Eu me viciei na Olivia Newton John em "Grease – Nos Tempos da Brilhantina", quanto eu tive que assistir deitada com ela na cama (ainda existia o Intercine) – e eu só tinha oito anos.

Eu aprendi a me maquiar, e a fazer trança no cabelo, e a me vestir copiando o que ela fazia. Ela me ensinou a andar a cavalo, a jogar vôlei, a esmurrar quem quisesse brigar comigo. Ela fazia comidas deliciosas e nós duas quase entramos juntas em depressão quando ela casou e saiu de casa.

A gente ri uma da outra, e uma com a outra também. Ela se desesperou quando eu levei um choque na geladeira, e quando eu fui arrastada por um carro num atropelamento. Ela me ensinou a andar jogando o cabelo pro lado, e que devo dançar forró nas pontas dos pés, porque assim é mais feminino e delicado.

Mas já brigamos, já nos odiamos varias vezes antes de tomar café da manhã juntas, mangando da cara inchada da mamãe quando acorda.

Nós inventamos o dia do "Natal Secreto" que é sempre só a gente. Acontece entre o Natal e o Ano Novo na casa dela, e pedimos sempre do mesmo restaurante, especial para esse dia.

A gente esconde coisas dos outros, nunca uma da outra. Ela me mostrou que temos que fazer sacrifícios pelos outros, nos entregar mesmo, de cabeça, que com certeza a gente se ferra, mas tudo bem, porque no fim temos uma a outra. Somos inseparáveis... Minha metade "negona" é a maior parte de mim.

 *Thiena Vasconcelos
          Universitária
   Paracadêmica da ACLJ

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