terça-feira, 12 de agosto de 2014

RESENHA (VM)

O ENGRAXATE E OUTROS SUICIDAS
Vianney Mesquita*

Os livros são os túmulos dos que não podem morrer. (Robert William Chambers, novelista e contista ianque. *Brooklin-NY, 26.05.1865; + New York City, 16.12.1933).

Na contextura das letras de ficção, é notório o fato de o gênero conto ser havido como casta bastante difícil de ser trabalhada pelo escritor, máxime por se tratar de história relativamente curta e completa, com, obrigatoriamente, exórdio, meio e fim. Esta grade composicional solicita de seu criador bem mais engenho, em cotejo com outras espécies de manifestação literoartística.

O exercício da prosa ficcional por intermédio desses gimmics requer aprimorada prontidão intelectual, mais sutileza do autor, habilidade e talento.

Repele a intenção de escritores menos aparelhados intelectivamente de se aventurarem pelos seus recintos e meandros, em razão do balizamento imposto pelas instâncias requisitadas por tal espécie de entrecho, pressuposto de inteligência e gênio inventivo, dotes não disponíveis aos frequentadores da tão conhecida “vala comum”.

Assentirá, por certo, o leitor na ideia destas anotações, ao deparar as peças do causeur de O Engraxate e Outros Suicidas, do noviço (mas expedito) escritor Antônio Carneiro Mendes Jr.   Sua feição restou docentemente planeada pelo meu saudoso mestre na U.F.C., José Alcides Pinto (Y São Francisco do Estreito Santana do Acaraú, 10.09.1923;  Fortaleza, 02.06.2008), em veros e alentados comentários, aportando ao livro real diploma de valor. Convenhamos na ideia de que, do elevado de seu patim literário, o multipremiado autor de O Dragão (opus magnum, para mim) não haveria de deitar ponderadas e tão bastantes apreciações, não fosse o alcance artístico das peças aqui por ele comentadas.

Mendes Junior, por conseguinte, cuidou de homenagear o gênero conto, em seus espaços e comissuras, porquanto este, além de relativamente breve e exato, admite somente um conflito, ação singular, sem os desdobramentos acolhidos, exempli gratia, pelos romances e novelas.

Ordinariamente, a beleza da composição se encontra numa ambiência limitada a uma quantidade mínima de personagens, devendo-se costurar seu argumento em certa unidade temporal.  A esses pressupostos o autor prestou obediência, até respeitando seu comparte na outra ponta da comunicação, não lhe adiantando, por mera gratuidade, inferências óbvias, nem lhe atropelando a indústria interpretativa.

De tal sorte, diviso nos textos de Mendes Junior a propriedade em relação ao gênero e a inventiva do escritor em decurso de maturação no treino literário. Em tudo isso é assistido pela permanente atualização fatual, sem, entretanto, descurar da informação já acumulada em excepcionais leituras – comportamento que a ele confere, de plano, o perfil de excelente autor, na expectação de mais e tão bem tramados argumentos, a fim de granjear admiradores apostos no seu mesmo plano imaginativo e decodizante.

Seu livro representa fantasia do real, verossimilhança da faculdade imaginativa.
  
*Vianney Mesquita 
 Docente da UFC 
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa  
Acadêmico Emérito-titular da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo 
Escritor e Jornalista

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