quarta-feira, 20 de agosto de 2014

CRÔNICA (WI)

LIÇÕES DE UM VELHO JORNALISTA

Wilson Ibiapina*


Ele é a cara do Jornal do Brasil. O jornal carioca já se foi das bancas mas ele continua na ativa. A primeira vez que ouvi seu nome foi pronunciado por Tarcísio Holanda, que tem uma admiração profunda por sua competência. Wilson Figueiredo, Wilson Charuto (por causa do vício) ou simplesmente Figueiró, é um marco na história da imprensa.

Na entrevista que concedeu a Paulo Chico, publicada no jornal da ABI, Wilson Figueiredo analisa o cenário da imprensa, fala de sua trajetória e do amor ao texto. Diz que o jornalismo é um exercício literário.

Poeta por vocação, trocou a carreira literária pelo jornalismo. Nascido no Espirito Santo, a exemplo do gaúcho Mauro Santayana, do piauiense Carlos Castelo Branco ou do baiano Sebastião Nery, Wilson Figueiredo começou na imprensa mineira. Ele diz que se sente mineiro, “pois Minas é um vício”.

Quando começou em 1944 na redação do Estado de Minas não existia curso de jornalismo. Desistiu de fazer Medicina e foi fazer jornalismo na redação. Lembra que era diferente. Tinha menos redatores e mais material. Recebia informação de agência e fundia tudo em matéria. 

Depois foi para O Jornal, no Rio e em seguida no Jornal do Brasil, onde ficou famoso como colunista e editorialista. Quando começou não havia curso, quanto mais diploma de jornalista. Acredita que o jornalismo de hoje só foi possível porque usou como mão de obra jornalistas que fizeram curso e chegaram com o diploma. Palavas dele: “Essa mania de combater o diploma não quer dizer nada. Talvez alguns precisem disso em um país de precário nível social. Mas o jornal precisa do repórter que saí, que vai para a rua e sabe do que está falando- sabe que é uma profissão. Os cursos de Jornalismo fizeram um bem enorme para a profissão. Acabar com a exigência do diploma, na verdade, apenas desestimula o jovem a estudar”. Algumas de suas opiniões:


A INTERNET
  
A criação de novos meios fez do jornalismo uma coisa maior do que ele é e acabou por enriquecer e diversificar a prática. Agora, por outro lado, surgiu o amadorismo no lugar do profissionalismo. Nesse ambiente há uma tendencia que escapa ao princípio do jornalismo, que é a impessoalidade”.


JORNALISMO

Para mim, o jornalismo não é o jornal. Ele já existia mesmo antes de haver o jornal. O jornal tornou-se veículo de uma coisa chamado jornalismo, que nada mais é do que uma plataforma, um meio de progressão da informação, do andamento das notícias, da difusão das ideias, dos costumes. Vi o rádio nascer. Naquela época disseram que o rádio iria matar o jornalismo impresso. Bobagem. Pelo contrário, o jornalismo ganhou foi um aliado. O mesmo aconteceu com a televisão e agora se repete com a Internet. Ou seja, a tecnologia em questão pode até ser nova, mas essa história de fim do jornal impresso é velha pra caramba”.

Hoje , aos 88 anos de idade, Wilson Figueiredo continua na ativa. Conta Paulo Chico que ele vai a pé de sua casa no Leblon, até Ipanema, onde trabalha na FSB Comunicações. Quase todo dia, para mostrar seu vigor, que não sente o peso da idade. Wilson Figueiredo se diverte quando lhe perguntam se é o jornalista mais velho na ativa: “Evito pensar que possa ser o mais antigo jornalista em atividade no País. Há de haver outro desgraçado, e ainda mais velho, por aí”.

*Wilson Ibiapina
Jornalista
Diretor da Sucursal do Sistema Verdes Mares de Comunicação
em Brasília - DF
Titular da Cadeira de nº 39 da ACLJ



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