GERÚNDIOS
DE VIVER E AMAR
Acerca da Pessoa e de um Livro de
Carlos Fernandes Gurjão
Vianney
Mesquita*
Não é o acaso, decerto, outra
coisa senão o pseudônimo de Deus, quando Ele não quer assinar. (Theóphile
Gautier, 1811-1872).
Naquela ocasião, hoje assaz remota, experimentei da agradável
companhia desta pessoa, na apreciação dos seus qualificativos intelectuais e
lhaneza de tratamento, como jovem de educação esmerada, de futuro promissor,
fato a se comprovar pouquíssimo tempo depois, quando o Dr. Gurjão se fez
facultativo pelo Curso de Medicina da mencionada Academia.
Um lapso enorme, mais de quatro decênios, apartou nossa hígida e
desinteressada convivência, cada qual tomando rumo próprio, sequenciando nossos
misteres profissionais em espaços díspares, sem jamais nos avistarmos, mercê
dos campos funcionais, distintos e distantes. Tal situação restou adjuvada pela
evolução de Fortaleza, com inusitado crescimento demográfico e excepcional
medrança social, ao ponto de se haver tornado a quinta urbe do País.
Esse acaso nos depôs, novamente, em contato, evento venturoso
para mim – o de reeditar a interrompida amizade.
O autor de Vivendo e
Amando, sem duvida, com a decisão de escrever, aflui à reflexão de Jean
Richepin, médico militar (Argélia, Y 04.02.1849;
†
2.12.1926), para quem os poetas são pobres crianças, ao se distraírem fazendo
bolhas de sabão com suas lágrimas, entendendo ser, ainda, a poesia a eles
necessária, consoante sucede com todos os homens, pois quem não gosta de versos
conserva um espírito seco e pesado, hajam vistas serem os versos, na realidade,
a música da alma. E nisto o Dr. Carlos Gurjão é um virtuoso.
E a vida deste poeta – tranquila, cordata, amorosa e benfazeja –
é vera poesia, a qual, na sua acepção
ampla, é o antever de muito longe, o ousar denodado, o cravar os olhos no sol do
ideal sem trepidar e ver no homem, tão claramente como o corpo pedindo pão e
vestido, um espírito exigente de luz e um coração somente de amor refestelado,
na exata configuração de Antônio Feliciano de Castilho.
De parabéns o autor e a literatura por mais esta produção, cujo
influxo o leitor pode comprovar ao se regozijar com sua leitura.
(1) Fizeram, também, parte desse curso, além do Dr. Gurjão, os
imortais da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, Paulo Maria Aragão e
Antônio Vicente de Alencar.
*Vianney Mesquita
Docente da UFC
Acadêmico Titular da Academia Cearense da Língua Portuguesa
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