quinta-feira, 21 de agosto de 2014

ARTIGO (AS)

Aprendiz de Rei
Arnaldo Santos*


A política traz em sua essência a busca incessante pela coroa do rei simbolizada pelo poder que a corte confere aos eleitos.

Em busca dessa conquista os candidatos ao trono se nos apresentam cheios de boas intenções, espírito público e sentimento humanista. Não raro temos a falsa impressão de que estarmos diante de homens dotados de “virtudes” como a “compaixão” com o sofrimento do povo, “prudência”, moral e bom senso. Uma vez entronados, bem... o resultado em maior ou menor grau todos nós sentimos na pele, quão afiada é a espada dos aprendizes de rei.

Ao escrever esse texto o faço com a intenção de contribuir para que possamos fazer uma reflexão sobre a discussão até aqui apresentada por aqueles que disputam essas eleições.

Uso a expressão “contribuir” porque não tenho a pretensão de dizer o que deve ou não ser debatido, mas igualmente chamar atenção do eleitor para a pobreza de ideias e propostas a que estamos assistindo nessa campanha, pela televisão.

Dois meses de campanha já se passaram e ainda não percebemos uma discussão substantiva, uma ideia-força que possa ancorar o debate eleitoral, e não será por falta de temas importantes para a sociedade que teremos uma campanha medíocre em termos de debate, sobre propostas que possam resultar em políticas de governo.

Um rápido olhar no cenário nacional, para muito além dos programas Bolsa Família, e Mais Médicos, se vão ou não ser mantidos por quem venha a ser eleito, em caso de vitória da oposição, ou se a Petrobras teve ou não prejuízo com a compra da refinaria de Passadena, seria mais proativo debater a redefinição da matriz energética do país. 

Afinal, se quisermos ter condições de fazer crescer a economia, o ponto de partida é a geração de energia, e ao que nos consta, estamos prestes a crises de desabastecimento de água e energia. Por que não se discute uma política de segurança nacional para o combate ao crime organizado e à disseminação das drogas que vicejam em todo país? Afinal, que país queremos construir até a metade deste Século?

Quando observamos o cenário aqui no Ceará a pobreza de temas e ideias é ainda mais acentuada. Em vez de se discutir, por exemplo, o que fazer para conter os alarmantes índices de assassinatos, assaltos, explosões de bancos e o alto consumo de crack, discute-se a riqueza dos candidatos, o fato de uma única família continuar gerindo o poder, etc. Será essa a agenda prioritária da população cearense?

Mesmo consciente de que na política não há lugar para os virtuosos, também não é razoável admitir o despudor generalizado que nos atinge a todos, como nos tempos do “cólera” ou do vírus “ebola”.

Saibam os aprendizes de rei que na era do conhecimento se insere uma sociedade pós-industrial, resultante da produção de saberes que essa mesma sociedade seja capaz de disponibilizar e aplicar em sua própria construção.

Nessa perspectiva, a política assume um caráter fundante e insubstituível, pois não vislumbramos outra forma de se promoverem as transformações sociais reclamadas, senão pela política. Não confundir com politicagem.


*Arnaldo Santos
Jornalista
Doutor em Ciência Política

Titular da Cadeira de nº 13 da ACLJ

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