SABEDORIA DE BURRO
Edmar Santos*
Tudo tão acelerado!
Quantos carros, bicicletas e motos nesse trânsito infernal.
O som de dezenas de
buzinas me impelem a ir à janela ver o que se passa lá fora. Uma carroça puxada
por um burro lento – certamente pelo peso da carga de tijolos que carrega.
Penso eu!
Cabeça baixa,
orelhas arriadas ao longo da queixada, segue indiferente ao buzinaço que
insiste em tentar lhe acelerar. Bestas! Deve estar pensando o animal que,
guiado pelos arreios, sequer expressa esforço; acho mesmo que deve estar
acostumado, agora reparando que seu jeito parece desdenhar dos da outra espécie
que buzinam.
Bem que as histórias
contadas na literatura sobre esse bicho dizem que ele é inteligente. Anda lento
pra não se igualar aos humanos que o xingam, pois sua sabedoria instintiva lhe diz: És burro e sabes
do teu tempo, e que em nada adianta te apressares, uma vez que o que há ao fim
é somente isso: o fim.
Os buzinadores
seguem sua racionalidade inteligente, sem se darem conta de seu próprio tempo; e
na pressa sempre chegam ao fim, a que não querem chegar tão cedo.
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