O FAROL DO TREM
Rui Martinho Rodrigues*
Agremiações políticas não são representativas. Mudança cultural
profunda abala referências. Os grupos de referência formados pelos pais,
professores, clérigos etc, caíram do pedestal com o fim do segredo
proporcionado pela era da informação, por suicídio moral e devido a campanha
feita contra eles. A docilidade com que jovens se submetem aos padrões de
rebeldia, aos símbolos e condutas, como submissão às novas “tribos urbanas”
dissolveram as referências. A voracidade da modernidade líquida (Zygmont
Bauman, 1925 – 2017) ou, para outros, da pós-modernidade, tem a instabilidade
como marca.
As instituições jurídicas e políticas foram sacudidas. O prestígio
dos líderes tornou-se efêmero. A instabilidade mostra a própria face por
inteiro. Os laços integradores dos grupos primários, como as demais referências
culturais, ainda não definiram novas formas, apresentando tendências díspares
potencializadoras de conflitos. A secularização dominante desde o Século XVIII foi agora surpreendida pela revanche do sagrado. As tecnologias de informação
deram tribuna aos que não tinham voz. A falta de processos institucionais
mediadores e moderadores das demandas sociais tende a acirrar os ânimos.
Lideranças surgem e desaparecem.
O Poder Legislativo desgastou-se. Houve grande renovação das casas
legislativas. Faltam, porém, referências de natureza política e deontológica
para nortear a conduta dos novos agentes políticos. O quadro político não
sofreu transformação sensível. O Poder Judiciário, desgastado pela
superesposição das tecnologias de informação – e principalmente pela
judicialização da política e das relações sociais – caiu do pedestal. Já não
goza do prestígio necessário ao exercício de influência. Só lhe resta poder, que
não tem o sentido de legitimação da influência culturalmente reconhecida.
O Executivo se encontra no olho do furação, fragilizado pela falta de base parlamentar. O contexto é de um sistema híbrido de presidencialismo com parlamentarismo. O STF exerce uma curatela de cabresto curto sobre os outros poderes, ao modo do que aconteceu nos EUA, em certa época, que passou para a História como “governo de juízes”. Integrantes dos três Poderes são diariamente atingidos por graves denúncias.
O Executivo se encontra no olho do furação, fragilizado pela falta de base parlamentar. O contexto é de um sistema híbrido de presidencialismo com parlamentarismo. O STF exerce uma curatela de cabresto curto sobre os outros poderes, ao modo do que aconteceu nos EUA, em certa época, que passou para a História como “governo de juízes”. Integrantes dos três Poderes são diariamente atingidos por graves denúncias.
As democracias consolidadas, nas culturas amadurecidas, certas
transformações se fazem em ritmo mais moderado, a exemplo da modificação do
perfil demográfico, com a queda da fertilidade se dando ao longo de três
gerações. No Brasil, porém, de uma geração para outra saímos de cinco ou seis
filhos por mulher para algo como 1,6 (variando um pouco conforme as regiões do
país).
Assim, a instabilidade política parece afetar mais as nossas instituições. Tivemos um impeachment em mil novecentos e noventa e dois e outro em dois mil e dezesseis. Poderemos ter outro brevemente. O chefe do Executivo não tem base parlamentar; o seu próprio partido é autor de iniciativas típicas de oposição; ministros de origem militar são atacados desde dentro do governo; a condecoração de um crítico acerbo dos ministros castrenses parece um desafio aos membros do governo oriundos da caserna. Os núcleos da área econômica e o formado por profissionais do Direito, no Ministério da Justiça, tinham promessa de carta branca. Mas têm passado por sustos e constrangimentos.
Assim, a instabilidade política parece afetar mais as nossas instituições. Tivemos um impeachment em mil novecentos e noventa e dois e outro em dois mil e dezesseis. Poderemos ter outro brevemente. O chefe do Executivo não tem base parlamentar; o seu próprio partido é autor de iniciativas típicas de oposição; ministros de origem militar são atacados desde dentro do governo; a condecoração de um crítico acerbo dos ministros castrenses parece um desafio aos membros do governo oriundos da caserna. Os núcleos da área econômica e o formado por profissionais do Direito, no Ministério da Justiça, tinham promessa de carta branca. Mas têm passado por sustos e constrangimentos.
Os desencontros dentro do governo têm lugar no contexto de uma
situação econômica ainda difícil. O mundo lá fora vive tempos não muito
promissores. As reformas necessárias, no plano interno, exigem aptidão para a
conciliação. O governo, porém, parece preferir a senda do confronto. O
vice-presidente tentou ser conciliador e foi considerado traidor. A luz no fim
do túnel será o farol de um trem?
Belíssimo texto, Rui.
ResponderExcluirAlana Alencar
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