ÁLGEBRA
Depois que o Jozias mudou de endereço, Valdim passou a frequentar o
restaurante com menor assiduidade. Era sábado cedo, e Valdim, sabendo que
Jozias é madrugador, afinal quem negocia com peixe e marisco tem que ser, foi
fazer uma visita ao amigo.
– Oi, Robertinha, cadê teu pai?
– Oi, Valdim, há quanto tempo!
– Como é que tá a dona Mazé?
– Mamãe? Tá bem... Papaiêêê, o Valdim!
– Já vou, peraí!
Enquanto caminhava ao encontro de Valder, Jozias dava ordens ao
cozinheiro:
– Camocim, separa aí uns camarões chibateiros.
– O senhor comprou creme de leite pra delícia de peixe?
– Comprei, e Maizena também... Vê se economiza creme de leite que
eu não tenho vacaria, não...
– Pode deixar...
Parou, olhou para o Valdim, levantou o boné e coçando a cabeça
falou:
– Mas, olha, quem é vivo sempre aparece...
– Deixa de ser falador, Teixa, que eu sempre venho aqui – falando
em baixo tom e cerrando os olhos.
– Aqui, faz é tempo... Você pode até dar essa desculpa em casa pra
Glaucinha...
– Para de besteira e pede logo pro teu garçom me servir uma
cerveja.
– Monsieur, s’il vous plaît, traz uma cerveja aqui pro
doutor Valder!
– Já? E isso é hora de se beber?! – gritou o garçom.
– Pra mim, é agora; pra você, deve ser hora é de dar o rabo, filho
da puta!
– Deixa de ser corno, vê se respeita o doutor Valder e traz logo a
merda dessa cerveja, seu bosta! Detesto falta de educação e respeito! – sentenciou Jozias.
Enquanto o folgado garçom trazia a cerveja, Valdim começou a puxar
conversa com o amigo:
– Conta, Teixa, como é que tá a vida?
– Bem, né?
– E eu sei? Como é que tá o Marquim?
– Tá bem... Quer dizer, eu não posso reclamar de filho nenhum,
mas...
– Mas, o quê? Alguma merda?
– Sabe que eu me preocupo desde que ele era pequeno. Ele novinho já
me perguntava:
– “Papai, o que é que eu faço pra ser bonito, inteligente e rico
quando eu crescer?”
– E tu respondia o que, ignorante?
– Filho, acredite na reencarnação.
– Mas, rapaz, isso é resposta que se dê a um filho?
– Eu não aliso não! Aqui em casa vale a lei do Chico de Brito:
“Escreveu não leu, o pau comeu!”
– Mas, e ultimamente, ele tá mais calmo?
– É, se bem que na semana passada eu me afobei e perguntei:
– Meu filho, pelo amor de
Deus, como é que você consegue fazer tanta besteira num dia só?!
– E ele?
– “Acordando cedo”...
– Tem jeito não...
– Tem nada, parece até que tem um parafuso solto. Agora, o
Ricardo...
– O que é que tem o Intelectual?
– É outro departamento. Vive pra estudar, não quer saber de outra
coisa, chega já é exagero. Outro dia, imagina, ele tava agarradinho com um
livro e eu perguntei:
– Meu filho, tá estudando o
quê? E ele respondeu:
– “Álgebra!” Tai, rapaz,
achei bonito!
– Realmente...
– Ora, qualquer pai fica feliz sabendo que até álgebra o filho tá
estudando. Mexe com a vaidade da gente.
– Também, não é pra menos...
– Você calcule, Valdim, que no domingo passado aqui tava chei,
chei. Não se achava uma mesa sobrando nem pra remédio. Casa lotada! E eu,
orgulhoso, só pra me amostrar, perguntei pra ele, na frente de todo mundo: “Meu
filho, como é mesmo que se diz bom dia em álgebra?!”
COMENTÁRIO
“Jorge Amado não era menor
porque aplicava pornografia em suas obras, na fala de seus personagens...”
manda comentar por Zap o confrade Adriano, acompanhando o Blog lá do Maranhão
onde se encontra, rebatendo comentário do Prof. Vianney Mesquita sobre o estilo
do confrade Laprovitera.
Eu acho ótimo esse tipo de
debate no âmbito da Academia, em que se verifica o confronto entre as opiniões
dos confrades sobre temas literários, estilísticos, gramaticais, que são livres e soberanas.
Ainda nesta semana eu e o
bardo Luciano Maia “batemos luvas”, como se diz no boxe, sobre o título d'O
Dialeto Cearense – o nosso ínclito Presidente Emérito Rui Martinho Rodrigues apoiando a tese dele, a
Vólia botando lenha na fogueira, e tudo terminou convergindo para a revelação
de um banal mal-entendido, pois já na Apresentação da obra a tese do nosso Da
Maia está devidamente respaldada: não há dialetos no Brasil.
Aqui da curul da
Presidência eu adoto a política do Capitão Bolsonaro, reconhecendo a cada um o
direito de pensar e de dizer o que pensa, e de rebater as invectivas, sem que
isso recrudesça para o campo dos ressentimentos pessoais – ou aplicarei a
política de meus velhos pais, que obrigavam os filhos pequenos a se abraçarem,
após um conflito por eles mediado.
Somos livres pensadores, e
somos democratas. O Mestre Vianney tem uma estética mais rigorosa em relação ao
uso da linguagem, como zeloso guardião da “última flor do Lácio”, enquanto o
jovial Laprovitera prefere um estilo livre e alegre, homenageando a cultura
popular, porém mantendo total domínio e controle da gramática. É o nosso Millor
Fernandes, para nossa honra e júbilo.
Reginaldo Vasconcelos
Este comentário foi removido pelo autor.
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ResponderExcluirDr. Vianei, a pornografia está na sua equivocada interpretação de um diálogo coloquial e realista, fruto de uma dita erudição que nega a cultura popular.
ResponderExcluirDispenso a sua crítica.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBobagem.
ResponderExcluir"Jorge Amado não era menor porque aplicava pornografia em suas obras, na fala de seus personagens..." manda comentar por Zap o confrade Adriano, acompanhando o Blog lá do Maranhão onde se encontra. Eu acho ótimo esse tipo de debate no âmbito da Academia, em que se verifica o confronto entre as opiniões dos confrades, que são livres e soberanas. Ainda nesta semana eu e o bardo Luciano Maia "batemos luvas", como se diz no boxe, sobre o título d'O Dialeto Cearense, o nosso ínclito Presidente Emérito apoiando a tese dele, a Vólia botando lenha na fogueira, e tudo terminou convergindo para a revelação de um banal mal-entendido, pois já na Apresentação da obra a tese do nosso Da Maia está devidamente respaldada: não há dialetos no Brasil. Aqui da curul da Presidência eu adoto a política do Capitão Bolsonaro, reconhecendo a cada um o direito de pensar e de dizer o que pensa, e de rebater as invectivas, sem que isso recrudesça para o campo dos ressentimentos pessoais. Somos livres pensadores, e somos democratas. O Mestre Vianney tem uma estética mais rigorosa em relação ao uso da linguagem, como zeloso guardião da "última flor do Lácio", enquanto o jovial Laprovitera prefere um estilo livre e alegre, homenageando a cultura popular, porém mantendo total domínio e controle da gramática. É o nosso Millor Fernandes, para nossa honra e júbilo.
ResponderExcluirBem dito, presidente.
ResponderExcluirSuas palavras me incentivam a ser melhor.
Grato.