BRONCO
Totonho Laprovitera*
Totonho Laprovitera*
Filho da Calunga, cadela de um dos nossos vizinhos, e de pai desconhecido, Bronco foi um cachorro que marcou época em nossa casa. Ele era da minha irmã Fefé e, ainda pequenino, granjeou a afeição de todos nós.
No final dos anos 60, em nosso endereço da Rua Tibúrcio Cavalcante,
o juvenil galã Bronco, de porte médio, pelo longo e branco, com manchas pretas,
tornou-se um belo animal. E não demorou muito para começar a aprontar suas
memoráveis cachorradas. No sítio da Parangaba, iniciando-se na arte de namorar,
prática para a qual demonstrava graúda vocação, enfronhou-se com a esquálida
Tuninha, escolada cachorra dos moradores.
No início da década de 70, quando nos mudamos para a Avenida
Desembargador Moreira, o precoce Bronco já era o cão de danado. Passado na casca
do alho, sem dar a menor pista para onde fosse, aventurando-se, sumia por uma
semana. Quando voltava, cabisbaixo, trazia na boca uma folha que comumente
deixava no colo da minha mãe, em gesto de pedir perdão. Era um verdadeiro
cavalheiro.
Muitas vezes, porém, chegava da farra todo lascado, trazendo doridas feridas de quem havia brigado feio na rua. Certamente, em peleja por alguma disputada cadela.
Muitas vezes, porém, chegava da farra todo lascado, trazendo doridas feridas de quem havia brigado feio na rua. Certamente, em peleja por alguma disputada cadela.
Assim era o romântico Bronco. Em casa, quieto e bem-humorado. Um
santo. Na rua, um inveterado Dom Juan à caça de suas conquistas amorosas.
Um dia, porém, Bronco saiu pra rua e nunca mais voltou. Ninguém
ficou sabendo se foi apanhado pela carrocinha, atropelado ou, sei lá... O certo
é que sumiu do mapa, sem deixar o menor rastro.
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