segunda-feira, 19 de novembro de 2018

ARTIGO - Hotel Nacional (WI)


Hotel Nacional
Wilson Ibiapina*


Primeiro de setembro de 2007, um sábado, fui acordado pelo telefone. Era o querido jornalista Rodolfo Espínola avisando que estava sendo despejado do Hotel Nacional. Ele e mais uns 300 hóspedes foram avisados do despejo por meio de um papel deixado embaixo da porta pela gerência do hotel. Surpreendidos com o aviso, todos tiveram que arrumar a mala e deixar o local.

Quando cheguei ao hotel, Rodolfo estava no meio da rua. Um outro cearense ilustre, o ex-governador Gonzaga Mota, na mesma situação, já havia saído em busca de novo abrigo. Depois ficamos sabendo que o Nacional foi obrigado a retirar seus hóspedes por decisão da Justiça, que dava reintegração de posse à empresa dona do terreno, o Banco Rural, aquele que foi tragado pelo mensalão.

O grupo Canhedo, do empresário Wagner Canhedo (que ganhou a Vasp a preço de banana e levou à falência) não pagava a taxa de administração do imóvel havia mais de três anos. dívida de mais de 30 milhões de reais. No mesmo dia, à tarde, o Grupo Canhedo conseguiu cassar a liminar de despejo e o hotel voltou a funcionar normalmente, mas a imprensa foi proibida de entrar no local. Apenas alguns hóspedes voltaram ao Nacional. Era o declínio daquele hotel de luxo intimamente ligado à história política do País.




Agora, o hotel está sendo vendido para pagar dívidas. Parece que foi ontem que o Nacional era o centro do poder social da Capital. O jornalista José Luiz Silva lembra que a história de Brasília passava por ali. Enquanto esteve nas mãos de seu fundador, o empresário José Tjurs, dono da rede de hotéis Horsa, foi um sucesso.

Desenhado pelo arquiteto Nauro Jorge Esteves, o hotel, com dez andares e 347 apartamentos, tem uma suíte presidencial com quatro quartos; quatro closets, mesa de reuniões, bar e sala de jantar.

Inaugurado em 1961, hospedou a Rainha Elizabeth e o Duque Phillip, o francês Charles de Gaulle, os americanos Jimmy Carter e Ronald Reagan, e muitos outros políticos, diplomatas e celebridades como Roman Polanski, John Travolta e Roberto Carlos.


As suas galerias, na parte térrea, eram ocupadas por lojas de artesanatos, roupas, livrarias, empresas de aviação, agências de viagens, imobiliárias e lanchonetes que atraíam os brasilienses. O movimento em frente a entrada principal do hotel lembrava a rua Guilherme Rocha, em Fortaleza. Justamente o trecho da casa Parente, Loja Vox, livraria do Edésio, onde a moçada se postava, jogando conversa fora, cubando o movimento.

Foi na calçada do hotel, batendo papo, que conheci os jornalistas Roberto Macedo e Hélio Doyle, no inicio dos anos 70. O movimento aumentava quando do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Artistas como Paulo José, Dina Sfat, Darlene Glória, Ítala Nadi, Leila Diniz e Arduíno Colasanti, galã do cinema novo, que foi casado com a atriz e escritora cearense Ana Miranda, se exibiam na piscina do hotel, observados por jornalistas, hóspedes e fãs. 


A sauna era local procurado pelos brasilienses. Lembro que um dia juntamos um grupo de colegas da Rede Globo e fomos pegar uma sauna. Estava lotada e se não fosse o Arnaldo Artilheiro o programa não teria acontecido. Artilheiro, confiado em seus dois metros de altura e no seu possante físico, foi lá e aumentou a temperatura da sauna. Em poucos minutos não ficou ninguém. E ele, na porta, argumentando que ocorrera um problema. Quando todos foram embora, ele normalizou a temperatura e nós fomos nos divertir.

Nas décadas de 60 e 70 o hotel era o local de happy hour de políticos e jornalistas. Mesas de baralho, uísque, paqueras e conversas que varavam a noite, começavam no restaurante principal, com maitre e garçons vindos do Rio de Janeiro e São Paulo e geralmente passavam pela boate Tendinha, ou pelo restaurante Tabu. No Bar, os políticos, senadores, embaixadores, ministros, deputados se revezavam ao telefone, caçados pelas telefonistas para atender os chamados dos amigos e contar os bastidores. A feijoada, aos sábados, reunia a fina flor dos Ponte Preta.

Era no Nacional que a cidade promovia festas de debutantes e bailes de carnaval e de passagem de ano. Lembro que no baile em comemoração aos 15 anos de Brasília a Globo flagrou a presença da menina Brasília, a primeira a nascer na nova capital. Embora estivesse também completando 15 anos não lembraram de convidá-la. Ela viu tudo do jardim em frente ao salão de festa, no sereno, esquecida.

Hoje, o Nacional, com novo dono, pode até se reabilitar, mas jamais será o mesmo.



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