O
LUTADOR JAPONÊS
Totonho Laprovitera*
A
notícia chegou do Pará. Por aquelas bandas havia um aguerrido lutador que não
perdia pra seu ninguém. Daí surgiu a ideia do ilustre jornalista alencarino
Sílvio Carlos promover uma luta interestadual, tendo como desafiante o valente
Tamiarana, que não abria nem pro trem!
Através
de telefonemas interurbanos para o paraense, que se chamava Yokanan e se dizia
japonês, Silvio acertou o desafio. Contratado, Yokanan iria de Belém à Teresina
de ônibus e, de lá, seguiria até Fortaleza pelo voo de uma Avro, aeronave
turboélice da Varig.
Sendo
assim, Yokanan desembarcou no antigo Aeroporto Pinto Martins, onde um grande
público e imprensa o esperavam. Saudado como o “Demolidor Samurai”, no dia
seguinte a origem étnica de Yokanan foi questionada no programa radiofônico
“Antenas e Rotativas”, apresentado pelo brioso radialista Cid Carvalho, que
comentou: “Caros ouvintes, de japonês o lutador só tem o radinho de pilha e a
sandália!”.
Chegada
a hora da luta livre, a Fênix Caixeiral estava lotada até a tampa! Quando
subiram ao ringue, os lutadores se cumprimentaram e ao soar o gongo se
engalfinharam com mais de mil, e gosto de gás! Aí, quando se afastaram um pouco,
Tamiarana tacou um inesperado tabefe no pé-do-ouvido de Yokanan, chega ele foi
à lona.
Estatelado, caiu revirando os olhos puxados. Perdeu som e imagem! Após
contar até dez, o juiz constatou o nocaute, deu a luta por encerrada e
proclamou Tamiarana vencedor do combate, logo no primeiro assalto. A vaia comeu
de esmola!
No
outro dia, em primeira página, o jornal “O Estado” noticiou o evento e
comentou: “A luta se consistiu em dois assaltos, um no ringue e outro no bolso
do torcedor!”.
COMENTÁRIO:
Totonho Laprovitera, a par de um dos maiores
artistas plásticos cearenses contemporâneos, no campo da pintura expressionista,
tem boas incursões nas artes sônicas, estimuladas pelo seu amigo Fagner, e se
tem revelado o melhor cronista de todo o elenco de colaboradores deste Blog.
A chamada “crônica mundana” caracteriza a
imprensa brasileira, desde Machado de Assis, bem como marca a nossa “literatura
ligeira”, em que se produz uma bibliografia que colige textos curtos já
publicados em jornais.
A boa crônica tem a peculiaridade de trazer relatos
curtos, leves, coloquiais, memorialísticos, bem humorados, despretensiosos, às
vezes líricos, na forma de proza poética, trazendo como “moral da história” apenas
casos jocosos da comédia humanas e das facécias sociais, ou exemplos simples de
filosofia aplicada.
É sempre embasada em fatos reais vividos pelo autor,
narrados na primeira pessoa, ou por ele pessoalmente garimpados. Por isso, “fazer
crônica é a arte de encontrar mel sob o vespeiro do cotidiano”, conforme eu
mesmo defini em um de meus livros.
Sobre o tema da ótima crônica de Totonho, prevalece
mesmo no Estado do Pará um tipo indígena, que pode ser falsamente ostentado
como de origem oriental, mas de fato as artes marciais no Brasil começaram
naquela região, e através de imigrantes japoneses.
O jiu-jitsu foi ensinado à família Grace, nos
anos 30, por um nipônico alcunhado de Conde Koma, em Belém do Pará. Os Grace
vieram depois para Fortaleza, onde residiram por alguns anos, antes de demandarem
ao Sudeste do País, onde fizeram o seu nome, e criaram o “Brasilian Jiu-jitsu”, mundialmente respeitado.
Mas japonês não aguenta pancada. O seu trunfo
é a grande agilidade, e a técnica de usar a força e o peso do oponente contra o
próprio oponente, evitando ser nocauteado.
Um dos nossos campeões atuais de MMA, de ascendência
japonesa, Lyoto Machida, é conhecido por terminar as lutas, ganhando ou perdendo,
sem marcas, hematomas ou sangramentos no rosto, porque ele evita ser socado.
Mas, segundo o Totonho, o tal Yokanan não teve essa chance com o nosso Tamiarana, de saudosa
memória.
Reginaldo Vasconcelos
Grato pela generosidade de suas palavras, confrade Reginaldo! Sua crítica me é preciosa e o elogio incentivo.
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