É NÓIZ!
Reginaldo Vasconcelos*
A
ACLJ está lançando a primeira edição do seu Manual de Redação Profissional,
obra em que são apontados os usos linguísticos recomendáveis, como também os
vícios gramaticais a serem evitados nos textos literários, artísticos e jornalísticos,
dentre os mais recorrentes na mídia brasileira atualmente.
O
prólogo da obra coletiva (que incorpora um glossário de regionalismos cearenses), discorre sobre a necessidade de se proteger a norma culta do
idioma, na medida do possível, embora a língua viva seja dinâmica, sempre em
evolução, constantemente recebendo contribuições estrangeiras e acréscimos arbitrários
por parte do povo, na semântica e na sintaxe, e não há regra ética que coíba
isso, nem norma jurídica que o proíba.
Todavia,
é importante que os profissionais procurem preservar, nos textos publicados, o
melhor uso da gramática, a melhor concordância, a maneira mais escorreita de
escrever e de falar, sob pena de que o português falado no Brasil, que é a
nossa língua oficial, um dos fatores de integração nacional, perca seus
predicados de estética e de clareza, sofrendo aguda degradação idiomática.
Corremos
esse risco no País em face do péssimo ensino curricular, notadamente nas
disciplinas ligadas à área de humanidades, em especial na matéria português, o
que nos expõe a grave degenerescência gramatical.
Essa
é uma mazela brasileira que se soma a outros defeitos da nossa educação, que se
reflete na cultura popular, essa mesma que, como se tem visto na política,
inclui as nefastas concessões ao “jeitinho”, inclusive em face das normas
jurídicas e da ética.
Dizia
Rui Barbosa, já no seu tempo, aludindo aos brasileiros, que “... o homem chega a desanimar da virtude, a
rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”. Pois nessa mesma direção
temos rido da cultura e tido vergonha de conhecer o idioma pátrio.
A
tal ponto de, recentemente, ter-se feito deboche nacional, com enorme ridicularia na grande imprensa, quando um político discursou e aplicou uma corretíssima mesóclise,
para melhor se expressar – “sê-lo-ia” – interpondo o pronome oblíquo entre o
radical e a desinência do verbo. Fê-lo porque sabe fazê-lo, e o que é ridículo,
de fato, é não sabê-lo, porque não estudou e porque não leu o suficiente.
Há
poucos dias, em fundado protesto contra um Ministro da Suprema Corte,
magistrados e procuradores brasileiros, ocupantes de elevadas funções na
República, para cuja investidura passaram nos mais rigorosos concursos, acompanhados por ícones da cultura popular, exibiram uma faixa com a seguinte inscrição: “TAMO JUNTO!”.
Por seu turno, uma
magnífica novela de época na TV, atualmente no ar, é realizada com
grande apuro cênico, com elevadíssima qualidade dramatúrgica, na qual os atores
que incorporam portugueses tentam, inclusive, e com grande êxito, aplicar o
sotaque lusitano – outros personagens, de ascendência austríaca e alemã, o acento germânico,
com muita eficiência.
Entretanto,
os diretores não conseguem, embora tentem, que os personagens articulem
corretamente o idioma português mais adequado ao período da trama – o Brasil
colonial – quando alguns diálogos começam aplicando a segunda pessoa – tu, vós –
e terminam na terceira – você, sua, seu – e vão por aí, confundindo a concordância
e a conjugação. E essas peças da nossa teledramaturgia são sucesso em todo o mundo lusófono –propagando o erro e propalando a nossa mediocridade cultural.
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