domingo, 12 de fevereiro de 2017

ARTIGO - Menino Mofino (VM)


MENINO MOFINO (1)
Vianney Mesquita*


Nem uma palavra, tampouco um ato indigno, contamine a casa onde     vivem crianças [Décimo Júnio JUVENAL – Poeta Latino. Apulia – 42-125 do t.p. (2)].



No âmbito das variadas linhas de pesquisa escolhidas para exame, por parte de investigadores teóricos e pesquisadores de campo e laboratório, em particular no Nordeste brasileiro, uma permanentemente estudada é a desnutrição infantil, objeto de análise no livro Desnutrição Infantil na Família – Causa Obscura (o qual termino de reler), da Professora Doutora Mirna Albuquerque Frota, em coautoria com minha conterrânea, Professora Doutora Grasiela Teixeira Barroso (Palmácia, 05.05.1926-Fortaleza, 11.05.2011).

Arrimadas no escrito-base da tese de doutoramento da primeira, orientada pela segunda (desenvolvida na U.F.C.), elas esmiúçam a realidade do locus onde a oportunista desnutrição estava circunscrita – uma das regiões mais desprovidas da Fortaleza metropolitana, o desordenado mutirão para construir casas, no bairro de Carlito Pamplona, lado antigo do parque fabril da Cidade.

Ao demonstrar a notável teia interdisciplinar integradora das Ciências, as cientistas empregam a Antropologia, sob a coberta da Etnoenfermagem, em especial, a eficiente Teoria da Universalidade e Diversidade do Cuidado Cultural, preconizada pela mulher de ciência estadunidense, Madeleine Leininger (13.07.1925-10.08.2012), por intermédio da qual muitos proficientes estudos vêm à luz, com objetivo valor teórico e aplicação prática, máxime nas atividades acadêmicas de Promoção e Educação em Saúde.

Além de representar minudeado exame das lastimosas condições de sobrevida de adultos e – mormente – de crianças, num gueto envolvido na mais absoluta pobreza, evidenciando os agravos conducentes até o auge da desdita humana, as investigadoras, com desvelo, responsabilidade profissional e esmerado cuidado acadêmico, expressam publicamente um verdadeiro libelo contra as então inadequadas políticas oficiais de atenção à saúde e cuidado mínimo relativo às circunstâncias infraestruturais das populações demandantes do estatuto de cidadãos.

Ao mesmo tempo da procura de revelar as causas obscuras da macilência congênita da criança mofina das nossas favelas e bolsões de indigência, as autoras intentam contribuir com soluções – muitas das quais já concebidas, porém sem encontrarem ressonância nos surdos ouvidos das autoridades – para, pelo menos, atenuar os rigores de tanto infortúnio e reduzir a ação deletéria, inserida na desventura de a criança não ter mais alimento a ingerir; isto sem se fazer referência às demais precisões básicas, com vistas a conferir à pessoa, conforme intenta a Organização Mundial de Saúde – OMS, o estado de saúde completa, o qual não configura somente a mera situação de doença.

Desnutrição Infantil na Família – Causa Obscura está no acervo da maioria das bibliotecas acadêmicas do Brasil, sendo obra de valor inconteste, publicada pelas Edições Universidade Estadual Vale do Acaraú, numa quadra de ocorrência da mais difusa campanha já procedida no País (começo dos anos 2000) para afastar o aspecto criminoso e vergonhoso da fome, pertinente, no caso do volume sob comentário, ao problema da desnutrição infantil.


(1)   Texto sem emprego da partícula que.
(2)   =Anos 42 a 125 do tempo presente.



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