MENINO MOFINO (1)
Vianney Mesquita*
Nem uma palavra, tampouco um ato indigno,
contamine a casa onde vivem crianças [Décimo Júnio JUVENAL – Poeta Latino. Apulia –
42-125 do t.p. (2)].
No
âmbito das variadas linhas de pesquisa escolhidas para exame, por parte de
investigadores teóricos e pesquisadores de campo e laboratório, em particular
no Nordeste brasileiro, uma permanentemente estudada é a desnutrição infantil, objeto de análise no livro Desnutrição Infantil na Família – Causa
Obscura (o qual termino de reler), da Professora Doutora Mirna Albuquerque
Frota, em coautoria com minha conterrânea, Professora Doutora Grasiela Teixeira
Barroso (Palmácia, 05.05.1926-Fortaleza, 11.05.2011).
Arrimadas
no escrito-base da tese de doutoramento da primeira, orientada pela segunda (desenvolvida
na U.F.C.), elas esmiúçam a realidade do locus
onde a oportunista desnutrição estava circunscrita – uma das regiões mais
desprovidas da Fortaleza metropolitana, o desordenado mutirão para construir
casas, no bairro de Carlito Pamplona, lado antigo do parque fabril da Cidade.
Ao
demonstrar a notável teia interdisciplinar integradora das Ciências, as
cientistas empregam a Antropologia, sob a coberta da Etnoenfermagem, em
especial, a eficiente Teoria da Universalidade e Diversidade do Cuidado
Cultural, preconizada pela mulher de ciência estadunidense, Madeleine Leininger
(13.07.1925-10.08.2012), por intermédio da qual muitos proficientes estudos vêm
à luz, com objetivo valor teórico e aplicação prática, máxime nas atividades
acadêmicas de Promoção e Educação em Saúde.
Além
de representar minudeado exame das lastimosas condições de sobrevida de adultos
e – mormente – de crianças, num gueto envolvido na mais absoluta pobreza,
evidenciando os agravos conducentes até o auge da desdita humana, as
investigadoras, com desvelo, responsabilidade profissional e esmerado cuidado
acadêmico, expressam publicamente um verdadeiro libelo contra as então
inadequadas políticas oficiais de atenção à saúde e cuidado mínimo relativo às
circunstâncias infraestruturais das populações demandantes do estatuto de
cidadãos.
Ao
mesmo tempo da procura de revelar as causas obscuras da macilência congênita da
criança mofina das nossas favelas e bolsões de indigência, as autoras intentam
contribuir com soluções – muitas das quais já concebidas, porém sem encontrarem
ressonância nos surdos ouvidos das autoridades – para, pelo menos, atenuar os
rigores de tanto infortúnio e reduzir a ação deletéria, inserida na desventura
de a criança não ter mais alimento a ingerir; isto sem se fazer referência às
demais precisões básicas, com vistas a conferir à pessoa, conforme intenta a
Organização Mundial de Saúde – OMS, o estado de saúde completa, o qual não
configura somente a mera situação de doença.
Desnutrição Infantil na Família – Causa Obscura está no acervo da maioria das
bibliotecas acadêmicas do Brasil, sendo obra de valor inconteste, publicada
pelas Edições Universidade Estadual Vale do Acaraú, numa quadra de ocorrência
da mais difusa campanha já procedida no País (começo dos anos 2000) para
afastar o aspecto criminoso e vergonhoso da fome, pertinente, no caso do volume
sob comentário, ao problema da desnutrição infantil.
(1) Texto
sem emprego da partícula que.
(2) =Anos
42 a 125 do tempo presente.
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