domingo, 19 de fevereiro de 2017

DISCURSO - Augusto Bezerra


Discurso de despedida
do Presidente da
ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
 José Augusto Bezerra
na posse da nova Diretoria

Prezados Acadêmico novo Presidente da ACL, Ubiratan Aguiar; Prefeito Da Cidade de Fortaleza, Roberto Cláudio; Representante do TCU, Ministro Augusto Sherman Cavalcante; Presidente de Honra Perpétuo da Academia de Letras de Brasília - José Carlos Gentili; Vice-Presidente do Tribunal de Contas do Estado – Rholden Queiroz; Presidente do Tribunal de Contas dos Municípios – Domingos Filho; demais autoridades ilustres, membros da Diretoria 2017/2018 da ACL, confrades, esposas, e convidados:

É com emoção que hoje deixo algumas palavras, especialmente  para  os nobres confrades, que testemunham o último momento dessa jornada que fizemos juntos.

No meu discurso de posse como Presidente falei que, na antiguidade, as comunidades se reuniam nos portos para desejar boa sorte às tripulações que embarcavam, para viagens importantes. Pediam às Divindades que abençoassem os que iam navegar por mares desconhecidos. Foi o que fizemos. Sequer olhamos para saber se havia nuvens carregadas no horizonte. Pedimos ajuda a Deus e trabalhamos, diuturnamente, com as mãos e os corações
.
Quando os navios voltavam, aquelas mesmas pessoas agradeciam por terem os homens vencido desafios e voltado ao porto seguro. É a hora, portanto, da nossa gratidão. Não importa hoje o que tenhamos feito. Poder entregar, com o dever cumprido, o leme desta nau a uma nova tripulação, briosa, honrada e cheia de talentos, é a nossa maior vitória.

Subo ao alto do convés desse navio imaginário e, lá de cima, olho para o passado. Descortino, por entre as brumas, os homens que lutaram por nossa Academia. Especialmente, posso ver melhor, porque estão mais próximos, os dois últimos Presidentes. Na realidade, estão aqui, entre nós... Murilo Martins, nosso Presidente de Honra, e Pedro Henrique Saraiva Leão, que me convenceu a aceitar a missão que hoje concluo, grandes intelectuais e amigos, em nome dos quais reverencio todo o passado desta gloriosa Instituição.

Na presente gestão, demos prioridade a harmonia entre os Acadêmicos e a transparência nas nossas ações. Fizemos alguns jantares só para conversarmos e nos conhecermos melhor. Providenciamos relatórios mensais para manter todos a par do nosso dia a dia. Solenidades como a dos 120 anos e a da Reinauguração do Palácio da Luz. Inaugurações da Biblioteca, do Jardim dos Poetas e entrega da Medalha de Benemérito a todos os confrades. Aniversários da entidade, posse de novos Acadêmicos, distintivos da ACL, lançamentos da importante Revista da Academia Cearense de Letras, livros inéditos publicados e realizações de magníficos Ciclos de Conferências. Tantas outras coisas para recordar. Não arbitrei nenhuma divergência neste período e a união foi nossa marca, demonstrada pela escolha do Novo Príncipe dos Poetas, Linhares Filho, entre tantos nomes de escol, sem divisões e por unanimidade.


Alguns não puderam aqui chegar, mas semelhantemente aos cometas deixaram rastros luminosos. Nesse caso, uma poeira incandescente, de saudade e poesia: Barros Pinho, Francisco Carvalho, Artur Eduardo Benevides e José Telles. Deram-nos de presente, ao partirem, seus sucessores, os novos imortais e amigos: Ernando Uchôa, Lourdinha Leite Barbosa, Durval Ayres Filho e Flávio Leitão. Assim, como reverenciamos o legado do passado, agora nos inclinamos ante a responsabilidade do presente, nas figuras dos atuais Acadêmicos, guardiões de mais de um século de história deste radiante Templo da Cultura.

O projeto de reforma do Palácio da Luz está realizado e entregamos de volta à sociedade, esta significativa obra, com auditórios climatizados; salão de honra; Secretaria; Presidência com sala de reuniões; iluminação excelente; magnífica biblioteca; cinco banheiros, inclusive com acessibilidade aos deficientes; entradas, recriada pela Sena Madureira e reformada pela Rua do Rosário; um Jardim dos poetas; uma importante subestação elétrica; o nome externo, acendendo à noite, e muito mais. Tudo mantendo as linhas originais desse prédio, um dos ícones da nossa história.

A Praça, onde habitavam muitas famílias desabrigadas e era um local de risco, foi reformada pela Prefeitura. As famílias deslocadas para abrigos, o quadrilátero iluminado, e implantada uma cabine de segurança 24 horas. Placas alusivas, no interior do Palácio, registram nossa gratidão aos que nos apoiaram. Lembramos também o apoio de voluntários, empresas e pessoas que chegaram em boa hora, inclusive Acadêmicos. Tudo foi pago em dia. As prestações de contas já feitas, algumas aprovadas com elogio, e um razoável saldo em caixa.

Os quadros históricos e peças coloniais que pertenciam ao Palácio estão restaurados, alguns antes de nós. Outros quadros e peças novas foram doados por terceiros, conforme plaquetes ao lado deles. Tudo isto foi feito, embora com sacrifício, sem se deixar de cumprir nenhuma das atividades culturais tradicionais da instituição e, havendo sido muitas outras acrescentadas, conforme relatório cultural 2013/2017, enviado aos Acadêmicos.

Agradeço as instituições culturais congêneres, tanto as mais antigas como as mais novas, que muito nos ajudaram, aos arquitetos e engenheiros que nos orientaram, pois tudo aqui foi feito profissionalmente. Agradeço ao Olímpio Rocha, administrador dos projetos da ACL junto aos órgãos oficiais e especialmente agradeço aos nossos diletos funcionários, que se desdobraram por todos esses quatro anos, sem medir esforços, para atingirmos cada etapa dos objetivos previstos. Agradeço infinitamente a minha esposa Bernadete e a minha família, pois vocês são o alfa e o ômega na minha existência.

Finalmente, podemos entender que estamos no instante da chegada, mas também no da partida. Até este ponto, do alto daquele convés, podíamos olhar para trás, mas agora precisamos vislumbrar o adiante. Ao nos virarmos para observar, sentimos a brisa batendo nas costas e compreendemos que o mesmo vento que nos empurrou até aqui, continua a soprar, inexoravelmente, para frente.

Ao lado deste famoso painel de Raimundo Cela, em que pintou a liberdade e o amor, posso ver a nova Diretoria da ACL, novamente escolhida por unanimidade, liderada pelo insigne Confrade Ubiratan Aguiar, um poeta, advogado e homem público, que saindo da cidade de Cedro, em nosso interior, chegou aos mais altos cargos no Brasil, por seus próprios méritos. Um verdadeiro líder, muito respeitado nos mais longínquos recantos do país, tem como forte colaboradora, a primeira mulher Vice-Presidente da ACL, gestora e literata completa, Angela Gutiérrez, e toda uma diretoria carinhosamente escolhida para essa viagem no tempo. Não esquecendo de registrar que ao lado de um grande Presidente tem sempre uma grande Primeira Dama e aqui não sendo diferente, devemos dar relevo a sua querida e carismática esposa, Terezita Aguiar.

Por entre as brumas dos tempos que entreolhamos, vimos, mesmo dentro do navio, as pegadas dos que já passaram e os pés dos que estão passando, mas não conseguimos ver as marcas dos que irão passar.

Estes caminhos, os que assumem, terão eles mesmos de construir. Estarão em locais e situações que hoje só podemos visitar em nossas imaginações.

Porém, o olhar do adeus é o mais compenetrado. Ainda vê no passado as nossas pegadas e no presente os nossos pés, mas no futuro vislumbra os nossos sonhos e sabe que se não os abandonarmos, eles nunca nos abandonarão.

Queridos confrades novos dirigentes, é uma honra passar a administração da ACL as suas mãos. Contem sempre conosco, boa sorte e que Deus os abençoe!

Obrigado.


José Augusto Bezerra/Fevereiro 2017.

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