HONRA AO MÉRITO
DA
ACADEMIA CEARENSE
DE
ODONTOLOGIA*
Vianney Mesquita**
A Odontologia é um mister a exigir do seu oficiante o senso técnico de um artista, a
destreza de um cirurgião, os conhecimentos científicos de um médico e a
paciência de um monge. (São Pio XII).
A
Escolástica, linha do pensamento cristão da Idade Média, sugere a quem for
estabelecer contato com um circunstante, para cuidar de qualquer assunto, a
ideia configurada no dístico “Sê breve para ser agradável” (Esto brevis et placebis).
Como,
porém ser rápido, atendendo a este juízo da Filosofia medieva, se outro valor mais alto se alevanta? (L.V
de Camões, n’Os Lusíadas).
Sucede-me,
pois, agora um dos incontáveis instantes especiais da vida, diuturnamente
repetidos, que me oferece as delícias da felicidade, pois, talvez até sem
corresponder em merecimentos, sou uma pessoa sobejamente feliz, em todos os
aspectos da existência.
Por
tal pretexto, nova ária componho, celebrando a vida, na ocasião em que, pela
inexcedível benevolência dos imortais dessa Academia, recebo, juntamente com o
Presidente da Academia Cearense de Medicina, meu amigo – Prof. Dr. Aprígio
Mendes Filho (UFC-óbito em 11.01.2016) – o diploma de Honra ao Mérito deste
Silogeu.
Ramalho
longínquo daquela sociedade onde Platão
prelecionava, nos jardins de Academo
(rei lendário da Ática), esta umbela seleta abriga doutos mestres cearenses da
Odontologia, Ciência cujas origens mais remotas são iluminadas apenas por
suposições de pesquisadores. Reúne, então, o que há mais de expressivo em
matéria de representação de suas cátedras, para dar como regalo ao Ceará uma
sociedade científica mais viva, atuante, moderna, em dia com o estado d’arte da
atividade, e que se estende à comunidade, a fim de serem cultivadas e
cultuadas, também, as manifestações das coisas do espírito.
A
Academia Cearense de Odontologia
ostenta-se, com raro sucesso nos resultados, como instituição plural,
privilegiando a Ciência, a Tecnologia, as Artes e a Cultura de modo geral.
Sendo
assim, é lícito proclamar para todos os quadrantes da Terra o fato de que esta
Casa constitui, das do seu gênero, a maior operadora em nosso meio, o que já a
fez ultrapassar os umbrais do Ceará e do Brasil.
Sem
pretender importunar a assistência, nem ralar a paciência dos confrades e
confreiras deste Sodalício, tampouco desobedecer à Ordem de Santo Tomás de Aquino e Guilherme de Occam, não será ocioso, para informação
aos leigos e memento dos facultativos, delinear a larga seara onde mourejam os
profissionais da Ciência do médico francês Pierre
de Fauchard.
Ao
campo odontológico pertencem os dentes, sua articulação e os aparelhos que os
sustêm; a mucosa da cavidade bucal; lábios e partes salientes da face; a língua
e o assoalho da boca; os palatos duro e mole, os maxilares e as mandíbulas; os
músculos da mastigação e articulação de têmporas e mandíbulas; as glândulas
salivares; a fluidez sanguínea e a drenagem linfática.
Não
se há de esquecer de que todas as relações das mencionadas partes com o
restante do organismo também se compreendem no âmbito da Odontologia. Consoante
ocorre, ainda, com as estruturas limítrofes da boca, seios maxilares como os de
todas as cavas humanas, é a boca a mais suscetiva a traumas e infecções, sendo
sede frequente da manifestação de muitas doenças.
Por
esta razão, as universidades e centros de ensino e pesquisa da Dentística
procuram, como fazem os cursos de Odontologia das Universidades Federal do
Ceará, e de Fortaleza – UNIFOR, fornecer ao estudante, ao profissional e ao
professor uma compreensão adequada do organismo humano, com o emprego da qual
estes poderão colaborar com os demais agentes científicos da saúde.
Evidentemente,
não se há de postergar a importância plástica da boca, sendo que os variados
aspectos da Ciência-Arte de Sá Roriz
são muito bem delineados por São Pio XII, conforme está na epígrafe, tudo isso,
digo, adicionado a uma compreensão holística do ser, do cliente como pessoa
humana, com problemas transpostos às moléstias orgânicas.
Em
decorrência de todo esse espectro de atuação do cirurgião-dentista, é que hoje
são objeto de risco e mofa as denominações antigamente conferidas aos
profissionais do Brasil e d’alhures.
Imaginemos,
hoje, uma Academia Cearense de Barbeiros,
Cabeleireiros, Sangradores e Dentistas... Proh pudor!
Seria
realmente risível!
Bem
mais do que barbeiros e sangradores, denominações ingênuas do empirismo da
Ciência Odontológica, temos, aqui na Casa, cientistas dos diversos sub-ramos
odontológicos (incluindo-se a implantodontia), doutos de seu ofício, ecléticos
do conhecimento global, homens e mulheres cultos, com alçado padrão de preparo
intelectual também noutras esferas do saber.
Comprovam
esta prontidão espiritual seus invejáveis curricula-vitae,
haja vista a atuação vigorosa de cada qual, na perseguição do conhecimento, por
meio de cursos, seminários, congressos, conferências e assemelhados.
Testemunha
esta grandeza o vigor da Academia, traduzido no seu patrimônio físico e
intelectivo, com maciça comparência a cada evento – seja ele ligado direta ou
indiretamente à Ciência Odontológica – na excepcional Revista que edita, na
biblioteca, museu, casa de artes, nas múltiplas promoções do seu Núcleo
Feminino, nos natais, festas de Páscoa, nos cursos de pós-graduação que
oferece, nas iniciações de acadêmicos e nas multivariadas ações institucionais.
Muito
me comprazo, pois, com fazer referência ao bom número de colegas professores e
amigos da Universidade Federal do Ceará, componentes desta Academia Científica,
adiante dos quais, por motivo de gênero, menciono a minha mais ilustrada
conterrânea, de Palmácia, a Professora Doutora Maria Grasiela Teixeira Barroso, gente da mais alta estima e ab imo corde.
Seguem-se
os professores-doutores José Dilson
Vasconcelos de Menezes, José Mário Mendes Mamede, Manuel Perboyre Gomes
Castelo, Aldo Frota Nogueira, Flávio Prata Crisóstomo, Haroldo Beltrão, Augusto
Mota Borges Filho e outros, os quais – malgrado não privar estreitamente de
suas amizades – conheço seus perfis humanos e acadêmicos, seja por meio de
funções que desempenhei da U.F.C. ou os acompanhando pela leitura da Revista da
A. C. O.
Os
demais árcades, que não abraçaram o sacerdócio pedagógico, são todos grados
partícipes da sociedade fortalezense pela missão que exercem de minimizar, com
o máximo de competência e visão holística, os problemas bucais e periféricos em
uma terra de edêntulos, conforme é o Ceará, cientes de que fazer cessar a dor
corporal e espiritual é trabalho de Deus, que nos quer à Sua imagem e
semelhança.
Exprime
uma sentença corrente: Àquele que julga
com amor ocorre de enxergar um corvo branco. Talvez tenha sucedido com o
Dr. Dilson Menezes, ao me saudar nesta solenidade, pois carregou um pouco nas
tintas do sentimento.
Recebo,
pois, humilde, do mais recôndito da alma, a dignidade que a Academia Cearense
de Odontologia me confere nesta oportunidade. Dela farei troféu.
Transformá-la-ei em lauros nobilis, aquele ramo de Dafne – a ninfa mitológica – que,
perseguida por Apolo, invocou a Terra, sua mãe, e foi por esta transmudada nos
louros da vitória.
Então,
invito a sabedoria de Lao-Tsé, para quem o
agradecimento é a memória do coração.
*In MESQUITA, Vianney. Fermento na Massa do Texto. Sobral:
Edições UVA, 2001, pp. 123-6. Texto, modificado e atualizado, de conferência
proferida em 13 de setembro de 1999, quando da recepção do Diploma de Honra ao
Mérito, conferido pela Academia Cearense de Odontologia, por sugestão do
presidente, na época, Prof. Dr.Francisco Wilson de Vasconcelos Dias (falecido).
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