O CENÁRIO PARA 2018
Arnaldo Santos*
A essência da democracia reside nos valores que a
consubstanciam. Dentre estes, merecem relevo as liberdades em sentido amplo,
para que a sociedade possa eleger, entre os cidadãos, suas lideranças políticas.
A estas caberá a nobilíssima responsabilidade de promover as transformações
econômico-sociais, ampliando o espectro participativo para construir uma nação,
com igualdade de oportunidades para todos e, especialmente na área do saber,
para as crianças. A democracia brasileira ainda não foi capaz de edificar os valores
derradeiros do pensamento aqui esposado.
Quando a sociedade brasileira, com luta, sangue, suor
e lágrimas, conquistou a utopia da redemocratização, legando ao Brasil a Constituição
de 1988, existia um “estoque” de homens públicos cuja trajetória política nos
fazia acreditar que para além das liberdades, direitos e garantias individuais,
cidadania política com eleições diretas em todos os níveis (que não é pouco), haveria
o exercício de uma ação político-republicana, ancorada em princípios
éticos. O desafio permanece.
Homens da estirpe de Leonel Brizola, Franco Montoro,
Tancredo Neves, Mário Covas, Ulisses Guimarães, Aureliano Chaves, Itamar Franco
e José Richa, para citar aqueles de maior visibilidade, compunham um ativo
político, moral e ético, que permitia a todos sonhar com um novo fazer
político, e esperar pela consolidação de uma Nação remoçada em seus valores e
livre da corrupção.
Decorridos quase 30 anos da redemocratização, esse
estoque de lideranças quase zerou, e o País não foi capaz de formar um novo estoque
político, com o mesmo padrão; ao contrário, salvo algumas honrosas exceções, e
poucas conquistas sociais, nosso principal ativo jurídico político é a operação
"lava jato". Menos mal.
Quando prospectamos o cenário para 2018, e examinamos
as personalidades políticas que se nos apresentam como opções, na disputa pela
Presidência da República, (Marina Silva - Geraldo Alckmim - Aécio Neves - José
Serra - Ciro Gomes - Lula - e o próprio Michel Temer), logo percebemos que, no
“stock”, embora numericamente igual, as qualidades pessoais e políticas não se
equivalem, conquanto se possa extrair desse universo outras qualidades, não necessariamente
virtuosas.
Em maiores ou menores latitude e longitude, os discursos por eles engendrados são assemelhados, previsíveis, e, de tão atrasados, passam longe dos reais interesses da sociedade. Muitos pertencem à fauna da velha política e sulcam mares jamais d'antes navegados pelo povo, em razão de suas águas serem revoltas e poluídas pelos interesses subalternos, aos quais a maioria deles, historicamente, de modo servil, sempre capitulou, e continua.
São velhos conhecidos de todos, desprovidos de
novas ideias capazes de enriquecer o debate em torno dos desafios que o País
terá que enfrentar, tanto do ponto de vista endógeno como exógeno. Muitos deles
já disputaram eleições para a Presidência da República, e não dizem nada fora
da caixa – digo, além do que as pesquisas inferem supostamente ser o que o povo
quer ouvir, pois assim orientam os “marqueteiros” (ou seriam marreteiros?)
Nessa
perspectiva, o pré-candidato Ciro Gomes revela-se como a exceção, pois é o
único, até aqui, a sair do seu quadrado, com uma postura agressiva, língua
sem bride (ao meu sentir, um grave erro), bem ao estilo “cabra da peste”, como
são os nordestinos.
Admirado e respeitado por essas bandas do País, tem
dificuldade em se fazer aceito em parte dos grandes centros urbanos de maior
densidade eleitoral, habitado pela elite econômica, de tradição mandonista, e
temerosa de que se eleja alguém que possa ameaçar seus privilégios de longa
duração. Os da grande mídia, em reconhecendo que Ciro Gomes é quem melhor
formula uma ideia para o Brasil, não o tolera, e a serviço do provincianismo elitista,
espera o momento certo para dar o bote e tirá-lo da disputa.
Um homem que se propõe a liderar o País, mais do que a
coragem para enfrentar seus adversários, e os desafios da disputa eleitoral, na
defesa dos seus ideais e dos valores que balizam sua conduta moral, ao longo da
vida pública, dizendo as verdades que a política malsã insiste em negar ao
cidadão, pode fazê-lo da maneira mais incisiva e dura, sem abdicar, entretanto,
da polidez e do respeito, não apenas para com aqueles aos quais tem de
enfrentar, no debate durante as várias fases da disputa, mas especialmente
sendo reverente com o cidadão.
Mais do que algum grau de formação intelectual,
experiência política, conduta ética e vocação para servir a Nação, impõe-se a
temperança necessária para se fazer ouvir e construir o maior ativo que um
homem público necessita – a confiança. O pré-candidato Ciro Gomes é o único que,
até o momento, se expressa frontalmente contra as medidas do atual governo, bem
como avesso ao establishment
econômico, que aplaudiu de pé a aprovação da PEC do teto dos gastos, e faz
pressão sobre o Congresso pela aprovação da reforma da previdência.
Ao contrário do que acentuam o Presidente Michel Temer
e seus ministros, com o apoio incondicional dos setores econômicos, Ciro Gomes – mesmo admitindo ser premente o estabelecimento de uma reforma, para evitar
problemas futuros na previdência, nas várias entrevistas e palestras realizadas
nos diversos fóruns pelo País, ao estilo "sou do Ceará" – chama o
Presidente de mentiroso e afirma que não existe défice na previdência. Quem
tem razão?
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