quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

ARTIGO - O Cenário Para 2018 (AS)


O CENÁRIO PARA 2018
Arnaldo Santos*



A essência da democracia reside nos valores que a consubstanciam. Dentre estes, merecem relevo as liberdades em sentido amplo, para que a sociedade possa eleger, entre os cidadãos, suas lideranças políticas. A estas caberá a nobilíssima responsabilidade de promover as transformações econômico-sociais, ampliando o espectro participativo para construir uma nação, com igualdade de oportunidades para todos e, especialmente na área do saber, para as crianças. A democracia brasileira ainda não foi capaz de edificar os valores derradeiros do pensamento aqui esposado.

Quando a sociedade brasileira, com luta, sangue, suor e lágrimas, conquistou a utopia da redemocratização, legando ao Brasil a Constituição de 1988, existia um “estoque” de homens públicos cuja trajetória política nos fazia acreditar que para além das liberdades, direitos e garantias individuais, cidadania política com eleições diretas em todos os níveis (que não é pouco), haveria o exercício de uma ação político-republicana, ancorada em princípios éticos. O desafio permanece.



Homens da estirpe de Leonel Brizola, Franco Montoro, Tancredo Neves, Mário Covas, Ulisses Guimarães, Aureliano Chaves, Itamar Franco e José Richa, para citar aqueles de maior visibilidade, compunham um ativo político, moral e ético, que permitia a todos sonhar com um novo fazer político, e esperar pela consolidação de uma Nação remoçada em seus valores e livre da corrupção.

Decorridos quase 30 anos da redemocratização, esse estoque de lideranças quase zerou, e o País não foi capaz de formar um novo estoque político, com o mesmo padrão; ao contrário, salvo algumas honrosas exceções, e poucas conquistas sociais, nosso principal ativo jurídico político é a operação "lava jato". Menos mal.


Quando prospectamos o cenário para 2018, e examinamos as personalidades políticas que se nos apresentam como opções, na disputa pela Presidência da República, (Marina Silva - Geraldo Alckmim - Aécio Neves - José Serra - Ciro Gomes - Lula - e o próprio Michel Temer), logo percebemos que, no “stock”, embora numericamente igual, as qualidades pessoais e políticas não se equivalem, conquanto se possa extrair desse universo outras qualidades, não necessariamente virtuosas.

Em maiores ou menores latitude e longitude, os discursos por eles engendrados são assemelhados, previsíveis, e, de tão atrasados, passam longe dos reais interesses da sociedade. Muitos pertencem à fauna da velha política e sulcam mares jamais d'antes navegados pelo povo, em razão de suas águas serem revoltas e poluídas pelos interesses subalternos, aos quais a maioria deles, historicamente, de modo servil, sempre capitulou, e continua.

São velhos conhecidos de todos, desprovidos de novas ideias capazes de enriquecer o debate em torno dos desafios que o País terá que enfrentar, tanto do ponto de vista endógeno como exógeno. Muitos deles já disputaram eleições para a Presidência da República, e não dizem nada fora da caixa – digo, além do que as pesquisas inferem supostamente ser o que o povo quer ouvir, pois assim orientam os “marqueteiros” (ou seriam marreteiros?)

Nessa perspectiva, o pré-candidato Ciro Gomes revela-se como a exceção, pois é o único, até aqui, a sair do seu quadrado, com uma postura agressiva, língua sem bride (ao meu sentir, um grave erro), bem ao estilo “cabra da peste”, como são os nordestinos.

Admirado e respeitado por essas bandas do País, tem dificuldade em se fazer aceito em parte dos grandes centros urbanos de maior densidade eleitoral, habitado pela elite econômica, de tradição mandonista, e temerosa de que se eleja alguém que possa ameaçar seus privilégios de longa duração. Os da grande mídia, em reconhecendo que Ciro Gomes é quem melhor formula uma ideia para o Brasil, não o tolera, e a serviço do provincianismo elitista, espera o momento certo para dar o bote e tirá-lo da disputa. 

Um homem que se propõe a liderar o País, mais do que a coragem para enfrentar seus adversários, e os desafios da disputa eleitoral, na defesa dos seus ideais e dos valores que balizam sua conduta moral, ao longo da vida pública, dizendo as verdades que a política malsã insiste em negar ao cidadão, pode fazê-lo da maneira mais incisiva e dura, sem abdicar, entretanto, da polidez e do respeito, não apenas para com aqueles aos quais tem de enfrentar, no debate durante as várias fases da disputa, mas especialmente sendo reverente com o cidadão.

Mais do que algum grau de formação intelectual, experiência política, conduta ética e vocação para servir a Nação, impõe-se a temperança necessária para se fazer ouvir e construir o maior ativo que um homem público necessita – a confiança. O pré-candidato Ciro Gomes é o único que, até o momento, se expressa frontalmente contra as medidas do atual governo, bem como avesso ao establishment econômico, que aplaudiu de pé a aprovação da PEC do teto dos gastos, e faz pressão sobre o Congresso pela aprovação da reforma da previdência.

Ao contrário do que acentuam o Presidente Michel Temer e seus ministros, com o apoio incondicional dos setores econômicos, Ciro Gomes  mesmo admitindo ser premente o estabelecimento de uma reforma, para evitar problemas futuros na previdência, nas várias entrevistas e palestras realizadas nos diversos fóruns pelo País, ao estilo "sou do Ceará"  chama o Presidente de mentiroso e afirma que não existe défice na previdência. Quem tem razão?


Nenhum comentário:

Postar um comentário