“LEMBRA-TE, HOMEM,
QUE ÉS PÓ”...
(Leitura para
Quarta-Feira de Cinzas)
Vianney Mesquita*
O fraco teme a morte; o infeliz a chama; o
temerário a provoca; e o sensato a espera. (BENJAMIN FRANKLIN).
É
hoje um dia de igreja católica lotada, muitas vezes até por pessoas que a
frequentam somente nesta data, quer por superstição, arrependimento pelos seus
transportes durante o carnaval, ou mesmo as duas razões combinadas. Infelizmente,
entretanto, é ressaltado o primeiro pretexto, manifesto na crendice, retratado
na superstição e no fanatismo religioso.
Oportuna,
porém, é a ideia de todos evocarem a leitura na Bíblia em Língua Portuguesa,
onde está expressa, em Gênesis, 3:19, a divisa Lembra-te, homem, que és pó e em poeira te tornarás, quando o
Criador, perpetrada a falta original, expulsou Adão do Paraíso,
prescrevendo-lhe intensos trabalhos, rematados com a morte, ocasião em que o
corpo – a carne – de nada mais aproveitará.
De
modo diverso do ocorrente no lado oriental, a cultura do Ocidente nos infundiu
a ideia de que o fim pela morte é algo terrível, embaraçoso, porquanto está
disposta nos limites do impossível a admissão da nossa finitude, do termo
definitivo da vida, de modo a persistirmos no raciocínio irreal e ilusório de
que não se efetivará a condução da alma para a Outra Dimensão, pois a
existência terrena seria sem fim.
Eis,
entretanto, que balança esta “convicção”, absolutamente equivocada, ao menos
uma vez por ano e no primeiro dia da Quaresma, coincidente com a Quarta-Feira
de Cinzas. É quando, pois, o sacerdote da Igreja de Roma – cruzando na testa de
cada um as cinzas remanescentes das palhas do Domingo de Ramos imediatamente
anterior - representa Deus a nos alertar para o fato de que a Humanidade é pó e
à poeira retornará em definitivo como matéria.
Então,
ao modo como a Igreja procedia antes do Concílio Vaticano II, é substituída a
frase latina Memento, homo, quia pulvis,
es et in pulverem reverteris, igual a “Lembra-te, homem, que és pó em pó te
tornarás”, podendo o celebrante dizer, alternativamente: “Arrependei-vos e
crede no Evangelho”.
Esta
verdade é terminante e vale para a Humanidade inteira, esteja a pessoa na
velhice, quando madura, na condição de preferencial
– como é da moda – com vigor na saúde e gozando de bem-estar socioeconômico, na
doença e indigência, e, em particular, na juventude ou como adulta nova, em
qualquer estado, se impõe que todos se deem conta de que “o reino do céu está
perto”, sendo crucial que preparemos o caminho do Senhor, endireitando nossas
veredas, à maneira como expresso por João Batista, a voz que clamou no deserto.
Então,
no dia inaugural da Quaresma, examinemos a consciência e intentemos remover os
habituais excessos, apagar as rixas com o próximo, viver mais a Palavra, ao
procurar a indicação divina, a fim de que seja delineada a correção dos rumos,
sem simuladas carolices nem devoções aparentes, vedadas as manifestações de
atitudes, limitadas ao âmbito do edifício da igreja, porém com eficácia em todo
lugar e a qualquer tempo.
De
tal maneira, experimentemos a chance de atualizar nossa Contabilidade para
demonstrá-la em balanço perfeito aos órgãos
de controle do Alto, com vistas a deixar nossos registros sempre limpos e
nossa ficha sem rasuras nem lacunas que se façam obstáculos impeditivos do
nosso intento de salvação.
Assim,
completando a reticência do título, está em Gênesis, 3:19, a importantíssima
divisa latina Memento, homo, quia pulvis
es et in pulverem reverteris, convidando-nos a evocar a noção de que, na
qualidade de corpo, somos cinzas, aquelas cruzadas hoje na testa de cada um.
COMENTÁRIOS:
“Lembra-te,
homem, que és pó e em poeira te tornarás", a esta determinação da
existência, prenunciando a pós, o grande Vianney trata com clareza,
inteligência, precisão e clareza sobre a imensa ou curta espera... Bom, muito
bom, cristalinas palavras...”
Edmar Ribeiro
Ao discorrer sobre tão inusitado assunto,
Prof. Vianney nos remete aos primórdios da Igreja primitiva quando nasceu a
tradição de impor as cinzas nas pessoas.
Àquela época se colocavam cinzas,
"cinis" em latim, na cabeça e se apresentavam ante a comunidade com
um hábito penitencial, para receber o Sacramento da Reconciliação na
Quinta-feira Santa.
A cinza é um símbolo e sua função dá um
sentido de morte, expiração, mas também de humildade e penitência. O texto,
como sempre, é de uma excelente clareza.
Antônio Custódio Matos
"Lembra-te, homem, que és pó e em poeira te tornarás", a esta determinação da existência, prenunciando a pós, o grande Vianney trata com clareza, inteligência, precisão e clareza sobre a imensa ou curta espera... Bom, muito bom, cristalinas palavras....
ResponderExcluirEdmar Ribeiro
Ao discorrer sobre tão inusitado assunto, Prof. Vianney nos remete aos primórdios da Igreja primitiva quando nasceu a tradição de impor as cinzas nas pessoas. Àquela época se colocava cinzas, "cinis" em latim, na cabeça e se apresentavam ante a comunidade com um hábito penitencial, para receber o Sacramento da Reconciliação na Quinta-feira Santa.
ResponderExcluirA cinza é um símbolo e sua função dá um sentido de morte, expiração, mas também de humildade e penitência.
O texto, como sempre, é de uma excelente clareza.
Antônio Custódio Matos